a questão do prazo de validade do creme de leite e leite condensado ter se esgotado, e a doação de alguns destes produtos, levou a uma reflexão sobre a questão prazos de validade. Bibi Cintrão coloca algumas questões para refletirmos:
Acho que precisamos ter uma postura crítica em relação a jogar fora produtos com data de validade vencida.
É preciso entender melhor o que ela significa: ela é uma estimativa de que com certeza até aquela data o produto pode ser consumido sem preocupações. Em geral ela tem grande margem de segurança, porque quem fabricou não tem certeza sobre as condições de armazenamento.
Ela é importante porque dá uma ideia para o consumidor sobre até quando ele deveria consumir o produto, nos ajuda a planejar o uso de produtos guardados no armário, etc.
Mas de forma nenhuma quer dizer que, passando o prazo, o produto não pode ser consumido. Dependendo do produto e das condições de armazenamento ele pode durar muito mais do que o previsto na data de validade. A data de validade é uma data que eles garantem que, com certeza absoluta, independente inclusive do produto ser mal armazenado, ele estará em perfeitas condições de consumo.
O mel, por exemplo, se estiver bem coletado e armazenado pode durar dezenas de anos (já ouvi dizer que o mel pode durar 100 anos…) E a data de validade que exigem é bem pequena. Nos grãos eles também colocam uma validade pequena, talvez para garantir que não seja infestado por carunchos ou traças (não duvido que a data de validade seja a mesma do veneno que impede que estes bichinhos se desenvolvam…), mas se bem secos armazenados podem durar anos. Até como semente eles duram mais de um ano… (perdem um pouco o poder de germinação, mas alguns chegam a germinar com dois ou três anos…)
E como reconhecer se uma comida ainda está boa para ser consumida e se ela não estragou???
Se a comida estiver com boa aparência, bom cheiro e bom sabor (ou seja, cheiros e sabores normais) há enorme chance dela estar boa para o consumo. Então, em grande parte dos casos é olhar, cheirar e provar. Alguns produtos são mais perigosos (maionese, por exemplo, é um caso sério, mas mesmo assim em geral quem tem o paladar mais sensível percebe…)
O creme de leite está em embalagem UHT, que é esterilizada, se a caixinha não ficou em lugar muito quente tem grande chance dela durar ainda algum tempo. Quando ele estraga muda de cor, não é difícil de ver. Já fiquei com creme de leite em casa mais de 3 meses depois de vencido (coloquei na geladeira quando vi que o prazo estava vencendo). O leite condensado, então, é capaz de durar muito tempo sem dar problema… Além de estar em embalagem UHT, é super-doce e o açúcar em si é conservante…. Pode até perder propriedades nutricionais, mas para “estragar” demora…
Assim, não há razão para jogar fora. Acho que pode muito bem ser doado, avisando as pessoas que está com prazo de validade vencido e que é preciso, ao abrir, analisar bem para ter certeza que ainda está bom. Se alguém não quiser arriscar, não pega.
Nós temos todos os nossos 5 sentidos voltados para perceber se um alimento está ou não estragado, pois durante dezenas de milhares de anos não tínhamos “data de validade” nos alimentos. Só com a industrialização, há menos 100 anos, é que ela começou a ser colocada.
Estudando o material sobre educação do gosto do Slow Food fiquei muito surpresa de perceber a sofisticação dos nossos sentidos. Temos na língua uma enorme sensibilidade para o amargo, pois a maioria dos venenos são amargos… (em geral o gosto pelo amargo é socialmente adquirido, pois instintivamente tendemos a não gostar de coisas amargas…) Até a audição nos ajuda a distinguir um alimento bom para o consumo… Talvez por isso a gente goste tanto de coisas crocantes… (nos alimentos naturais, o crocante é indicador de frescor). Por isso, quanto mais educarmos nossos sentidos (e o das crianças) para reconhecer um alimento “gostoso”, mais saberemos distinguir alimentos “bons para o nosso corpo”. Se aprendemos a distinguir um alimento natural dum artificial, o primeiro quase sempre será mais gostoso, se for fresco…