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O MST e a comida saudável

“MST terá papel de defesa da comida saudável”, afirma especialista
publicada quinta-feira, 23/01/2014 às 09:16 e atualizada quinta-feira, 23/01/2014 às 09:42

 

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Do Escrevinhador
O MST completa nesta semana 30 anos. Foram anos de enfrentamento com o latifúndio, organização de assentamentos de trabalhadores rurais e resistência ao controle da agricultura por empresas estrangeiras.
“O MST democratizou o acesso à terra, possibilitando que mais de 500 mil famílias fossem assentadas. E conseguiu isso através da luta pela terra. Nenhum governo fez o que o MST fez”, afirma o geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Mançano avalia que a resistência do MST representa uma vitória da democracia no Brasil. Para ele, o movimento cumprirá daqui pra frente o papel de produzir comida saudável.
A seguir, leia a entrevista de Mançano, um dos maiores estudiosos em questão agrária e movimentos sociais do campo, ao Blog Escrevinhador.
Quais as contribuições do MST para o Brasil nesses 30 anos?
A construção da democracia é uma delas, quanto mais durar o MST mais democracia teremos. Nestes 30 anos o MST democratizou o acesso à terra, possibilitando que mais de 500 mil famílias fossem assentadas. E conseguiu isso através da luta pela terra. Nenhum governo fez o que o MST fez. A ocupação terra é a principal forma de acesso à terra. A diminuição das ocupações significa a diminuição dos assentamentos. É o que acontece hoje. Mas para o MST aumentar o número de famílias nas ocupações, a renda da população assentada precisa melhorar.
O que representa na história do Brasil e da América Latina a resistência por três décadas de um movimento que organiza camponeses e trabalhadores rurais?
Representa a vitória da democracia. Os períodos de ditadura foram períodos de destruição do campesinato. O avanço do campesinato é um indicador de qualidade da democracia.
A diminuição do número de ocupações de terra diminui a importância política do MST no atual estágio de desenvolvimento da agricultura no país?
De forma alguma. Mas, o tempo das grandes ocupações passou. A luta agora é por terra e para viver melhor na terra. Os assentamentos precisam melhorar muito para que possa atrair mais família para a luta pela terra. O MST tem uma grande responsabilidade em apresentar um projeto de desenvolvimento do campesinato para o Brasil.
Como fazer a luta pela reforma agrária em um quadro de expansão territorial, econômica, política e ideológica do agronegócio?
É preciso mostrar para a sociedade as diferenças entre agronegócio e campesinato. O agronegócio procura evitar esta diferença, afirmando que a agricultura familiar é agronegócio. É preciso manter a diferença para que a sociedade entenda que o campesinato produz comida saudável enquanto o agronegócio produz comida contaminada, produz lixo. A reforma agrária tem que ser feita na perspectiva da agroecologia, com ordenamento territorial para proteção ambiental. Os limites do agronegócio está no que ele mais defende: a produção em grande escala.
Na sua avaliação, que papel o MST cumprirá no próximo período?
O papel da defesa da comida e contra as commodities. Cada vez mais a luta será por comida saudável. Este é o futuro do campesinato. A luta pela terra será indissociável da luta pela comida saudável