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Reportagem do The Intercept sobre o plástico

Os alunos da Westmeade Elementary School trabalharam duro em seu dragão. E valeu a pena. O saco de plástico que as crianças pintaram de verde e enfeitaram com dentes brancos triangulares e uma placa dizendo “me alimente” garantiu aos estudantes do subúrbio de Nashville, nos EUA, o primeiro lugar em um concurso de decoração de caixas de reciclagem. A ideia, como o orgulhoso diretor de Westmeade disse a um programa de TV local, era ajudar o meio ambiente. Mas a verdadeira história por trás do dragão – como acontece com grande parte da escalada da guerra pelo lixo plástico – é mais complicada.

O concurso foi patrocinado pela A Bag’s Life, um esforço de promoção e educação de reciclagem da American Progressive Bag Alliance, a APBA, um grupo de lobby que luta contra as restrições ao plástico. Essa organização faz parte da Plastics Industry Association, um grupo comercial que inclui a Shell Polymers, a LyondellBasell, a Exxon Mobil, a Chevron Phillips, a DowDuPont e a Novolex – todas as quais lucram com a produção contínua de plásticos. E mesmo quando a A Bag’s Life encorajava as crianças a espalhar a mensagem edificante de limpar o lixo plástico, a American Progressive Bag Alliance estava apoiando um projeto de lei que tiraria dos moradores do Tennessee a capacidade de lidar com a crise dos plásticos. A lei tornaria ilegal que os governos locais proibissem ou restringissem as sacolas e outros produtos plásticos de uso único – uma das poucas coisas que realmente reduzem o desperdício de plástico.

Uma semana depois do dragão de Westmeade vencer o concurso, a APBA recebeu sua própria recompensa: o projeto de lei passou pela legislatura estadual do Tennessee. Semanas depois, o governador assinou a lei, sabotando um esforço em andamento em Memphis para cobrar uma taxa pelas sacolas plásticas. Enquanto isso, A Bag’s Life dava às crianças da Westmeade que trabalhavam na caixa um cartão-presente de US$ 100 para usar “como bem entendessem”. E, com isso, uma minúscula fração de sua vasta riqueza, a indústria de plásticos aplicou um verniz verde à sua cada vez mais amarga e desesperada luta para continuar lucrando com um produto que está poluindo o mundo.

A Bag’s Life é apenas uma pequena parte de um esforço massivo liderado pela indústria que busca sufocar as tentativas de redução do desperdício de plástico, mantendo viva a ideia de reciclagem. A realidade da reciclagem de plásticos? Ela está praticamente morta. Em 2015, os Estados Unidos reciclaram cerca de 9% de seus resíduos plásticos e, desde então, o número caiu ainda mais. A grande maioria dos 8,3 bilhões de toneladas métricas de plástico já produzidas – 79% – acabou em aterros sanitários ou espalhados pelo mundo. E quanto àquelas sacolas plásticas que as crianças esperavam conter: menos de 1% das dezenas de bilhões de sacolas plásticas usadas nos EUA a cada ano são de fato recicladas.

Isso não quer dizer que não devamos tentar descartar adequadamente o conjunto de brinquedos, embalagens descartáveis, garrafas, sacos, recipientes para viagem, copos de café, canudos, sachês, potes de iogurte, sacolas, embalagens de barras de chocolate, utensílios, sacos de batatas fritas, tubos de produtos de higiene, eletrônicos e tampas para tudo o que passa diariamente em nossas vidas. Temos que fazer isso. Mas estamos bem além do ponto em que os esforços sinceros de crianças em idade escolar ou de qualquer outra pessoa do lado do consumidor possam resolver o problema dos plásticos. Não importa mais o quanto nos preocupemos. Já existe plástico demais que não se decompõe e, finalmente, não tem para onde ir, seja ele triturado em um recipiente de dragão ou não.

Leia mais no link a seguir: https://theintercept.com/2019/07/28/como-industria-plasticos-luta-para-continuar-poluindo-o-mundo/