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Relato da 4ª Visita ao Assentamento Terra Prometida

A 4ª Visita ao Terra Prometida, no dia 14 de abril de 2019, foi organizada pelo núcleo Grajaú (Cida, Carol Figueiredo, Flávia Salgado e Beth Bessa). Joana Moreno, jovem de 16 anos, aluna da Flávia Salgado do ensino médio, se surpreendeu por ser uma região bem perto de área urbana, mas “muito rural”, segundo ela. Esse dia se diferenciou bastante das três visitas anteriores. Contudo, fomos recebidos com o mesmo carinho e o belo café da manhã de sempre: batata doce, café com leite e queijo fresco, mas, depois, partimos para um jornada diferenciada das anteriores (veja também o relato da Joana).

Isso porque, nos dias que antecederam a nossa visita, Juliana – uma das principais interlocutoras da Rede, no Assentamento – falou do aumento da tensão com os areais naqueles últimos dias e da importância, ainda maior, de que recebessem visitantes, como estratégia de demonstração de força. Convidou-nos, então, para participarmos da ocupação do lote 3, plantando mudas, como prática pacífica de luta contra esse crime ambiental já instalado nesse lote em questão.

É que se aproximava a exploração de areia presente em vários pontos da APA do Iguaçu – Área de Proteção Ambiental do Alto Iguaçu – já se faz ver em diferentes pontos do caminho, com seus poucos homens, operando máquinas barulhentas, seus montes de areia alocados ao lado de poços fundos e de uma água verdinha.
Se os areais já vinham sendo denunciados pelo assentamento, graças à sua condição de crime ambiental e ao seu claro impacto sobre a paisagem, sobre o lençol freático da região, entre outros, naqueles dias, o seu avanço punha em risco, também, um dos lotes do assentamento.

É que a família responsável por aquele lote não resistiu à oferta de ganho/dia oferecida pelos donos do areal, infinitamente maior que o ganho de um produtor agroecológico e isso acabou dando início a um acordo ilícito, o que acarretou a perda do lote pela família que não poderia ter feito esse acordo. Numa clara demonstração de força e de enfrentamento, uma máquina foi, então, instalada mais perto do local.

Diante disso, os dias que antecederam a nossa visita foram marcados pela tensão e a dura decisão de retomar o lote ao Assentamento e de conceder o seu direito de posse a uma nova família realmente empenhada em realizar a “função social da terra” de produção de alimento.

Daí, sermos convidados a apoiar essa nova ocupação, lançando as primeiras sementes e mudas no solo. Na parte mais alta do terreno, onde será construída a casa da família do assentado – um rapaz sorridente que não vê a hora de trazer a família – plantamos uma muda de pau-brasil que foi presenteada a cada lote do Terra Prometida. Depois disso, enquanto um grupo, acompanhava o Cosme para pegar mudas de bananeira, os outros delimitavam o espaço da horta com bambus para, na sequência, orientados pelas jovens graduandas do curso de Licenciatura em Agroecologia da UFRJ, irmos com as enxadas, cavando os “berços” para as mudas de berinjela e os grãos de feijão que debulhamos.

Enquanto uns, para fazer uma cerca de ora-pro-nóbis, cortavam os bambus próximos ao açude em que se podia ver a máquina do areal em pleno funcionamento, outro grupo plantava ao longo da cerca da fachada, mudas de hibisco para o embelezamento do espaço.

As mãos se revezavam nas enxadas e na colocação das mudas nos berços, um papo bom entremeava o trabalho.

Varados de fome (rs), felizes pela contribuição, mas tristes e chocados com o abandono da situação pelo poder público,voltamos para a sede da Cooperativa e comemos um belo almoço, seguido da roda de conversa que esclareceu o histórico do Terra Prometida, desde as primeiras tentativas de assentamento, em Santa Cruz, até a sua chegada àquela região de Duque de Caxias e Nova Iguaçu onde, finalmente, tem conseguido desenvolver a produção e distribuição de alimentos, apesar de precariedades, como a falta de energia elétrica em todos os lotes e, também, apesar da demora e do fato de que nem todas as famílias receberam os apoios previstos pelo Estado às comunidades assentadas, como o crédito rural, por exemplo, que ainda não saiu para todas. Além do nosso grupo, mais pessoas mobilizadas pela situação dramática do Assentamento participaram da nossa roda que foi muito esclarecedora: Marlucia, historiadora do Museu Vivo do São Bento nos contou sobre a história dessa região; Helenita, professora de Caxias e membro do SEPE, nos relatou os desafios enfrentados pela educação; entre outros presentes que não se manifestaram.

Depois de um abraço coletivo e de um canto de finalização, soubemos da Audiência com o ITERJ que aconteceria no dia seguinte. Em seguida, foi a vez da feirinha e de sair correndo para não pegar muita chuva no caminho. Saímos de lá muito tristes, indignados com o poder público e extremamente preocupados!

“Então chegou a hora das palestras. Foram algumas horas explicando diversas questões e até ameaças sofridas por eles (uma tinha sido no dia anterior então fiquei meio preocupada). Pudemos entender e viver um pouco a realidade deles, vimos que eles estão deixando a terra produtiva de novo e contribuindo muito bem para o ecossistema local e para os movimentos de agricultura e consumo orgânico. É graças a eles também que temos comida de qualidade em nossas mesas. As falas foram longas e construtivas, todos ali pareciam entender a importância de estarmos presentes naquela hora. Foi um dia bem aproveitados e que nos fez entender coisas muito pouco faladas e que acabou ajudando o Assentamento também. Depois quero voltar pra ver como ficou a nossa plantação.” Joana Moreno (aluna do 2o ano do EM)