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Relato da 2a. Oficina de Cozinha (1a. Parte)

Ana Santos (CEM) e Bibi Cintrão (Santa) prepararam o Relato da 2a Oficina de Cozinha, realizada em 19/03/2017, das 10 às 16:00, no Centro de Atividades Comunitárias (CAC) – São João de Meriti

“Responsáveis pela oficina (Comissão de Culinária da Rede Ecológica): Irma Ferreira, Ana Santos, Beth Bessa, Bibi Cintrão, e Milca Colombo.

Atividades propostas e realizadas:
1- Visita Guiada ao Quintal do CAC:
A Oficina iniciou com uma aula passeio pelo Quintal do CAC, que tinha como objetivo a identificação dos matos e a utilidade das espécies encontradas, tendo em vista fazer uma catalogação das plantas e também uma colheita para o almoço.

A visita foi guiada pela agricultora Irma, identificando os matos de comer (também chamado por PANCS-Plantas Alimentícias Não Convencionais) e as ervas medicinais, que em sua maioria nasceram de maneira espontânea.

Chuviscava um pouco, mas ninguém desgarrava daquele quintal rico em diversidade, muitas árvores frutíferas e carregado de carinho, com cada exemplo de vivências com crianças naquele espaço relatadas por Lucimar (voluntária e mãe de aluno do CAC) e a Profa. Késia (do CAC).

Nesta aula passeio foi possível identificar espécies vegetais, descobrir nomenclaturas diferentes e distintas formas de fazer uso de uma única planta. (ver mais abaixo a lista das plantas). Jorge (Rede Fitovida de plantas medicinais) e outras pessoas presentes trouxeram também informações sobre as plantas.

Este olhar permite vermos com outros olhos os “matos” e perceber que há plantas que são mais resistentes e mais adaptadas a cada ambiente. Muitas das verduras e legumes que consumimos foram trazidos de países ou regiões com climas mais frios e foram modificadas geneticamente para responderem a adubos químicos, irrigação e uso de agrotóxicos, sendo difíceis de serem produzidas aqui na Baixada Fluminense, por exemplo. Conhecer as plantas mais adaptadas à nossa região ajuda a termos uma dieta que contribui para uma agricultura mais equilibrada e com menos insumos químicos. E adaptar as receitas permite achar maneiras e utilizar estas plantas.

Diogo e Joice filmaram as plantas e depoimentos sobre seus usos.

2 – Voltando à sala do CAC, ao lado da cozinha, foi feita uma apresentação circular dos participantes, do CAC e do Programa Campo e Cidade. Foi servido um pequeno lanche, com café e aipim cozido servido na folha de bananeira trazida pela Ana. Foi feita uma conversa sobre os objetivos da Oficina e sobre a importância dos alimentos, de cozinhar e evitar o uso de alimentos processados industrialmente.

3 – Definição do Cardápio, preparo dos alimentos e almoço (tudo feito coletivamente):

O cardápio foi montado nesse mesmo momento. Foram montados pequenos grupos para o preparo dos alimentos. Todo o processo foi coletivo e em formato de oficinas.

Cardápio: Arroz cateto integral e feijão preto, farofa viva, torta de aipim com jaca e chaia, folha de quiabo refogada, mamão de vez refogado, salada viva

A jaca verde foi a nossa carne, muito proteica e com muito ferro. A jaca, apesar de não ser nativa do Brasil, se adaptou muito bem ao clima da nossa região e é muito encontrada na região metropolitana do Rio de Janeiro, em florestas e nos quintais. É preparada a partir da fruta verde e tem uma textura parecida com um frango desfiado. Não lembra em nada o gosto e o cheiro da jaca madura.O sabor é muito suave e ela pega bem o tempero. Pode substituir qualquer receita que leve frango desfiado (salpicão, escondidinho, fricassê, recheios de tortas, risoto, coxinha, pastel).

A proposta inicial era de fazer um escondidinho de batata doce com carne de jaca, mas como ficou tarde e teríamos que cozinhar e espremer as batatas, optamos pela torta de aipim (de liquidificador), já elaborada na primeira oficina, mas agora com recheio de carne de jaca e chaia (trazidas pela Ana). Na 1a Oficina o recheio utilizou uma mistura das folhas de matos comestíveis colhidos no quintal do CAC.

O aipim e a batata doce dão o ano quase que todo e são bastante produzidos pelos produtores da Baixada fluminense, sendo adaptados ao clima regional, assim como o inhame. Por isso é importante achar maneiras de utilizar essas raízes com mais frequência, substituindo a batatinha inglesa, que é originária de regiões altas e frias (dos Andes) e pouco adaptada à nossa região, por isso mais difícil de produzir de maneira agroecológica/ orgânica.

Como estava chovendo, o almoço foi servido na mesma sala onde foi preparado. Antes de comer, foram apresentados os pratos produzidos coletivamente, nomeando os ingredientes que os compunham. Uma diversidade de sabor, aromas e texturas. A alimentação viva (utilizando produtos crus – não cozidos) estava muito presente com a Irma. E não deixamos de preparar os produtos mais típicos do prato brasileiro: arroz e feijão, feitos pela Beth e Milca. O trigo (pouco adaptado ao nosso clima) não fez parte do nosso cardápio.

Assim como na 1a. Oficina, seguimos o princípio dos 3 Rs (três erres): Reduzir, Reaproveitar e Reciclar, com ênfase na Redução do Desperdício: não utilizamos materiais descartáveis e todas as cascas, talos e folhas amareladas foram utilizadas para fazer um caldo de legumes, que deu mais sabor ao arroz, ao feijão e foi utilizado substituindo o leite na torta de aipim.

Ao final, partilhamos os alimentos que sobraram da refeição. Bibi trouxe potinhos (de reaproveitamento) pra partilhar. O lixo orgânico foi separado para ser enterrado no quintal do CAC pela Luzimar, numa atividade conjunta com as crianças da escola.

Conversas, dicas e trocas foram presentes ao longo de todo o dia.”

… continua na próxima carta…..