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Relato da 7a Visita ao Assentamento Terra Prometida, organizada por Santa Tereza

A sétima visita ao assentamento Terra Prometida foi organizada pelo núcleo Santa Teresa. Decidimos quem iria organizar numa reunião de núcleo e foi fácil, logo Paloma, Graciela e Julia se prontificaram.

As orientações dadas pela comissão do assentamento estão muito boas e apesar dos arquivos estarem um pouco bagunçados, deu para a gente se localizar bem sem pedir muitas instruções.

Tentamos seguir o passo a passo das datas, mas acabamos nos atrasando um pouco. Divulgamos o convite nos grupos de whatsapp da Rede mas foi surpreendente a resposta que tivemos ao colocar no facebook; muita gente interessada, num imediatismo. Se tivéssemos colocado várias vezes a procura seria imensa. Pessoas variadas, interessantes, de vários bairros e municípios. Ao mesmo tempo, fomos estreitando nossas relações com o assentamento na intenção de construirmos coletivamente o roteiro da visita.

Como tínhamos muitos inscritos com carros, e um deles com um carro para 7 pessoas, pudemos  dispensar a van, além disso teria sido muito complicado encontrar um ponto de encontro, já que éramos de várias partes do Rio de Janeiro. Julia assumiu essa parte das caronas, o que deu bastante trabalho, mas no final valeu a pena.

Colocamos umas duas pessoas a mais do estipulado do ideal de 30 (fora crianças) mas algumas tiveram incidentes em cima da hora e não puderam ir, mas apesar disso depositamos todo o valor arrecadado. Sem devolução. E tinham muitas crianças, umas 5, e 28 adultos.

Como o Arco Metropolitano tem má fama, mas é o melhor caminho, resolvemos ir em comboio. Nos encontramos todos na Casa do Alemão e de lá seguimos viagem. Foi um primeiro encontro muito amistoso, todos simpáticos e animados. Um dos participantes sabia o caminho para a Escola Municipal Sargento João Délio, nosso destino seguinte, então tudo ficou mais fácil. Julia, Aline e as meninas ficaram esperando uma retardatária, mas ela conseguiu achar também. Chegando na Escola fomos orientados pelo Daniel a perguntar: “onde ficam os sem-terra” e o primeiro que a gente perguntou soube responder.

Já no caminho, vimos os areais (é impressionante se olharmos pelo google maps satélite, já tinha visto aquelas águas esmeralda antes, mas não entendia do que se tratava). Esta é uma questão delicada do assentamento pois sempre fica o medo de usarem suas terras.

Chegamos lá fomos muito bem recebidos pelos companheiros do MST com um maravilhoso café da manhã: café, chá, um delicioso bolinho de aipim que esperamos que eles vendam em breve na Rede, batata-doce, aipim cozido, etc…

Tivemos uma rápida apresentação de todos e os produtos da feirinha. Esses produtos da feirinha tomaram muito tempo. Alguém falava o que tinha, valor e as pessoas falavam se queriam ou não. Ficamos uma hora nisso. Achamos que este detalhe da visita precisa ser revisto e melhor organizado. Podiam fazem um papel já com colunas e cada um marcava o que queria, por exemplo, ou passar a lista antes e os organizadores fazem esse planejamento. No nosso caso foi pedido antes, mas disseram que era na hora mesmo.

Em seguida fomos visitar o lote do senhor Ismael, fomos todos de carro, e alguns assentados nos acompanharam. Ismael é um senhor que já passou por muita coisa. Ele contou vários acontecimentos da vida dele ligado à terra, falta de estrutura e água, de exploração, violência… Sua casa é bem simples, um cômodo só de lona, tem também um galinheiro e muitos cachorros. Vimos a plantação de aipim, e plantamos lá algumas alfaces e rúculas.

Agosto foi um mês bom, pegamos um dia muito bonito de sol, mas sem calor excessivo. No caminho de volta teve a opção de caminhar ou de voltar de carro. Passamos pelo lote do Tiozinho (que vimos só por fora) e da Luzia (onde entramos para conhecer). Ela está fazendo uma casa nova perto, pois essa casa de agora é muito precária, de lona. Ela contou um pouco da sua luta, das cheias do rio, como isso prejudica eles…. Alguns dos que estavam de carro pararam na casa da Luzia, mas outros pegaram um outro caminho e sem querer seguiram direto para a sede.

Chegamos na hora do almoço: arroz, feijão, umas folhas cozidas, aipim, batata doce, farofa, um prato com aipim e lingüiça. Está no passo-a-passo fazer uma ficha dos pratos, mas realmente não vimos necessidade nenhuma, qualquer coisa era só perguntar. Ao final o mais importante é a troca. Comida muito boa, muito bem temperada. Para beber tinha água e um refresco de limão com jenipapo. Tudo muito bom.

Depois do almoço tivemos a roda de conversa. Daniel falou, depois Luzia. Nisso chegou a Bia, o Cosme veio depois e se juntou a ela. Falaram como chegaram lá, as dificuldades que passam, todos puderam sentir um pouco como é a vida de um assentado no Brasil e a necessidade de Reforma Agrária Popular já, mas com alguma infraestrutura.

A terra deles é difícil, uma terra que foram empurrados para ficar. E muitos não ficam, porque é tudo muito precário e um solo que exige muito trabalho, ainda mais sem os recursos prometidos que nunca vieram. Um assunto muito presente é a difícil posição entre duas frente de ataque: os areais e a Danone. A Danone, num jogo de faz de conta, deu os galinheiros e alguns insumos para os assentados com a condição de que produzissem orgânicos, já que a empresa tem interesse em preservar a qualidade da água, que seria afetada pelo uso de pesticidas, e também em “comprar” a produção deles e revender com marca própria nos supermercados mais chiques. Os assentados aceitaram os bens, mas não estão vendendo para a Danone! Toda semana informam de que “já venderam tudo”…

Depois da roda de conversa os produtores começaram a chegar com os produtos da feirinha. Fizemos a feirinha, nos despedimos e voltamos para casa.

Ainda estamos em processo de recolher os relatos das visitas, mas o que podemos avaliar nesse encontro foi o ótimo acolhimento por parte deles. Foi um grupo muito bacana de interessados, todos com o intuito de conhecer de uma forma muito positiva, e pudemos de fato sentir a alegria de todos por estarem compartilhando essa experiência e vivendo esse dia. Entendemos a importância dessas visitas para o Assentamento, quando se pode dar visibilidade ao trabalho, produção e lutas, mas também aos visitantes, que acabam se informando e se formando mais politicamente sobre o tema.