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Relato da visita ao Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti

Estamos encaminhando o relato coletivo sobre uma visita ao Centro de Atendimento Comunitário em São João de Meriti. Foi uma excelente experiência, e foi nosso pontapé inicial na construção de coletivos de consumo.
Fomos em 16/11/2016: Milca Colombo (Vila Isabel), Miriam Langenbach (Urca) e Vinicius Rodrigues (Santa).
Fomos muito gentilmente buscados e levados por Adriana Melo, uma das responsáveis.


Ficamos muito bem impressionadas com a garra da equipe que leva o Centro de Atividades Comunitárias, cujo foco é o trabalho de Educação que contempla o Centro de Promoção da Leitura e da Pesquisa, que desenvolve ações de promoção de leitura e de formação continuada dos professores e a Escola que este ano em parceria com a prefeitura, atende 76 crianças de 4 -6 anos.

Citando correspondência de Adriana Camargo sobre o CAC: “Possui uma área de cerca de 4.000 metros quadrados, com três casas em estilo colonial sendo duas ocupadas pela escola e a outra com o CPLP -Centro de Promoção da Leitura e da Pesquisa, a nossa biblioteca.Temos ainda mais 3 ‘casas’ no terreno, que estão sem uso no momento por inúmeras questões. Inclusive o prédio onde funcionava a biblioteca foi desativado devido a umidade, pois todo o terreno do CAC é muito úmido. A área que não tem construção é praticamente toda de árvores, sendo algumas frutíferas como cajá, pitanga, acerola, manga, siriguela, goiaba, bananeira, coqueiros, laranja da terra, abacate, carambola, e mais algumas que estou esquecendo, temos também pau brasil, ipê, flamboyants temos até uma arvore do viajante. E dois espaços de jardins, que também precisam ser revitalizados. Assim é uma linda área verde em uma cidade super populosa como São João de Meriti, que com nosso enorme esforço ,temos conseguido não cimentar…porque a verdade é que cuidar tem sido muito difícil.” Importante saber que São João de Meriti é a cidade mais populosa do país, sem nenhuma área verde, praticamente. Então este canto é algo muito precioso.

Atualmente, no dia -dia do CAC temos 4 professoras com turmas, uma professora que faz a parte de secretaria da escola, além de Adriana, que vai 3 vezes por semana. Todas são funcionarias da prefeitura e estão cedidas a Escola do CAC. Através de projetos com a UERJ contam com a presença de 3 bolsistas que desenvolvem diversas atividades na instituição. Ano que vem com a mudança de governo, novos desafios virão quanto a manutenção dessa parceria e da continuidade do trabalho. Trabalho, este, que além de defender uma educação de qualidade, o que envolve mudanças não só no trabalho dos professores como também na relação com as crianças e suas famílias, é ainda um espaço que visa desenvolver a participação dos moradores na vida do seu bairro. O CAC também conta com um grupo de professores voluntários que fazem parte da Equipe de Educação ajudando a pensar o caminhar do trabalho realizado. E conta ainda com outros voluntários que ajudam na manutenção da instituição seja doando recursos ou seu tempo na manutenção do espaço. Importante ter claro que não há nenhum servente na escola, que funciona graças à dedicação dos funcionários e pais. A manutenção do CAC atualmente se dá principalmente através da contribuição de pessoas que conhecem e acreditam no trabalho aqui realizado. As famílias também contribuem e propõem estratégias para levantarmos recursos. Em 2011 fomos obrigados pela prefeitura a participar de um processo seletivo para recebermos recursos do FUNDEB através de um programa do governo federal que visa incrementar o trabalho realizado por instituições comunitárias que trabalham com Educação Infantil. Fomos aprovados e num processo de muita luta junto a prefeitura conseguimos receber até hoje apenas duas das 26 parcelas que temos direito. Agora avaliamos a melhor estratégia para negociarmos o pagamento das parcelas restantes com o próximo governo, pois é uma divida em torno de 200 mil reais que não podem ser utilizados para reforma nem para compra de bens permanentes mas que muito nos ajuda na compra de materiais para realização de atividades e passeios com as crianças.

O Projeto de Educação do CAC foi fundado em uma concepção construtivista, assim que as idéias de Emilia ferreiro chegaram ao Brasil. É uma das únicas escolas para classe popular que desempenha um trabalho nesta perspectiva. A equipe de educação do CAC já tinha participado de uma experiência com a fundação do Jardim de Infância Projeto Infantil Popular Alternativo( PIPA) fundado em 1985 numa parceria de co-gestão entre o Governo do Estado e a Associação de Moradores da Praça da Bandeira e Adjacências (AMPRABA) (bairros de São João de Meriti). Assim criou-se uma escola pública estadual voltada para educação infantil, regida em co-gestão com a associação de moradores do bairro.

Com essa experiência foi possível perceber que a questão política era o foco, quando vemos que a maior preocupação era fazer com que a comunidade escolar participe das decisões na escola, mesmo das decisões técnicas. E que mais uma vez o movimento popular é levado a refletir sobre o acesso ao conhecimento científico, que é controlado pelas elites, pois fica evidente que sem ele dificilmente as mudanças desejadas serão efetivadas. Assim parte da equipe pedagógica do PIPA participa da fundação do CAC se comprometendo a investir na aquisição do conhecimento cientifico para melhorar o desenvolvimento das crianças da classe popular.

A história do CAC- Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti. começa em 1987, com a participação de representantes de diversas religiões, partidos políticos, associações de moradores e sindicatos deste município. O principal objetivo, do centro comunitário era propor políticas públicas nas áreas de saúde, educação e cultura. Mas, por diversas razões, a única área que funciona desde a fundação da instituição é a área da Educação que nestes 29 anos manteve ininterruptamente a escola funcionando e desenvolveu diversas ações do CPLP (Centro de Promoção da Leitura e da Pesquisa) entre elas cursos de formação continuada de professores, rodas de leituras, empréstimo de livros entre outras.

O terreno foi comprado com recursos da CFDT (Confederação Francesa e Democrática dos Trabalhadores) e a reforma dos prédios foi realizada através de um Chantier com a presença de franceses e brasileiros conduzidos pelo Instituto Belleville.

Foi destacado ainda que não apóiam nenhum político, o que permite sentarem livremente numa mesa para discutir com o governo. Foram procurados já várias vezes por políticos, mas sempre conseguiram firmar sua posição. E infelizmente, manter esse posicionamento torna tudo muito mais difícil dentro da discussão por políticas públicas de qualidade.

Entre os pais, estivemos com uma avó, Sandra, dedicadíssima à horta, que foi iniciada há alguns meses. Mas antes desbastou o terreno, o que não foi fácil. Conta com a ajuda de uma mãe, se revezam. Mas praticamente todos os dias alguma delas mexe na horta e no terreno. A horta, sem qualquer orientação técnica e criada apenas por pessoas solidárias à luta da escola, sobrevive com plantio pequeno de jiló, tomate, berinjela, cebolinha, maxixe, serralha, abacaxi, batata-doce, além de plantas medicinais encontradas na área como cana-do-brejo por exemplo. Fica claro que elas já sabem do trato da terra, e se tiverem um pouco de orientação em breve serão “craques”.

O terreno é bem sombreado em função das árvores e o solo parece bastante conservado.

A área é bastante grande, tem um muro nos fundos que é o próximo alvo de recuperação, porque uma parte está caída.

Já teve uma casa com um posto de saúde, mas este acabou desativado, por falta de apoio. Tem uma cozinha boa, industrial, que precisa de uma faxina, e certamente poderá ser um espaço interessante para acompanhar um mutirão, ou fazer uma vivencia de culinária.
(continua)