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Relato da visita ao assentamento Sebastião Lan II

Prezada(o)s amiga(o)s,

Mariana do Valle (Niterói) fala da ida ao assentamento Sebastião lan II em 9/4/2016:

“Foram Eva Ferreira,(Humaitá), Miriam Langenbach (Urca) e Beto Jansen (Botafogo),vindo da zona sul, Mariana de Valle e Rosangela Laranja de Niterói.

Chegamos à Rodoviária de Casimiro de Abreu 10h20 onde encontramos o Rodrigo (Rio das Ostras – aluno do Curso de Capacitação para Formação de Novos Noel. Grupos de Compras Agroecológicas) e Eveli Boeck (produtor de arroz). Nos dividimos em dois carros e fomos rumo ao sítio do Sr.Noel.

Ao chegar no sítio do Sr. Noel, que é um dos primeiros assentados, descobrimos que sofreram com a chuva do dia 1 de março 2016 e tiveram a casa e plantação de aipim alagadas. A casa fica aproximadamente a 15 metros de um canal feito a partir Rio São João.

Para a próxima produção de arroz, Eveli vai arrendar a terra do Sr. Noel já que o terreno

dele tem esse problema de alagar, facilitando assim a produção do arroz. Ele tem planos

para ajudar ao Sr. Noel e esposa na produção de outros tipos de alimentos como jiló,

batata doce, quiabo, maxixe, milho e feijão. Já iniciaram o plantio de alguns pés de açaí

na propriedade.

De lá seguimos para o sitio do Sr. Alencar que é o presidente da Associação de Produtores Rurais Sebastião Lan II. No caminho Eveli nos contou que é do Rio Grande do Sul da cidade de Agudo, está no Rio de Janeiro desde 1981. Ele ainda não possui DAP e está fazendo parte do SPG pela ABIO de Casimiro de Abreu juntamente com outros produtores da região.

Ao chegar no sitio do Alencar encontramos ele e o Sr. João Batista conversando sobre a

casa de farinha que o Alencar está construindo. Foi um momento de se falar da Rede de

Engenharia Popular Oswaldo Sevá (REPOS), integrada por estudantes e pesquisadores

de engenharia, que estão se propondo a vir visitar o assentamento, e ajudar tanto a ver a

questão da máquina de beneficiamento do Eveli, quanto de também poder fornecer

alguma sugestão para a casa de farinha. Ficou claro que a Rede Ecológica não tem

produtor de farinha de mandioca, e certamente compraria esta, além de outros produtos

que poderiam advir.

Foi o momento de conversarmos um pouco sobre o que era a Rede Ecológica e como

eles poderiam nos fornecer alimentos orgânicos. Ressaltamos também a possibilidade –

conforme fazemos com todos nossos produtores – deles se associarem à Rede e

comprarem produtos que lhes fazem falta no assentamento. Destacamos uma postura

que vai além das compras, e acompanha os produtores, apoiando-os sempre que possivel.

Eles se mostraram bem interessados, sugerindo a presença de integrantes da Rede para

apresentação de suas propostas para mais assentados, o que será feito.

Também foi colocado que o assentamento pode ter papel importante em uma possível

articulação de grupos de consumo em Rio das Ostras e Macaé.

Eles se prepararão para a vinda de um representante da REPOS para trazer suas

principais questões de maquinário.

Chegamos no sitio do Eveli por volta de 13h00 onde fizemos um pic-nic delicioso num

canto muito verde e fresco. Aliás o local ficou muito mais arborizado do que era,

quando Miriam e Rodrigo o visitaram, anos atrás.

Conhecemos o local, vimos equipamentos usados para plantio, o arroz estocado, a

pequena plantação de cítricos (laranja, tangerina e limão galego), cana de açúcar, e

cabeças de gado, ele contou ter 11 cabeças no total.

Eveli não mora na terra ocupada, e sim em Casimiro de Abreu mas durante a semana está no sítio. Disse que o sitio tem muita cobra (jararaca), cachorro do mato, lontra e onça, pois está do lado da reserva do Mico Leão Dourado. Ele tem um ajudante que auxilia na roçagem.

Iniciou o processo de produção de arroz há 4 anos. Plantou cateto e agulhinha, sendo que a sua maior produção é de agulhinha. Todo arroz ainda está com a casca aguardando a máquina que está com problemas, ser consertada.

Tínhamos combinado, durante a viagem, que faremos uma compra a granel por núcleo,

exatamente com os quilos solicitados. E no núcleo as pessoas trarão caixas de sorvete

ou outras para levar seu arroz. Um primeiro passo importante, além das castanhas, de

partirmos para o granel. Isto foi explicado a ele.

Ele vai se organizar para fazer a primeira entrega em junho, sendo sua acompanhante

Mariana do Valle, assim o núcleo Niterói vai fortalecendo a regionalização.

Disse ter produção de mel, mas que não garante certificação orgânica, devido o uso

recente por agricultores convencionais para combater lagartas nas folhas de mandioca.

Faríamos também uma visita às terras da Denise, porém ela não havia retornado da feira

até as 15 horas, quando decidimos voltar ao Rio.

Observações sobre o assentamento Sebastião Lan II.

O assentamento tem 1.350 mil hectares, as terras foram ocupadas em 1997 por trabalhadores rurais sem terra organizados pelo MST totalizando 77 famílias. No

assentamento vivem em torno de 20 crianças que vão para escola de Kombi da

prefeitura.

Hoje das 77 famílias, 40 são produtoras sendo apenas 2 com produção de Orgânicos:

Eveli e Denise.

As terras pertenciam a grandes fazendeiros que eram grileiros das terras. No assentamento os moradores vivem predominantemente do plantio de aipim, cana de açúcar e de trabalho informal na cidade e na lavoura de outras propriedades (tirar e encaixotar aipim,cada caixa de madeira fechada custa R$12 reais em média, relativo a aproximadamente 20k).

Produzem aipim pelo fato de ter muitos atravessadores, em torno de 10 pessoas, que vão

ao local em busca do produto. Toda semana passam 2 caminhões para recolher o aipim

já nas caixas então fica mais fácil produzir já que o transporte vai até eles. Está claro

que o transporte é um grande problema.

Sentimos que esse assentamento precisa urgentemente de auxilio quanto à assistência

técnica rural, produção de defensivos naturais, produção de minhocário, compostagem,

hortas, frutíferas nativas, etc.”