“Estamos falando disto, porque a Rede Ecológica tem sido procurada por grupos e pessoas de outros espaços do estado do Rio, em busca de reproduzir esta experiência. Teresópolis e Visconde de Mauá, assim como Nova Friburgo já se manifestaram neste sentido.Vai ficando clara a oportunidade de irradiação de nossa experiência.
A Rede foi adquirindo ao longo de seus 13 anos de vida uma complexidade, que de certo modo assusta. Ela tornou-se uma matriz que cobre diferentes aspectos, que vão muito além das compras coletivas. As 4 áreas são: a viabilização das compras coletivas; interação produtor –consumidor ; educação/formação; integração a outros movimentos sociais. Estas áreas, onde em cada uma atuam várias comissões, formam um leque que proporcionam aos grupos de consumo muitas facetas, trabalhando em várias frentes. Esta matriz poderá ser a base para outros grupos se inspirarem e se formarem. Em destaque o aspecto educativo, que neste momento está florescendo. Já elaboramos muitos materiais, que poderão ser absorvidos por grupos interessados neste tipo de proposta.
Cuidarmos da expansão de nossas propostas e ideias é o desafio que agora se coloca. Por um lado tememos o crescimento da Rede, com sua ameaça mega e de descaracterização, de perda da visão do todo, e do contato próximo. Temos clareza de que não queremos crescer além do tamanho que temos agora. Mas ao mesmo tempo o desafio de tornar esta proposta ampla e multiplicável nos leva a ter que refletir muito sobre nossos próximos passos. A Rede Ecológica como uma experiência de certo modo única não é algo que atenda ao que precisamos. Ela precisa poder se multiplicar, de modo independente, sem muitas dificuldades.
Como fazer isto? A regionalização poderia ser uma saída, conforme já foi sugerido: cada região iria tendo autonomia e ia criando especialmente no que se refere à compra coletiva de frescos, um formato independente. Só que não é algo fácil, porque no final das contas neste formato a Rede ainda continua o guarda-chuva e neste sentido fica responsável pelos núcleos que futuramente se criarão.
Uma incubação parcial e personalizada com data marcada para se encerrar? Incubação que forçosamente ficará vinculada ao Circuito do Consumo Consciente do Estado do Rio de Janeiro? Se possível, sempre vinculada a uma feira agroecológica/orgânica?
Vai ficando claro que temos uma contribuição que consideramos muito significativa:
Transmitir as percepções e práticas que fomos adquirindo ao longo de todos estes anos, ao redor dos temas considerados mais ideológicos. Neste sentido,as oficinas são fundamentais. Os assuntos são espinhosos e difíceis, mas podem ser muito férteis. Caracterizam-se pelo questionamento, mas também com saídas factíveis.
A compra coletiva como está estruturada avançou muito com a proposta on line, que pode ser reproduzida de modo independente por outros grupos, já que é em software livre. Este era um dos principais nós.
O ponto que torna a Rede especialmente atraente é a compra dos produtos secos, junto com a prática do mutirão mensal. São produtos que estão por preços muito bons, com qualidade excelente, muitas vezes não encontráveis no mercado convencional. Dão visiblidade a grupos de produtores em geral desconhecidos, e que estão longe, tendo uma grande batalha para conseguir seu espaço.
Importante diferenciar as cidades grandes, como Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, e Niterói como tendo características especificas. São grandes cidades, que carecem muito deste tipo de proposta. Mas também as pequenas, especialmente no que se refere aos produtos secos, tem grupos que buscam solução para o acesso a este tipo de produtos.
A compra coletiva dos frescos representa um desafio, principalmente se de fato for autogestionada e independente, já que vai enfatizar e apoiar produtores locais. Para tal, há que ter grupos organizados e que se disponham a construir este tipo de proposta, através de mapeamentos e visitas a produtores, buscando formatos interativos e democráticos de funcionamento. Importantíssimo ter os produtores como associados, contribuindo como tal, e se abastecendo através da Rede.
Organizar os secos foi uma tarefa de muitos anos, e é algo que temos em mãos. É a melhor forma de iniciar um grupo. O como fazê-lo pode ser repassado, para que por um lado, ao longo de um tempo, os novos grupos incorporem de modo independente a compra destes produtores, ou vão conseguindo criar vínculos com novos produtores de secos. Construir algo similar em tempos de internet não é tão difícil, mas tudo supõe uma organização.
Acima de tudo, há necessidade de formação de um grupo, que consiga superar eventuais desavenças e conflitos, e tente democratizar seu funcionamento. Daí a importância da formatação da participação, um tema ingrato, mas crucial, que especialmente neste ultimo ano avançou em nossa Rede. A participação torna as coisas mais fáceis, coletivas de fato, e faz cada um se sentir parte do todo.
Para enfrentar os desafios, só mesmo com a construção de grupos, com a presença da relação afetiva, de proximidade, de solidariedade numa construção conjunta – um legado para as próximas gerações para que encontrem condições mais animadoras de vida. “