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Relato da primeira visita ao MPA

Estavam presentes representando a Rede Ecológica, Vinicius Rodrigues, acompanhante do MPA, Lucio Lambert (que se propõe a fazer uma vivencia rural em alguma área do MPA), Miriam Langenbach, Eva Ferreira, Paulo Roberto Jansen e Fatima Gomes (representante do núcleo de Nova Iguaçu em busca de produtores de frescos para abastecer melhor o grupo). Este é um relato do coletivo que foi visitar.

A visita começou no espaço onde atualmente os produtores se reúnem. O local pertence a Erika, uma das integrantes do MPA, e parece ser o espaço aproveitado para reuniões e atividades coletivas em geral. Segundo os responsáveis, a área sofre com questões do entorno. Pela terceira vez houve incêndio, porque vizinhos colocaram fogo em suas propriedades e houve lastro. Em virtude disso, os produtores que ali estão, perderam grande parte de sua produção. Neste espaço acontecem eventos organizados pelo MPA.

Fomos recebidos no dia seguinte da festa de inauguração do espaço terapêutico instalado na propriedade, à beira da estrada (outro local). Lá vários serviços terapêuticos vinculados à saúde são oferecidos.

A visita prosseguiu através da ida ao sitio do Silvio, a 40 minutos de onde estávamos. Ele no momento fornece berinjela e pepino para a Rede.
O referido produtor tem histórico de uso de agrotóxicos. Não há dados precisos mas durante o período que fez parte da Feira da Roça era mencionada tal situação. Beto, um dos responsáveis pelo MPA na região, alega que há dois anos o produtor citado deixou de fazer uso e que hoje toda a produção é agroecológica. Tal ação compreende um grande esforço do produtor, mas entendo que deveríamos colocá-lo como produtor em transição, já que a recuperação do solo e de do ecossistema da área levará no mínimo cinco anos com práticas muito especificas para a recuperação. Também não participou da Escolinha de Agroecologia, apesar de citar contato com Mariella Rosa, que está a frente da Emater e da Escolinha.

Silvio é japonês, solteiro, sendo que seus pais tinham esta propriedade e lá plantavam enquanto eram vivos. Silvio viveu vários anos no Japão, trabalhando com automação industrial, que lhe permitia uma retorno financeiro muito mais tranquilo. A propriedade é bonita, bem cuidada.
O produtor dispõe de maquinário para grande parte do trabalho no sítio. Tem a produção sem cobertura do solo; diz ter perdido três colheitas com problemas de vento. Indagado sobre a barreira de vento,ele diz que de um lado o faz com bambuzal. Do outro lado não tem barreira, porque segundo ele perderia área de plantio. Apresenta uma boa área. Não encontramos diversidade de produtos, a não ser numa horta próxima a casa.

Lucio ofereceu a vivencia rural na propriedade de Silvio, mas da parte dele Silvio não houve muito interesse. (atualizando: Silvio aceita ser visitado no ano que vem, já que está muito ocupado com atividades do Rio Rural)

Voltamos à sede, onde os produtores nos ofereceram um delicioso almoço, depois do qual iniciamos nossa reunião.

Reunião MPA/Rede Ecológica: apresentações de integrantes do MPA: Beto Palmeira, Erika Sena, Miriam Oliveira , Wiara Oliveira, Alex Leite .

O MPA é um movimento nacional de pequenos agricultores, e diferentemente do MST se volta para agricultores que ainda tem terra.O movimento iniciou em 1996 , por ocasião de uma seca, que estava levando a venda de terras e ao êxodo. A CPT (Comissão Pastoral da Terra) teve um papel importante de
articulação. Houve uma grande reunião/ato, Acampamento da Seca, em que se esperava 5.000 pessoas e vieram 30.000

Começou em 5 estados, 3 do sul, em Rondônia e no Espírito Santos. Em 2000 tiveram o I Encontro Nacional, no Rio Grande do Sul;, em 2003 o II em Rondônia, quando já estavam atuando em 10 estados, especificamente no nordeste, onde estão a maioria dos agricultores.

Em 2015 houve o I Congresso do MPA
O MPA sempre se colocou contra o agronegócio, buscando empoderar os agricultores para não lhe servirem de mão de obra barata ,como acontece com a produção dos frangos, o fumo,etc.

A preocupação era com construção de alternativas, passando a elaborar o plano camponês, que foca 5 pontos.
1. PRODUÇÃO
2. EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
3. VIDA DE QUALIDADE
4. COMUNIDADE CAMPONESA
5. SOBERANIA
a) Soberania alimentar
b) Soberania Energética
c) Soberania Genética
d) Soberania Territorial

Desde 2005 há convites para o MPA atuar no estado do Rio de Janeiro,porém não havia pessoas suficientes para vir construir o MPA no RJ. Antes tinha-se uma visão geral que no estado do Rio haviam pouquíssimos agricultores.
Em 2011 o MPA passou a acompanhar o impacto da mega obra no porto do Açu, para escoar minérios, que afetou 1500 famílias de agricultores da região.

O trabalho do MPA em Nova Iguaçu, iniciou há aproximadamente 2 anos, revelando que nessa região existe um potencial organizativo, apesar que os agricultores estarem pulverizados no território. O papel do MPA é articulá-los e criar uma organização coletiva para pensar o planejamento da produção e distribuição (comercialização).O contato com a Rede pode contribuir no processo de organização para a comercialização. A partir da demanda de produção que Rede tem podem planejar a produção juntos as famílias.

Uma das coisas que ficava cada vez mais claro para o MPA era a necessidade de que campo e cidade deveriam se unir. O campo só assim seria preservado, o mesmo valendo para a cidade totalmente dependente da produção rural.

No Estado do Rio, especificamente também na cidade do Rio, há grandes populações presentes, e um gargalo, no sentido do abastecimento alimentar. A previsão é de que isto piore, vai se passar por grande crise alimentar.

Nós, da Rede, observamos que nitidamente o papel do MPA é de articulação junto aos produtores de um certo território, e paralelamente o mesmo é feito com os consumidores da cidade. Fica a pergunta até que ponto, deixam de ser produtores, ao assumir este papel.

Foi mencionado o Pronera, com cursos superiores voltados para agricultores/ jovens ligados à Reforma agrária, elemento muito importante para o desenvolvimento destes movimentos. É o caso do Beto, uma das lideranças do MPA com quem a Rede Ecológica iniciou a construção desta interação. Beto é da Bahia, e viveu o processo do MPA no nordeste, mas acabou de cursar serviço social na UFRJ, através do curso do Pronera.

A sua ação na baixada fluminense iniciou através de contato com a Feira da Roça, e também do Robledo (só para situar: Robledo é um antigo amigo da Rede Ecológica, é quem abriu as portas para o CCS onde funciona o núcleo de Vila Isabel, e é integrante do MPA).

Aspectos que a militância avaliou ao vir : Rio é um grande centro urbano, na baixada tem muitos agricultores, todos invisibilizados, pulverizados. Notaram que a maioria tem algum integrante da família, trabalhando fora, como uma maneira de viabilizar a continuação na agricultura. O que se necessita fazer as pontas campo cidade. Chamou a atenção para a importância da comercialização, associando com o envelhecimento dos agricultores, e de pouca sucessão no campo. O MPA em outras regiões teve como foco que uniu os agricultores a luta por água, luz, crédito, transporte. Já vários destes assuntos, na baixada, até certo ponto estão mais resolvidos. Então a questão da comercialização torna-se a mais importante.

Obs. da Rede: O foco não precisa ser só o Rio, mas a própria baixada, muito populosa.

Não é muito fácil entender a organização do MPA. Mas foi esclarecido que tem:

1. um grupo de militantes que tem como tarefa a organização e articulação dos agricultores da região , e este é o caso do Beto, da Erika, da Miriam e Wiara, do Elias e Eliana (não presentes na reunião).

2. grupo de produtores que integra o MPA e que já está inserido em feiras ou comercializações, como a Marli e o Elias,na feira da Roça, o Silvio, que está na Rede.

3. um grupo maior de agricultores, que eles estão visitando e contratando, mas que ainda não está inserido no MPA.

Poucos agricultores produzem em escala. Silvio, que foi visitado, é uma certa exceção,se aproximando mais de escala. (o relato continua na próxima carta)