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Relato da reunião de acompanhantes de frescos da zona sul/norte

Relatorio da reunião de frescos dia 06/06/2016 realizado por Julie Terzian (Santa)

Presentes: Lucio, Miriam, Talita, Marcio (ASPTA), Julie

1.Tivemos a honra de contar com a presença de Marcio Mendonça da Aspta na reunião! Isto teve a ver com a parceria que a REde Ecológica está desenvolvendo com a Aspta, em que um dos focos é apoiar consumidores em relação ao acompanhamento de produtores. Observamos pouco conhecimento e dificuldades em fazer esta aproximação com os produtores.

Marcio iniciou falando do historico da Aspta, fundada em 1983, e como rapidamente a organização virou uma referência no Brasil e na América latina toda com o seu centro de documentação e informações.Este centro foi desmontado e posteriormente transferido para o CPDA (UFRRJ).

A Aspta surgiu como integrando o Programa de Tecnologias Alternativas (PTA), que tendo criticas as propostas da “revolução verde” buscavam consolidar tecnologias que dispensassem o veneno, fortalecendo os agricultores familiares..

A preocupação sempre foi em realizar o desenvolvimento local, visando à transição dos produtores de forma vertical (melhorar a produção do seu sitio em todos os sentidos) assim como de forma horizontal (envolver os vizinhos e o contexto).

A Aspta tem atuado em 3 regiões: no Paraná, junto a agricultores onde o fumo está muito presente, trazendo vários problemas, buscando implantar alternativas. No semiárido, na Paraiba, tem atuado em busca do fortalecimento da convivencia com o semiárido, com forte enfase ao empoderamento das mulheres, à resolver o problema da falta da água com as cisternas, e ao aproveitamento das especies rusticas existentes.

O terceiro, o programa de agricultura urbana começou no Rio de Janeiro em 1999 em favelas da zona oeste com um trabalho nos quintais. Ao longo dos anos ampliou seu raio de ação, e recentemente, tendo o patrocinio da Petrobrás, desenvolveu ações na região metropolitana, em areas rurais com forte pressão urbana como Magé, Guapimirim, Nova Iguaçu.

A PTA, da qual a Aspta se desmembrou, foi incorporada em 2002 a partir do I ENA (Encontro Nacional de Agroecologia) na UERJ, que levou à constituição da ANA (Articulação Nacional de Agroecologia).

Marcio explicou que um dos temas recorrentes hoje em dia é o distanciamento imenso entre as realidade dos produtores e o olhar do consumidor: é de suma importância que esses laços sejam reforçados. Falta estabelecer pontes entre quem atua com assessoria aos agricultores e os consumidores.

Miriam perguntou quais poderiam ser as formas de aproximação.

Resposta de Marcio:

-a presença do produtor de vez em quando numa entrega nos nucleos

-encontro anual entre produtores e consumidores, conforme aconteceram no passado na Rede Ecológica, em que em um sábado de entregas de secos havia um agricultor de algum grupo presente nas entregas, para conversas com os consumidores em vários nucleos.A seguir produtores e consumidores se reuniam para um almoço e posterior conversa a tarde .

-visita ao produtor.

Lucio reforçou a ideia dizendo que ele gostaria de organizar vivencias rurais, fins de semanas de trabalho para ajudar os produtores. A idéia é que os consumidores não somente visitem, mas que ajudem mesmo os produtores, botem a mão na massa. Essa seria uma das formas mais fortes de se aproximar da realidade dos produtores. Lucio integra um projeto de ecovila, em que estão começando a realizar estas vivencias rurais, no sentido de conhecer melhor a realidade do campo, já que tem planos de se alimentarem do que produzirem.

A receptividade a esta proposta foi boa, até porque em realidade há um grupo que já vai – o grupo da ecovila- , então mesmo que poucos consumidores da Rede acompanhem, isto já vai ser ótimo. Lucio relatou que a partir da conversa na assembléia, em que ele falou desta idéia, o agricultor do Serorganico, João Pimenta se entusiasmou, já tem havido solicitação que venha logo.

Miriam também perguntou sobre como o consumidor ou um acompanhante de produtor da Rede deve compreender uma visita à um produtor? como pode calibrar o seu olhar para saber se o produtor esta atendendo à qualidade que a Rede requer?

Marcio reforçou que uma das coisas mais importantes são os laços de confiança estabelecidos com o produtor, ou seja, é preciso ter uma estrategia de aproximação que trabalhe sobre a relação, pois o olhar sozinho não pode garantir a qualidade.

Neste sentido, também é importante a interação com agrônomos.

Miriam trouxe a questão do nucleo de Nova Iguaçu, que vive um grande desafio no sentido de abastecer os associada(o)s com produtos frescos da região, e que se está pensando em alguma estrategia que una Rede e Aspta, junto com a Capina e Repos, (integrantes também da parceria)para que possam avançar em relação a isto.

Uma idéia que surgiu é a possibilidade de se realizar um convenio Aspta – UFRRJ, que possibilite a presença de um residente de agronomia, com um trabalho mais aprofundado tanto com os produtores quanto com consumidores. assim a perspectiva é resolver a questão de abastecimento do nucleo, e isto poderia funcionar como um piloto para alavancar outras iniciativas de consumidores na regiaõ.

Um ponto importante seria um levantamento dos produtores que estão com a preocupação com a produção agroecológica. a idéia é criar condições para que este grupo até possa se certificar, mas que ele independe disso, na medida em que a interação produtor-consumidor se estabeleça de modo mais forte. Isto a Rede Ecológica já faz em relação a alguns produtores, seja ajudando na transição, ou por realmente confiar no agricultor.

Marcio destacou que para os produtos in natura, a certificação é bastante facil de conseguir e a legislação brasileira é muito razoavel para os produtores. Já com outros produtos tipo geleia, laticinios, linguiças, por exemplo são praticamente impossiveis de certificar para pequenos produtores. O nivel de exigencia acaba não conseguindo ser atendida por estes agricultores, envolvendo também forte burocracia. As exigencias para as grandes empresas e os pequenos agricultores são as mesmas mesma.

Fica claro que grupos muito frágeis vão ter dificuldade de pagar os custos mesmo da certificação participativa. Um exemplo é a Coopaterra, de assentamentos, que não é certificada. Mas a cobertura de pessoas preparadas tecnicamente, seja militantes, ou através de parcerias como a da UFRRJ resolvem satisfatoriamente a situação. Uma saida interessante é a Organização de Controle Social, que possibilita uma interação não tão exigente e burocratizada, mas reforçando o acompanhamento do grupo, possibilitando um reconhecimento como organico. No entanto, esse tipo de mecanismo de controle exige que os agricultores tenham DAP, o que nem sempre é a realidade.

Então a calibração do olhar pode ser feita à través da legislação mas não somente.

Nova Iguaçu é uma região muito esquecida e neste sentido seria uma região interessante para começar um projeto pois provavelmente a maioria dos produtores não são certificados.

Uma recomendação, a partir de situações levantadas para uma visita a produtores, foi a preocupação em deixar muito claro para produtores ou grupo de produtores, a necessidade de comunicar se pegam produtos de terceiros. Estes por sua vez deverão ser visitados pelos acompanhantes da Rede Ecológica.

Vimos que seria necessário que esta informação seja colocada no site da rede, que tal ou tal produtor pega eventualmente de tal produtor (ter nome, produto ou quantidades se for no mesmo produto). Também seria importante saber qual é o preço de compra para o terceiro para ver como está acontecendo esta interação, se se configura como um atravessamento.

Marcio explicou que o importante durante uma visita é que os consumidores fiquem atentos a :

ASPECTOS SOCIAIS: relação entre as pessoas, relações humanas, de trabalho, relação trabalhista respeitada, crianças na escola… Nem sempre é facil detectar isto, daí a necessidade de contatos regulares.

ASPECTOS AMBIENTAIS: agua (contaminada se perto de gado, se perto de um vizinho que usa agrotoxicos…),presença de barreiras, lixo, esgotamento sanitário, presença de fossa. se há mata ciliar ao redor de rio ou lago, e também a parte florestal, se existe.

Um ponto importante é o proprio design do sitio :olhar para a unidade de produção de maneira integrada. Não so olhar as lavouras. Mas sim o ambiente da casa e o seu arredor; de onde vem a água para uso nas roças e o abastecimento doméstico. A presença de árvores e de reservas florestais / agroflorestais. A convivência com a vizinhança. Ou seja, tentar visualizar o desenho do sítio de uma maneira integradora, não somente pelas partes.

ASPECTOS DE PRODUCAO: manejo de solos (fogo…), insumos (o que pode e o que não pode?). Essa parte é a mais delicada! algumas coisas são gritantes : herbicida (o mais usado, tipo round up)se tiver sido usado, as plantas ficam queimadas (secas).Outras são mais dificeis de saber. Ver se usa compostagem, esterco, como ele/a usa? Como está o solo

ASPECTOS DE PRODUCAO: manejo de solos (fogo…), insumos (o que pode e o que não pode?). Essa parte é a mais delicada! algumas coisas são gritantes : herbicida (o mais usado, tipo round up)se tiver sido usado, a terra fica queimada.Outras são mais dificeis de saber. Ver se usa compostagem, esterco, como ele/a usa? Como está o solo

Segundo Marcio, a certificação por auditoria ( o produtor paga a uma empresa privada a certificação, tipo IBD, ECOCERT,algo caro) é menos confiavel porque geralmente é apenas uma visita ao ano, enquanto que na certificação participativa há mais troca e união. O grupo se responsabiliza coletivamente pela produção.

Marcio deu 3 dicas concretas para melhorar aproximação consumidor/produtor:

1- acompanhar o calendario e roteiro de visitas do SPG. que acontece na zona oeste e está bem organizado, com Claudemar Mattos como agrônomo há anos dando sustentação ao grupo. O ideal seria que consumidores da zona oeste assumissem mais fortemente esta interação, mas também fica como um espaço a ser frequentado por consumidores de outras regiões.

2-Interação produtor/consumidor à través de fins de semana para ajudar a trabalhar. Precisa ser visto se o melhor formato é um fim de semana ou um dia so? Lucio ficou de ser responsavel por essa parte de mobilização e vai organizar um calendário de vivencias

3-Organizar anualmente um encontro produtor/consumidor nos núcleos da rede! Especialmente neste ano, em que a Rede comemora 15 anos.

Terminamos satisfeita(o)s, porque percebemos uma riqueza grande de informações, uma aula.