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avaliação do III Ena

Estamos iniciando o repasse das avaliações e impressões de associadas da Rede Ecológica que estiveram no III ENA, e que compartilharão suas reflexões sobre este encontro, focando bastante a questão do consumo. Em carta anterior, foi passado um texto de Miriam Langenbach sobre a agroecologia e sua atenção ao consumo, no qual foi explicitado que este assunto, não merece ainda a devida atenção por parte do movimento agroecológico.

Denise Gonçalves (Itaipava) inicia a série:”Participar do ENA foi uma experiência muito impactante, saímos revigorados por tanta energia de luta e voltada para a construção de uma nova realidade. Diante de tudo o que foi apresentado e discutido, concordo com a reflexão da Miriam de que o foco da agroecologia ainda está concentrado em primeiro lugar na produção e depois na comercialização, fazendo parte desse ponto as questões de legislação sanitária. O consumo parece ainda ser uma questão tangencial, não foi tema específico de seminário ou debate no encontro. Além do seminário sobre normas sanitárias, participei da oficina do Fórum Brasileiro de Economia Solidária como integrante da delegação, e mais uma vez observei a pouca representatividade de consumidores. Já tinha observado isso poucos dias antes do evento num encontro nacional sobre comercialização solidária em Brasília: aí, dos representantes dos 140 empreendimentos selecionados, nem 5% eram consumidores.

No entanto o trabalho voltado para a conscientização do consumidor é chave, ele está na outra ponta da produção. Se não tivermos quem consuma os produtos agroecológicos eles vão desaparecer, ainda que a produção cresça, que se criem mais pontos de comercialização e que a legislação, espera-se, se torne uma dia mais tolerante e adaptada à escala da agricultura familiar. Além disso, diante de todas as dificuldades do contexto em que vivemos, onde a produção agroecológica tem que enfrentar um sistema bastante coeso – que envolve a grande indústria (de alimentos, de derivados do petróleo, de remédios, etc) sustentada pela legislação, pesquisa, formação profissional, educação, saúde, marketing, mídia, etc etc. – o consumidor é o único que tem o poder de criar um atalho no meio desse nó e simplesmente exercer seu direito de escolha. Mas para isso precisa ser informado, educado, conscientizado e incentivado a mudar seus hábitos para exercer o consumo com consciência e fazer sua parte na transição para a agroecologia.
Minha sugestão é que para o próximo encontro a Rede Ecológica se articule com outros grupos de compra coletiva e proponha a abordagem do tema do consumo consciente.”

Ligia Besandon, também presente ao III ENA, dá continuidade:”Realmente ainda faltam alguns passos para que as pessoas se vejam como consumidores críticos, mesmo os produtores ainda não se veem como consumidores, e na realidade todos nós, sejam produtores de serviços ou produtos, somos consumidores, pois ninguém é plenamente autosuficiente.

Na oficina do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, foi perguntado quem tem dificuldade em encontrar produtos agroecológicos e a maioria levantou a mão, mas para além disso se articular em torno do consumo é outro passo. A apresentação da experiência da Rede Moinho levantou o tema sobre o consumo responsável, e a interface fundamental da articulação e da integração entre campo e cidade.

Além disso, a metodologia do ENA com a apresentação visual de
territórios, a sistematização com base em desenhos gráficos e a forte
interação na feira foram aprendizados para todos e para futuros
encontros e atividades. A importância de falar para fora, para a
sociedade é um desafio a perseguir, e nisso os grupos de consumo são uma ponta chave. Vale a pena as pessoas lerem a carta final do ENA,
em:http://enagroecologia.org.br/