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Relato da visita ao Assentamento Terra Prometida e Arraiá Coopaterra

Relato da visita ao assentamento Terra Prometida para participar da festa junina, preparado por Diogo Antunes (Humaitá), com complemento de Marcos Lima (Humaitá), Bibi Cintrão, Lígia Mefano e Sara Laisse (Santa):

No último sábado, 23/06/18, comparecemos ao assentamento, a fim de participarmos do Arraiá e de conhecermos um pouco a realidade dos assentados que fornecem para a Rede aipim, batata doce, banana, cítricos, ervas, entre outros produtos.

Saímos em uma van, partindo da Cinelândia às 13:30 e chegando ao assentamento, que fica na zona rural de Duque de Caxias, às 14:30. Portanto, não é uma distância grande, mas vale ressaltar que pegamos um dia sem trânsito e a estrada de terra que dá acesso ao assentamento em boas condições. O caminho foi tranquilo de achar pelo GPS com a localização fornecida pela Coopaterra. Da Rede Ecológica, foram Lígia e seu filho (Urca), Diogo e Bruna (Humaitá) e Marcos (Humaitá). Mais tarde chegaram Bibi Cintrão (Santa) e Sarah Laisse (francesa que está preparando o chantier com jovens franceses no assentamento Dandara, no norte fluminense). Uma pena que outros cestantes não tenham conseguido ir.

Ao chegarmos, fomos recebidos por alguns assentados, todos envolvidos na organização da festa. Foi organizada uma visita ao assentamento, guiada pelo assentado Pedro Paulo e outro companheiro. A visita durou cerca de duas horas e meia. Para nós, foi um aprendizado e ao mesmo tempo, um choque. A situação do assentamento é de resistência diante das dificuldades enfrentadas. O poder público apenas assentou, mas não forneceu água, eletricidade, habitação e outros serviços básicos. Pedro Paulo informou que havia um compromisso do Instituto Estadual de Terras para tanto, mas que nunca foi efetivado. O prefeito já esteve lá, mas também não adiantou. Alguns assentados conseguiram, por conta própria, puxar eletricidade até seus lotes. Vários não têm luz. Para terem água, cavam poços rasos, cuja água serve apenas para banho, irrigação e lavar roupas. Para consumo, precisam buscar água na sede do assentamento, que como constatamos fica bem distante de alguns lotes. Várias casas, inclusive a do Pedro Paulo, ainda são de lona. No período das chuvas, final do ano, boa parte do assentamento alaga e acaba impossibilitando a produção. Além das estradas internas do assentamento, que são precárias (não é a toa que às vezes os carros e caminhões quebrem). Isso torna a vida muito difícil no assentamento, o que tem levado alguns jovens a abandonarem os lotes e irem para a cidade. Os lotes abandonados ficam à mercê de criadores de bois e de empresas de extração de areia, que aos poucos vão tomando o local.

Esta questão criou uma problemática difícil de resolver, especialmente a ocupação para extração de areia. Aconteceram conflitos, e também ameaças de morte aos membros do MST por parte das empresas de areia e dos proprietários de gado. Mesmo com todos estes obstáculos, e inclusive divisões dentro do assentamento acabou ficando definida a politica de assentados que abandonaram a área ou venderam não continuarem e chamar companheiros de acampamentos da região para se estabeleceram nos lotes, fortalecendo a luta do assentamento. Isto tem causado pode proporcionar um avanço importante no fortalecimento do mesmo. Eles também tem ameaças da milícia local.

Havia vários políticos presentes que discursaram e um grupo de advogados que ajuda o assentamento em questões jurídicas. Eles abordaram a questão do cancelamento do PNAE pela prefeitura de Caxias, que era o grosso das compras dos produtos deles. No entanto, uma advogada que discursou parece que conseguiu reverter esse cancelamento.

Marcos Lima trouxe a observação: “me preocupou é de se eles vão conseguir trabalhar a arenosidade daquele solo. Talvez a Ligia pudesse conversar com o Cosme para saber que tipo de assistência técnica eles estão tendo. Assim também teríamos ideia do real prognóstico de vegetais que eles poderão nos fornecer.”

Apesar de todas essas dificuldades, a gente de lá resiste e planta de tudo um pouco. Não só resistem, mas se alegram e se orgulham com sua produção. Além da mandioca e da banana, há hortaliças diversas, cana, melancia, tomate, cebola, feijão, plantas medicinais, entre outros. No caso, vários destes não em quantidades que possam abastecer a Rede. Enfatizam sempre que produzem sem agrotóxicos. A Rede foi mencionada pelo Pedro Paulo como um dos principais canais de comercialização da produção, o que reforça a importância do nosso consumo. Sem a Rede, provavelmente a situação do assentamento seria ainda mais frágil. Por isso a importância de consumirmos mais os produtos da chamada de frescos, especialmente de produtores como a Coopaterra. Algumas carências têm sido supridas por mutirão dos próprios assentados, mas ainda precisam de recursos financeiros e mais apoio externo. Pensei que talvez possamos apoiar também de outras formas além do consumo, como um mutirão para ajudar nos melhoramentos necessários, um recurso do Campo e Cidade se Dando as Mãos ou alguma outra forma de levantar fundos. Eles precisam de mais apoio, tanto público quanto da sociedade civil.

Para informação de toda(o)s: está sendo planejada, possivelmente para o dia 29 de julho uma ida ao assentamento pela comissão de cozinha, integrada por Bibi Cintrão, Milca Colombo, Beth Bessa. A ideia é elas realizarem uma oficina repassando formas de preparo do aipim, que possam virar produtos. Sarah está encaminhando a possibilidade de que os franceses do Chantier possam também estar presentes, conhecer o assentamento e aprender a cozinhar com produtos locais – junto com a Rede! Ainda temos que falar com pessoas do MST dessa possibilidade de levar os franceses lá, mas é a ideia é esta! Seria ótimo!

Quanto à festa junina, foi muito boa, com caldos deliciosos, mandioca em várias preparações, doces, cerveja a preços módicos, grupo de forró, casamento na roça, fogueira e discursos de diversas pessoas ligadas ao movimento. Uma pena não termos ficado por mais tempo, pois a van teve que ir embora às 20:30 em função das pessoas que tinham que pegar o metrô.

Seguem algumas fotos da visita e da festa:

https://drive.google.com/drive/folders/1AfjnmS1c1bthZVRCKbDLNiArP1JnLf7U?usp=sharing .

Para finalizar, o assentamento está precisando de um freezer. Se alguém puder doar, ou vender barato, aí nosso fundo rotativo entra em ação!

Este assunto parece que se resolveu, Paloma Medina de Santa vai doar um freezer seu.