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relato sobre a oficina descomercialização do Instituto Kairós/Capina

Relatório I Oficina Práticas de Comercialização – Grupos de Consumo
Relato de Isis Leite e Julia Stadler

A Oficina Práticas de Comercialização para Grupos de Consumo foi promovida pelo
Instituto Kairos (http://institutokairos.net/) e pela Organização não Governamental
Capina (http://www.capina.org.br/) entre os dias 03 e 07 de abril d 2014, no Instituto
Assunção – Santa Teresa, Rio. Como representantes da Rede Ecológica participaram
desse processo de trocas de ideias e formação Julia Stadler, núcleo Santa Teresa e Isis Leite (Urca).

Primeiramente, cabe esclarecer que a Oficina em questão está inserida em
uma estratégia do Instituto Kairos de fortalecimento dos Grupos de Consumo do Brasil,
denominados Grupos de Consumo Responsável (GCR). Com financiamento federal, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), foram realizadas, nos últimos anos, várias Oficinas em diferentes regiões do país, voltadas para técnicos e gestores que atuam em Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) (http://www3.mte.gov.br/ecosolidaria/ecosolidaria_empreendimento.asp), sendo a Oficina ocorrida no Rio, uma edição específica, voltadas para os GCRs.

Antes desse momento ocorreram três outras importantes atividades: mapeamento do Perfil dos Grupos, em 2010; I Encontro Nacional dos GCRs, em 2011 com a participação de Miriam Langenbach para representar a Rede Ecológica; e, o II Encontro Nacional de GCRs, em 2013 com Julia Stadler e Aline Almeida do núcleo Santa Teresa.

Neste II encontro havia se formado a Rede Nacional de Grupos de Consumo Responsável com vários Grupos de Trabalho. Mas de alguma forma esta Rede nacional como tal ainda não tinha se materializado em ações concretas ou mostrado um perfil mais claro.
Estavam presentes 19 GCRs de todas as regiões do país. As atividades desenvolvidas
foram conduzidas metodologicamente pela equipe da Capina, tendo sido destaque os
A. Economia de Mercado de Economia Capitalista;
B. Estrutura dos grupos e “passo a passo” de um ciclo de pedidos – onde
foi utilizada como referência a estrutura de pedidos da Rede Guandu, de Piracicaba
C. Experiências internacionais de GCRs e comércio justo;
E. Certificação de orgânicos e acompanhamento da produção.

Além dos painéis os temas foram debatidos em trabalhos de grupo e contaram com
devolutiva de cada grupo ao conjunto dos participantes seguido de debates
Do painel Estrutura do GCR e ciclo de pedidos, seguiu-se uma livre troca de
ideias sobre preço justo e formação de preços justos no âmbito dos GCRs. Desse
momento, o principal destaque e aprendizado foi o conhecimento acerca dos
custos de funcionamento de uma Rede ou grupo de consumo, ou seja, além dos
custos da produção, que comumente ficam sob responsabilidade do produtor, é
preciso considerar, no momento da formação dos preços, os custos da própria
estrutura do GCR – dentre eles: logística, aluguel (quando houver), comunicação,
sistema operacional, remuneração por hora trabalhada, dentre outros. Ainda sobre
esse aspecto, cabe apontar que ao utilizar como referência para essa reflexão a
Rede Guandu de Piracicaba, evidenciou-se a grande diversidade de organização
e estrutura dos grupos presentes, cabendo destaque à Rede Ecológica, primeiro
pelo seu “tamanho” – em números de associados, produtores envolvidos e quantia
comercializada, o que exige uma logística eficaz e eficiente, e por sua forma de
organização, descentralizada em núcleos e contando com trabalho “militante” nos
mutirões.

Nesta oficina contamos com a presença de dois grupos relativamente
novos, o CSA São Carlos e CSA Bauru – Comunidade sustentada pela agricultura –
que são exemplos para uma proposta onde o associado investe num produtor e só
recebe produtos meses após o pagamento. Ou seja, uma logística e organização bem
diferente (com outros riscos e outros benefícios).

Vivência – Rede Ecológica
A oficina contou também com experiências de vivência de um GCR, tendo sido nesse
caso, utilizado como referência as práticas da Rede Ecológica. Primeiro Isis e Julia
apresentaram a Rede através do PPT, focando no cárater de movimento social antes
de ser um simples grupo de consumo. Foram apresentadas as campanhas da Rede, tal como a Xô Saco Plástico! Em seguida os participantes puderam acompanhar e
participar do ultimo mutirão de secos da Rede, ocorrido no dia 04 de abril, além de
visitar os núcleos de Santa Teresa e Urca em pequenos grupos. Um grupo de quatro,
uma integrante do grupo Siscos do MT, uma integrante da Recore de Limeira SP, um
integrante da Rede Moinho da Bahia e a Isabel Viegas da Rede Caiçara de Ubatuba que já tinha visitado a Rede (mutirão e os núcleos Botafogo e Humaitá) seguiram o convite da Julia de dormir na casa dela evisitar a Feira da Glória – o principal ponto de logística da Rede Ecológica, no dia 05 às 6 damanhã.

A vivência dos participantes no cotidiano e ações da Rede Ecológica despertaram muita curiosidade, sobretudo pelo trabalho“militante” envolvido, além de excelentes impressões. Ao retornar para o debate e troca de impressões todos os grupos avaliaram de forma muito positiva as ações desenvolvidas pela Rede – tanto no mutirão como nas visitas aos núcleos e feira, reforçando o aspecto de que esses espaços são imprescindíveis para a formação e envolvimento dos consumidores em uma perspectiva mais ampla, que vai além do consumo de alimentos orgânicos, abrangendo uma reflexão critica sobre os modelos de produção, o uso de agrotóxicos e o distanciamento entre produtores e consumidores. Além do estabelecimento de laços solidários entre a Rede Ecológica e os demais GCRs, foi possível verificar que a ação da Rede enquanto movimento social é uma estratégia acertada e “frutífera”, sendo o consumo responsável, uma importante ação, dentre tantas outras que a Rede participa e/ou realiza, que se fazem necessárias e que contribuem para uma maior criticidade e proposta de transformação do atual panorama.

O conjunto das atividades desenvolvidas ao longo da Oficina foi delineando uma
série de encaminhamentos e prioridades para atuação dos GCRs, tendo ganho
força a ideia da construção de uma Rede Nacional de Grupos de Consumo. Outro
encaminhamento de destaque foi a criação de dois Grupos de Trabalho (GT)
permanentes com temas de maior relevância para os grupos: o GT de logística e o
GT de produção. O primeiro terá como objetivo a troca cotidiana de experiências,
além do compartilhamento de possíveis soluções e parcerias – diante de possíveis
dificuldades – além de compartilhamento de soluções para alimentos e/ou produtos
estocados. O segundo terá como objetivo o compartilhamento de banco de dados com
as informações sobre produtores, associações e cooperativas já integradas aos grupos
Por último, Aline já no II encontro em SP no ano passado apresentou sistema de
pedidos online. Nesta oficina outros grupos mostraram interesse em usar este sistema
O grupo Consumo Consciente do ABC de São Bernardo do Campo está em contato
direto com elas, inclusive planejando uma visita à Rede Ecológica para o segundo semestre.
Morgane da Rede Guandú de Piracicaba está à frente de um projeto de pesquisa de
preços do produtos convencionais e orgânicos Brasil afora.

Depois do II encontro não estávamos com muitas expectativas para a Rede Nacional,
vendo que houve pouca interação dos grupos. Ao longo da oficina todos concordaram
que sentiram a Rede Nacional se materializando e vimos um processo muito positivo.
Acreditamos que a Rede Ecológica tem muito o que ensinar e muito o que aprender
neste processo e vai chegar mais perto ao seu objetivo de disseminação. O que no
primeiro momento pode aparecer como um trabalho a mais, de fato pode se tornar
rapidamente numa troca de benefícios. Com grupos parceiros no Brasil afora podemos
contar com mais presença do consumidor nas lavouras dos nossos produtores sem
precisar se deslocar. O banco de dados vai facilitar muito tanto para os grupos quanto
Além disso, acreditamos que como Rede maior teremos mais chances de reverter essa
negligencia do consumidor na política e na sociedade.”