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Relato da oficina de cozinha do Terra Prometida

No dia 17 de julho de 2019, após muitas conversas preparatórias, foi realizada uma oficina de cozinha no Assentamento Terra Prometida, organizada pela Comissão de Cozinha da Rede Ecológica do Programa Campo-Cidade, em parceria com os grupos de mulheres do Assentamento Terra Prometida e de Vargem Grande e com o Instituto Maniva (convidado, através da chef Teresa Corção). Participaram 25 mulheres, conforme lista ao final.

Foi um momento de intensas trocas e solidariedade entre estas mulheres que estão organizadas em grupos tendo a culinária como opção de geração de renda, com o compromisso de apoiar os produtores locais e de levar aos consumidores uma mensagem política e da agroecologia. O Assentamento com sua experiência de cozinha coletiva, Vargens com a experiência da comercialização de processados na Feira e as ecochefes com a experiência de ficha técnica e comunicação.

Na parte da manhã, numa roda geral, as presentes apresentaram sua história, falaram sobre como estão se organizando, como fazem para vender. Elas estão envolvidas em diferentes lutas (pela terra, pela moradia, pela agroecologia, pela saúde alternativa). Surgiram questões como a valorização dos produtos locais e das receitas ancestrais (das avós), “os saberes reais” , a importância da Soberania Alimentar, a riqueza do aipim (carro-chefe do assentamento Terra Prometida) e que as feiras e as compras coletivas vão além da comercialização, porque são um espaço político de respeito à agricultura consciente.

Mencionou-se, com muita preocupação, a dificuldade de acesso que a população mais pobre, incluindo os próprios agricultores, ainda tem aos alimentos agroecológicos. Destacou-se a necessidade de aproximar os produtores dos alimentos processados orgânicos. Constatou-se que “a agroecologia é um conceito de vida, é um resgate”, mas infelizmente “ainda é de branco”. Falou-se dos problemas enfrentados pelas mulheres negras, do machismo, embora tenha ficado muito claro que “as mulheres têm um papel fundamental nas lutas”,de uma maneira geral. Viu-se também de extrema importância o fortalecimento da juventude para a continuidade das lutas.

Apontou-se a falta de comunicação entre quem precisa dos produtos e quem os produz como um grande empecilho para que a produção avance e traga benefícios. Foram abordadas também questões mais práticas de como selecionar os ingredientes, como fazer o cálculo do preço dos produtos para venda, como fazer um “marketing do bem”, pensando-se também na propaganda dos produtos, importante para a sustentação econômica no mundo atual. Tratou-se de questões como identidade, coletividade, sedução, parceria e sazonalidade.

Na hora do almoço, em volta de uma mesa rica em receitas feitas com aipim, cada participante falou da receita que levou, algumas delas receitas vendidas: bolo (doce), purê, caldo, empadinha com massa de aipim, rocambole de aipim, torta salgada, nhoque, pão com aipim, além de outras. O que deixou claro na prática as potencialidades do aipim. O CEM, já como retorno de encontro realizado em Vargem Grande no inicio do ano sobre o apim e a tapioca, já começou a vender a tapioca na feira.

Na parte da tarde foram aprofundadas as trocas sobre a organização interna dos grupos para a venda, com o desafio de ao mesmo tempo incluir mais mulheres, trabalhar conjuntamente, dividir o trabalho e a renda. O cuidado com as pessoas apareceu como algo importante. No Terra Prometida duas vezes por semana as mulheres estão fazendo mutirão, cada dia numa propriedade. Houve também um momento específico para aprender a fazer a composição do preço e conversar sobre o marketing dos produtos. Enquanto dois grupo discutiam sobre as questões acima, um terceiro fazia na cozinha uma receita d chips (biscoito) de mandioca (Bibi), material comercializado e pouco usado pela Rede. E foi ensinado um biscoito frito feito com a massa do aipim (Miriam).

Na avaliação final, ficou claro que todas se sentiam muito bem por terem participado e contribuído para um dia de bastante aprendizado, muitas trocas, muitos riso, poesias, música e muita história de luta. Não foi à toa que todas pediram por mais! Ficou um indicativo de ter uma continuidade nas trocas, com um novo encontro a ser realizado, na 2a segunda-feira de setembro (09/set), no Quilombo de Vargem Grande.

Algumas falas:
“O que você sustenta quando se alimenta?”
“Eu acho que através da comida eu vou salvar o mundo.”
“Alimentar é amar.” “É uma obrigação você se alimentar bem.”
“Morar em Vargem Grande é lutar.”
“A defesa do morar e do plantar é uma coisa só.”
“A cozinha é trincheira de luta”.

A atividade teve inscrição gratuita e cada participante levou um prato, com inspiração no aipim. As mulheres do assentamento prepararam arroz, feijão e uma salada e garantiram o aipim para o café da manhã. O Programa Campo-Cidade apoiou com combustível o deslocamento das mulheres de Vargem Grande, que conseguiram um veículo emprestado. As caronas solidárias: Cida (Grajaú) participou e levou uma parte das pessoas e Flávia Salazar (Grajaú) gentilmente emprestou seu carro, mesmo sem ter ido. As demais participantes ratearam o combustível, havendo um pequeno saldo.

O valor doado pelo Programa Campo-Cidade, descontado o rateio, foi de R$ 60,00. Bel Corção nos brindou com belas fotos profissionais.

Participantes da oficina:
– Rede Ecológica: Beth Bessa (Grajaú-coord) e Bibi (Santa-coord), Cida e Milca (Grajaú), Diana (Caxias)
– Assentamento Terra Prometida: Juliana (coord), Bianca, Luzia, Marilza, Miria, Miriam, Shirley
– Vargem Grande: Ana Santos (coord): Giovanna, Fernanda, Gisele, Maraci, Sarah e Nicole
– Instituto Maniva: Teresa Corção (coord), Bianca Barbosa, Bel Corção