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As entregas do Terra Prometida agora serão quinzenais

Transmitimos a mensagem de Cosme, liderança do assentamento Terra prometida, que muito lucidamente nos coloca ao par das dificuldades e desafios. Em função da baixa demanda nossa e da falta de variedade de produtos deles, o Terra prometida por um tempo vai passar a fazer entregas quinzenais.
Em próxima carta estaremos sintetizando as reflexões e sugestões que surgiram.
“Boa noite, quem escreve é o Cosme.

Bom, como observaram não enviamos lista de produtos disponíveis para esta semana.
Motivo: Como havia já exposto em outro momento, as nossas entregas não se sustentam se o valor da compra for muito baixo. Sei que não é culpa da Rede, pois compete a nós, disponibilizar uma diversidade de produtos.
O nosso forte de produção é o aipim.
A nossa realidade por aqui está cada vez mais desanimadora do ponto de vista produtivo.
Uma de nossas cooperadas, que tinha uma diversidade e possibilitava a disponibilidade polpas de frutas, “Dona Silvia”, por já possuir as terras a mais de 30 anos e assim ter muitas arvores frutíferas plantadas. Depois da morte de seu marido, fez areal no seu lote e no momento está produzindo muito pouco e não prioriza mais produzir. Como todos sabem, extração de areia dá mais dinheiro que agricultura, “em média 30 mil por semana” para o proprietário das terras.
A situação de abandono do poder público que vivemos nesta região desde que viemos para cá, já foram 10 anos, é a mesma de outros agricultores que viviam aqui a muito mais tempo que nós. Não podemos culpar Dona Silvia por nada, e muito menos os consumidores da Rede por terem interesses em produtos agrícolas aos quais não temos condições estruturais “objetivas” de produzir.
Somos um assentamento de 10 anos totalmente precarizado em estruturas…
Nunca acessamos algum crédito para agricultura e nem se quer temos casas, estradas, instalação adequada e elétrica para viabilizar uma produção mais refinada exigente de infra estrutura básica.
O aipim é nosso forte na produção por exigir pouco investimento e ter uma procura grande na região devido a qualidade.Vendemos muito fora da realidade de preços deste produto no Brasil. No momento, os compradores vem aqui buscar o aipim, em volumes médios de 300 kg por dia ao preço de R$ 2,00 reais o Kg. Devido ao volume e ao zero custo de transporte, está um preço ótimo. O problema é que estes compradores aparecem em horários não combinado e exigem a colheita na hora que chegam, para assim, acabarem levando uma quantidade um pouco maior que o verdadeiro preço, “consideram um agrado”, e nós, não podemos sair e nem fazer nada que impossibilite a disponibilidade de colheita na hora que eles chegam.
Outro problema é que não existe compradores para absolver toda produção de aipim ao longo do ano.
É muita incerteza, hora temos uma venda diária de 1000 kg dia e no mínimo uns 300 kg dia. o Preço do kg na roça para esses atravessadores chega a bater R$ 2,80 o kg, mas, não menos que R$ 2,00 o kg.
E como somos uma região de agricultores envelhecidos, muitos já aposentados e os areais são uma perspectiva de emprego mais atraente que a agricultura e até mesmo a venda de drogas… produzir aipim aqui é uma atividade agrícola que consome somente 4 meses de trabalho em um processo de produção de 12 meses, os aposentados não tem o menor interesse de vender mais barato e produzir mais, e os mais jovens fazer outras atividades de complemento de renda ao longo do tempo…Em miúdos, não produzem mais para não baixar preço, e quem se propõe a produzir mais, não tem certeza da venda por que baixar o preço põe em dúvida ao atravessador quanto a qualidade do aipim… e todos estão inseguros quanto a qualquer momento vir a instalação do areal ao lado do seu lote inviabilizando a continuidade de agricultura.
Esta realidade, é repleta de muito mais elementos do que estou tentando relatar aqui.
Somos como muitos assentados no Brasil, que não tem certeza nenhuma de um futuro como camponeses, ainda mais no Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, onde os interesses dos grandes projetos de urbanização são mais fortes e poderosos que qualquer organização de camponeses. Mas em fim, desviei o assunto. São muitas angustias em tempos Temerosos.
Nós conversamos aqui e chegamos a conclusão que só é possível realizarmos entregas para a rede quando tivermos uma diversidade dentro de um possível interesse dos consumidores da Rede.
Com o Antunes realizando as entregas, conseguimos se bancar com as compras na média de ao menos R$500,00 reais.
Quando realizamos a venda para a Rede, funcionamos da seguinte maneira:
60 % pagamento de produtos e 40 % custos para funcionar. Exemplo: 4 semanas de entrega, realiza o valor de R$ 2000,00. Deste, 60% = a R$ 1200,00 paga os produtos. 40 % = R$ 800,00… é para pagar R$ 400,00 ao Antunes (R$ 100,00 cada entrega), R$ 150,00 para internet, R$ 30,00 para telefone, R$ 220,00 é pagar alguém para descascar, embalar, pesar, e organiza a entrega… e ainda sobra um troquinho para a compra de uma caneta, folhas e pontualmente eventuais manutenção das estruturas…
Observe que não coloco aqui, custos que ao meu ver não podem ser desejo nosso ser pago com a venda na Rede, pois este mercado nem precisa disso, (EX, contador R$ 536,00 por mês, manutenção de computadores R$100,00, uma pessoa que possa organizar a lista para dispor os produtos e organizar os pagamentos aos cooperados ao menos uns R$ 500,00 mês… materiais de secretaria R$150,00, custos de registros e documentações da cooperativa R$ 1200, por ano… nem considero reuniões e espaços que acredito ser preciso a cooperativa estar presente para dar visibilidade aos invisíveis camponeses do rio de janeiro, são passagens e alimentação na rua, não dá para calcular, pois este que vai aos espaços, acaba por não ter tempo para produção diversificada…)
Em fim, desculpas por me alongar e chorar com vc´s mais problemas em meio a esta realidade caótica que está o nosso País.

Todos tem problemas…
Neste sentido, achamos melhor, se for possível, dispor nossos produtos em meio a nossa possibilidade de diversidade, sem compromisso de ser 15 em 15 dias.
Nosso compromisso será, se não mandamos a lista até segunda, é por que não faremos entrega. Assim nos igualamos aos consumidores da rede, que mesmo dispondo alguns produtos não temos certeza da venda.
Peço compreensão e estamos a disposição para seguir dialogando sobre esta nossa realidade.
Aproveito para fazer uma pergunta: a Rede tem fornecedor de farinha de banana e banana verde? vendemos banana verde em feiras para pessoas que fazem biomassa. e quanto a farinha de banana, podemos desidratar e moer para dispor este produto… não temos desidratador, mas se o potencial de venda for sólido, podemos fazer a compra de um a prazo, e com as vendas ele se paga.
Bem, acho que terminei a choradeira e peço mais uma vez desculpar por encher vc´s com mais problemas em meio a muitos que temos.

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