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Relato da oficina de cozinha no CAC

Prezada(o)s amiga(o)s,
Encaminhando a parte final do relato de Bibi Cintrão:
“Cardápio realizado
A proposta da oficina é utilizar a criatividade e não seguir receitas à risca, mas adaptá-las conforme os ingredientes disponíveis. Denise observou que esta substituição já faz parte de nossa cultura alimentar, pois quando os portugueses e os escravos africanos chegaram ao Brasil eles trouxeram plantas e temperos que existiam nos seus continentes de origem, mas buscaram também adaptar suas receitas aos ingredientes que existiam aqui, em interação com as culturas indígena, pois naquele tempo não era possível transportar alimentos em grande escala e grandes distâncias, como acontece atualmente. Hoje se pode trazer alimentos de qualquer parte do mundo, mas isso tem conseqüências negativas para o meio ambiente, pelo alto custo de energia para o seu transporte. E para transportar a longas distâncias os alimentos já não chegam frescos e precisam normalmente de conservantes e produtos químicos, que não são bons para a saúde.

Após voltarmos da visita e colheita na área do CAC decidimos coletivamente o que seria feito. O feijão preto havia sido deixado de molho por várias horas e a água descartada, o que o torna mais leve para quem tem problemas com a digestão do feijão
Dentro do princípio dos “3 Rs”buscamos aproveitar todas as partes dos alimentos. Com as cascas e partes não utilizadas foi feito um Caldo de legumes. A elaboração de caldos para dar mais sabor aos alimentos fazia parte da cultura de nossos avós e foi substituída pelos caldos industrializados (como o caldo Knorr), que são cheios de aditivos químicos e devem ser evitados. Os caldos podem ser facilmente feitos em casa e aproveitam partes que iriam ser jogadas fora: peles e ossos das carnes, partes dos peixes não utilizadas e também partes de legumes. Denise explicou que nos caldos de legumes é importante colocar alguma gordura ou óleo na água, pois é nelas que se concentram os sabores.
O arroz foi cozido no caldo de legumes. Na receita da torta de aipim o leite foi substituído pelo caldo de legumes. Decidiu-se fazer dois recheios para a torta: um com abóbora e outro com um refogado feito de todas as folhas colhidas no CAC. Em ambos foram colocados vários temperos e também um pouco de queijo canastra de leite cru (comprado através da Rede Ecológica) ralado, para dar um sabor especial.
O maxixe foi cortado em rodelas finas e servido como salada, uma com broto de bambu trazido pela produtora Leodicéia e outra com tomate. Elas também trouxeram um guacamole, receita feita com abacate salgado (ver mais abaixo. Embora no Brasil a gente praticamente só consuma abacate doce, há muitas opções saborosas de consumi-lo salgado. Foi feita ainda uma batata doce caramelada com cebola no próprio açúcar. Com as sementes da abóbora Juliana fez uma deliciosa farofa, torrando os grãos na frigideira e batendo no liquidificador para virar uma farinha.
Os participantes da oficina se dividiram espontaneamente em grupos e todo mundo ajudou a produzir o almoço, numa ação auto-gestionada onde todos foram responsáveis por tudo, incluindo a limpeza do espaço. Tudo funcionou muito bem, num clima harmonioso e de muita colaboração.
Foi feito um delicioso almoço, que por sugestão da Lucimar (do CAC) foi servido no quintal, à sombra das mangueiras. Para refrescar uma limonada suíça e como sobremesa, além das carambolas docinhas do quintal do CAC e de cana-de-açúcar cortadinha, havia os doces de frutas, cristalizadas e em compota, trazidos pelas produtoras Juliana e Leodicéia.
Aproveitamento do lixo orgânico.
Durante a oficina, o lixo orgânico foi colocado numa lata separada. Quase todas as partes dos alimentos foram aproveitadas e a maior parte do que foi ao final para o “lixo” estava no caldo de legumes, que após fervido e peneirado reduziu muito o volume. Como o CAC tem quintal, e o lixo orgânico era pouco, uma boa solução foi enterrá-lo: escolhemos um canto de terra não cultivado, cavamos com a enxada um buraco um pouco maior do que o volume de lixo a ser enterrado, deixando a terra amontoada ao lado do buraco. O lixo foi jogado no buraco, foi picado com a própria enxada e misturado com metade da terra que estava amontoada ao lado. O segredo é misturar bem o lixo com a terra, pois assim as minhocas (e outros bichinhos) têm mais facilidade de “comê-lo”, transformando-o em adubo. Depois de bem misturado, foi coberto com o restante da terra e por cima foram colocadas folhas secas. E pronto! Em cerca de 15 dias já têm-se ali um humus que pode ser utilizado para adubar plantas.
Ao final de tudo, o lixo que sobrou era muito pouco! Não utilizamos nada descartável e o lixo se resumiu a poucos plásticos e embalagens vazias, que couberam numa sacola plástica comum (dessas de supermercado).

Conversa Final
Após o almoço foi feita uma roda e cada pessoa se apresentou, falou de onde era e o que a havia motivado a estar ali e fez uma pequena avaliação da oficina. O tempo foi pouco e não foi possível fazer uma troca e socialização de cada receita, mas foi uma conversa importante para nos conhecermos e entendermos melhor a proposta do programa Campo-Cidade dando as mãos, que foi exposto por Miriam e por vários dos presentes. Uma das coisas que as pessoas mais gostaram foi o reconhecimento das plantas que haviam no quintal como “mato” e que eram comestíveis.
Terminamos com um abraço coletivo e ficou uma proposta de fazer uma nova oficina no CAC, voltada para alunos e mães/pais, além das atividades já programadas anteriormente: uma oficina de cozinha voltada para pessoas vinculadas à Rede Fitovida e uma no meio do curso de formação de grupos de consumo.

Participantes da Oficina
.1 Adriana Camargo de Melo – S.João do Meriti
.2 Alexandre Lazzari – Grajaú
.3 Ana C.Galizia – Santa Teresa
.4 Anele Rodrigues
.5 Bibi Cintrâo – Santa Teresa
.6 Denise Gonçalves – Itaipava
.7 Elizabeth Bessa de Matos – Vila Isabel
.8 Irma Maria Ferreira – Campo Grande
.9 Ítalo de Albuquerque – S.João do Meriti
.10 Jorge Saldanha – Belford Roxo
.11 Juliana Medeiros – Magé
.12 Leandro Consentino – Niterói
.13 Leodiceia Luna Sales – Magé
.14 Ligia Bensadon – Niterói
.15 Lucimar dos Santos Bastos – S.João do Meriti
.16 Mariana Silva
.17 Miriam Langenbach – Urca
.18 Rosemary Gomes – Grajaú
.19 Rosileda Saldanha Belford Roxo
.21 Sandra – S.João do Meriti
.22 Suzana Nascimento – N,Iguaçu
.23 Valdineia Marques dos Santos – Belford Roxo