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Vargem Grande inicia sua Feira da Roça

Em 06 de março de 2016., a Associação de agricultores organicos de Vargem,Aspta, Quilombo Cafundá astrogilda e Rede Carioca de Agricultura Urbana encaminharam à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Solidário, o seguinte texto:

“No Maciço da Pedra Branca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, há um grupo grande de agricultoras e agricultores que produzem alimentos sem agrotóxicos e integrados à floresta, aplicando princípios fundamentais da agroecologia aos sistemas produtivos, recorrendo ao termo “natural” para qualificar esta produção historicamente saudável. Somente parte destas agricultoras e agricultores possuem certificação orgânica; muitos resistem a se adequarem aos termos oficiais e aos mecanismos de controle de certificação da produção. Há também um coletivo bastante significativo, principalmente de mulheres com uma ampla produção de doces, geleias, comidas típicas quilombolas e artesanato derivado da agrobiodiversidade.

Desejamos construir um espaço que mostre essa rica produção agroecológica, da roça carioca e cultural.

Como construir um espaço que faça sentido a todas essas vozes que não se enquadram nos padrões que temos de feiras orgânicas e da economia solidária? A nós não interessa tão somente certificar produtos para diferenciá-los e alcançar nichos de mercado. Não se trata simplesmente de vender produtos orgânicos, mas sim, de valorizar as pessoas, as relações do território, as histórias, a cultura, com um desejo de reconhecimento social e a força para a construção de um mundo melhor. Por essa razão, buscamos construir e ver oficializada junto à prefeitura uma feira cujo propósito extrapola o de constituir um espaço para a venda de produtos orgânicos com a finalidade de alcançar maiores preços de venda. Outrossim, muitos dos produtos beneficiados (geleias, doces, compotas, sais etc.), que são agroecológicos em essência, não conseguem alcançar a certificação orgânica pois as normas para beneficiamento de produção reguladas pelas visas são inadequadas á produção familiar.

Entre os meses de setembro de 2014 e fevereiro de 2015 foram realizadas 5 reuniões deliberativas sobre o perfil desta feira. Uma das decisões do grupo é o desejo de oficializar a feira em um espaço público, não de realizar a feira em um espaço privado. Ressaltamos uma observação como significativa dos anseios constituídos nestes encontros:

Para contemplar a questão cultural que pulsa nas Vargens e Camorim, com a certificação quilombola, faremos eventos periódicos. Nas palavras de Aline Lima, esses eventos teriam, “a melhor expressão possível da comunidade”. O primeiro deles seria já no dia 20 de novembro, celebrando os Novos Quilombos e um ano da Caravana Agroecológica e Cultural, que por aqui passou em 2013, deixando esses ares do bem viver! (Relato da reunião do dia 18/10/2014)

A comunidade tradicional foi enfática ao delinear um modelo de feira que contemplasse a diversidade

 Queremos uma feira que faça sentido para todos e todas, que não seja excludente, que incorpore

 Queremos que a feira sirva como um instrumento de empoderamento e de visibilidade daqueles e fortaleça toda a diversidade existente no maciço, com toda a sua potência intrínseca. que sempre resistiram nas margens e que têm tanto a nos ensinar; uma feira que sirva como espaço de conscientização, de troca de saberes, que atraia um tipo de consumidor que esteja comprometido com o todo e não apenas motivado por um interesse individualista

 Queremos uma feira que expresse esse ser coletivo que se constitui desde os produtores até os

 Queremos uma feira que contribua para a preservação da tradicionalidade local.

Nossos sonhos e desejos não cabem nos termos exigidos pelo Circuito Carioca de Feiras Orgânicas ou mesmo do Circuito de Economia Solidária. A primeira contempla apenas a agricultura certificada. O segundo circuito apenas o artesanato. Pleiteamos uma feira que misture agricultura, artesanato, expressões culturais e mais um pouco. Assim, no coração das Vargens, o que perseguimos é algo diferente: já é tempo de criarmos a nossa feira tradicional, uma feira agroecológica. O nome tende a ser Feira da Roça de Vargem Grande, mas ainda está em estudo e deliberação.

A partir das reuniões citadas foram organizadas feiras nos dias de festividade já reconhecida.

Primeiramente no dia da consciência negra, a partir de 20/11/2014 se repetindo no dia 20/11/2015. No dia 21 de abril de 2015, durante a realização do evento organizado anualmente pela Rede Carioca de Agricultura Urbana realizamos outra edição da feira cultural e tradicional.

Baseados nesta experiência acumulada ao longo da história desta comunidade tradicional, consideramos uma oportunidade para a cidade do Rio de Janeiro e para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Solidário (SEDES) a implantação de uma feira que contemple a agricultura orgânica, o artesanato e a cultura popular (esse é o verdadeiro sentido da agroecologia). Entendemos que este novo formato poderia ser implantado inicialmente na forma de eventos, ou como um projeto especial.

Assim, solicitamos a esta Secretaria aprovação institucional para esta demanda.”

Dando continuidade, Silvia Baptiste relata sua ida à SEDES( Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Solidário (SEDES). Estava a Bernardete Montesano, Francisco Caldeira e eu, Sílvia. Apresentamos a carta anexa. Ana Asti e Raquel demonstraram apoio a esta Feira novidadeira e de certa forma transgressora. Segundo elas o processo de construção desta feira já está de acordo com os princípios da Economia Solidária. E será neste Circuito Ecosol que nossa feira será inserida para se integrar no contexto das políticas públicas. Ana Asti nos fez uma proposta: Que aderíssemos à campanha Rio Comércio Justo. Então convido vocês a pensarem nesta proposta que é válida também para os nossos Núcleos da Rede Ecológica. Vale dar uma olhada no site da campanha para ver se nos interessa estar integrados nela:

http://www.riocomerciojusto.com.br/#!blank/c1cuz

Enquanto isto a primeira feira aconteceu! Na nossa próxima carta estaremos relatando como foi.