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Defesa de tese de doutorado de Bibi Cintrão

De Bibi Cintrão (Santa):”Aviso que consegui finalmente terminar a tese e a defesa será na próxima terça-feira, dia 6 de setembro, iniciando às 09 h, na sala de defesa do CPDA/UFRRJ, a na Av. Presidente Vargas, 417, 6º andar.

Encaminho abaixo algumas informações adicionais, para quem tiver curiosidade em conhecer.

Título: Segurança, qualidade e riscos: a regulação sanitária e os processos de (i)legalização dos queijos artesanais de leite cru em Minas Gerais.

Banca: Renato S. Maluf – CPDA/UFRRJ (orientador); Fernando Rabossi – IFCS/Depto de Antropologia; Luis David Castiel – Fiocruz/ENSP/Departamento de Epidemiologia; Cláudia Job Schmitt – CPDA/UFRRJ; John Wilkinson – CPDA/UFRRJ.

Resumo: A tese aborda os conflitos e disputas em torno da (i)legalização sanitária dos queijos artesanais de leite cru em Minas Gerais, que se acentuam após a década de 1990. Aponta como aparatos estatais, leis, normas e regulamentos, criados tendo como objetivo a defesa da saúde da população e normalmente apresentados como neutros e científicos, por caminhos múltiplos e complexos acabam servindo como instrumentos para a criação de barreiras à entrada em disputas por mercados de produtos lácteos. A regulação sanitária dos queijos artesanais é analisada como parte de um processo de progressiva governamentalização do Estado, que termina favorecendo padrões industriais de produção, processamento e distribuição de alimentos em maior escala. No centro das controvérsias está a exigência de pasteurização dos queijos ou de tempos mínimos de cura, presentes em normas internacionais (Codex Alimentarius) e envolvem o fato de serem os queijos de leite cru (não pasteurizado) produtos essencialmente ‘vivos’, contendo ‘maus micro-organismos’ mas também ‘bons micro-organismos’, responsáveis por características únicas de sabor e textura. No caso analisado, a legitimação da regulação sanitária se dá através da construção de padrões de ‘qualidade’, ‘risco’ e ‘segurança dos alimentos’, baseados em exames laboratoriais que apontam a presença, acima dos níveis legais, de dois grupos de microorganismos (coliformes fecais e Staphylococcus aureos), que levam à classificação legal dos queijos como ‘impróprios ao consumo humano’, entrando em choque com tradições de produção e consumo e com a percepção da população, que considera esses queijos alimentos saborosos e seguros, parte da identidade cultural dos mineiros. Assim, os processos de ilegalização em Minas Gerais geram reações, que buscam saídas para a legalização em emaranhados legais e institucionais cada vez mais complexos, que permitem a inclusão apenas de uma minoria de famílias produtoras. A grande maioria permanece na ‘informalidade’, cada vez mais construída como ‘ilegalidade’. O trabalho de campo analisa dois municípios na região do Queijo Canastra e aponta um conjunto de elementos que compõem um modo de se manter na atividade do queijo, que envolve tanto formas de produção quanto de comercialização, inseridas culturalmente em modos de vida que garantem a reprodução das famílias e sua resiliência frente às pressões externas. O estudo desse caso coloca questões mais gerais sobre a relação entre Estado, Direito, Ciência e mercados, assim como destes com populações camponesas. Discute ainda com noções hegemônicas de risco no que diz respeito à saúde e à alimentação e aponta seus efeitos sobre o modo de vida dessas populações e sobre as opções de escolha dos consumidores.