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Diana Rosa: Conheça melhor essa produtora de pães artesanais

Amig@s da Rede/CG,

Apresento o relato de minha experiência pessoal a partir do relacionamento com a Rede Ecológica no Núcleo de Caxias, iniciado em fevereiro de 2018 e finalizado em janeiro de 2020. Este relato inclui, obviamente, minha percepção sobre o desenvolvimento do Núcleo Caxias durante este período que participei.

Conhecendo a Rede Ecológica
Através da Prof.ª Claudia Schmitt, do CPDA, conheci a Rede Ecológica numa reunião da CG da qual Mariana Silva do núcleo Caxias, se fazia presente. Residente em Lote 15 / Belford Roxo, o Núcleo de Caxias se apresentou como o mais adequado para minha associação, que se iniciou em fevereiro de 2018.

Encantada com a proposta da Rede, consegui em pouco tempo dar um salto de qualidade na alimentação da minha família, e em 2019 meu consumo de alimentos agroecológicos já estava em 90%. Assumi no núcleo o serviço de finanças no primeiro semestre de 2019. A saída da Mariana Silva, por questões pessoais, deixou o núcleo bem abalado, já que ela era um esteio para todo o grupo. No segundo semestre assumi a CG e com a entrada de mais gente, o número de associados se equilibrou, ficando na média de 12 pessoas. Com esse número de associados, Caxias passou a arcar com sua cota mensal junto aos custos da Rede se tornando então sustentável, mesmo sendo um núcleo com associação popular.

Participei da visita ao Assentamento Terra Prometida em julho/2019, e fiquei deslumbrada em saber que estavam tão perto da minha casa. Fui convidada por Milca e Beth Bessa para participar da oficina de Cozinha e a partir deste momento passei a integrar o grupo de Mulheres do Terra Prometida.

Ponto de Partida
Trabalhei no CPDA durante o período de 2014 a 2019 e minha atuação consistia em assessorar os pesquisadores e a coordenação do Programa a partir de prestação de serviços. Com o desmonte da educação iniciado no governo Temer, os financiamentos para pesquisa foram reduzidos e, consequentemente foi diminuindo a demanda para meu trabalho. Tentei concursos para a educação nas várias instâncias (municipal, estadual e federal) e para várias localidades diferentes. Consegui a aprovação na maioria desses concursos, porém em classificação desfavorável, não fui convocada ainda. Diante desse contexto, vivi em 2019 o drama do desemprego.

Os Pães Artesanais
Paralelo a esses fatos, iniciava a produção de pães artesanais para consumo próprio – um sonho antigo do meu companheiro Luciano – com um diferencial: usando trigo orgânico e fermento natural. E por sugestão do Luciano participei de uma oficina na Padoca do Alex – um projeto muito interessante de pães artesanais, que me possibilitou aprender muito sobre a arte da padaria artesanal.

Os pães foram ganhando apreço entre os amigos e quando Miriam Langenbach o experimentou me propôs de apresentá-lo à Comissão de Secos e Frescos. Desde outubro de 2019 a Rede Ecológica compra meus pães. Esta relação com a Rede veio me ajudar na construção de uma nova forma de geração de renda.

Em fevereiro, mês do meu aniversário, ganhei de presente um curso de panificação no Ateliê do Boulanger, em São Paulo.

Condições de trabalho
Minhas condições de trabalho estavam bem limitadas. Fazia os pães na cozinha da minha casa em Belford Roxo, preparando a massa manualmente e assando num forno de lastro que consegui emprestado. Nessas condições minha produção tinha o limite reduzido de 18 quilos de massa por semana. (20 pães de 900g ou 40 pães de 450g). A necessidade de melhorar minhas condições de trabalho, somado ao aumento da violência na Baixada Fluminense, principalmente em Belford Roxo, me fizeram buscar um novo espaço.

Tanguá
Nascida em Tanguá/RJ – município pequeno de aspecto rural que fica a 67 km da capital, sentido Região dos Lagos – onde toda minha família reside, alimentava a esperança de voltar habitar a terra natal e sair do tumulto da cidade grande. Com as oportunidades de trabalho desfavoráveis e muito mais disputadas, o retorno para Tanguá era um plano para aposentadoria. Minha irmã e seu esposo, que tem um pedaço de terra ainda em inventário – o Sítio do Tio Chico, tem na propriedade uma casa que estava sem condições de moradia e também não possuem recursos para recupera-la afim de geração de renda a partir do aluguel. Nossa proposta foi recuperar a casa abandonada para a instalação da panificadora e moradia. Nosso acordo é transformar o recurso investido em crédito de aluguel e formar parceria com o casal, que, como a maioria da população brasileira, vive a dificuldade de gerar renda para sustentar seus filhos.

Tanguá é um município produtor de laranja e até onde eu conhecia, a produção agroecológica estava muito distante do ideal. Alguns poucos moradores da região rural com situação financeira estabelecida, levantam essa bandeira. O uso de glifosato para controle do mato é uma prática muito difundida e sem nenhum controle.

Morando aqui, descobri pequenos produtores que, por não terem condições de custear os venenos, deixaram suas propriedades ao vento, e vendem o que a natureza produz. Aqui no sítio do Tio Chico temos as frutíferas: jabuticaba, pitanga, jamelão, goiaba, mamão crioulo, manga, acerola, amora, cajá, abiu, limão, jambo, bananas. Espalhados pelo terreno temos ora-pro-nóbis, taioba, azedinha, alfavaca, cidreira, colônia, alecrim do campo, boldo (dos que eu consegui identificar). Todas essa beldades nascidas sem planejamento, a cargo da natureza.

A preparação do espaço
O espaço de terra com a casa que habitamos tem uma extensão aproximada de 4.000 m², nos permitirá outras produções (galinhas, codornas, e pequenas plantações) para subsistência nossa e de nossa padaria.

Decidimos investir a reserva que conseguimos fazer ao longo de nossa moradia em Belford Roxo – morávamos na casa da família do meu esposo sem aluguel – na recuperação da casa e na compra de equipamentos para otimizar a produção. O dinheiro deu para colocar a casa habitável (instalação de energia e água, cercas e grades de segurança) e comprar o básico de equipamentos: mesa de inox, batedeira de médio porte, balança, pia de inox grande, além de preparar dois cômodos da casa para a padaria.

Fazia parte do nosso projeto comprar um forno de convecção e um refrigerador de porta de vidro. Mas o infortúnio de um furto dos cabos de energia e peças da rede elétrica da casa (cerca de 6.000 a 7.000 reais) nos fizeram segurar esta compra e continuar a usar esses equipamentos emprestados de familiares, até que consigamos reunir de novo esse montante.

Chegamos em Tanguá no dia 05/01/2020 logo após o furto. Muito abalados e assustados, decidimos entrar na casa do jeito que estava para concluir a preparação já morando aqui, para evitar que o incidente se repetisse. Morando aqui, percebemos o tanto que temos por fazer e nos adaptar à nova rotina. Toda minha família está me ajudando muito, e se não fosse esse apoio, talvez eu já teria desistido dessa empreitada. Nosso dinheiro já acabou e ainda temos muito o que acertar. Nossa prioridade é a parte da produção de pães, que já está funcionando, mas ainda por concluir os detalhes.

Projetos
Em parceria com minha irmã e meu cunhado, estamos planejando, para início imediato, a criação de codornas, tendo a cooperativa Biorgânica como fornecedora dos insumos para a produção da ração. O Sítio do Tio Chico já produziu codorna no passado, então possui uma construção para o viveiro. Vamos recuperar este espaço e retomar essa criação com os princípios agroecológicos. Portanto, muito em breve teremos ovos de codorna para oferecer.

Os vizinhos com frutas sem veneno já manifestaram interesse em conhecer técnicas de manutenção de seus terrenos sem o uso de pesticidas e agrotóxicos. E até mesmo os que cultivam tradicionalmente suas terras, estão curiosos para saber como podemos mudar a prática predadora e iniciar uma relação mais saudável com a terra. Tenho falado muito do cultivo consorciado de espécies para amenizar o ataque das pragas.

Já estamos planejando um encontro com os interessados para iniciar esse diálogo.

Chá de Roça Nova
Pretendemos realizar um “chá de Roça Nova”, pedindo aos amigos a doação de instrumentos usados para o trabalho na roça: enxada, enxadão, foice, facão, machado, ancinho, cavadeira, tesoura – vassoura – colher de jardim, tubos para mudas, mudas, sementes, entre outros. A data do evento está prevista para o dia (08/02 (meu aniversário de 45 anos será no dia 07/02).

Temos ainda a necessidade de equipamentos e coisas para a casa, como mesas e cadeiras, prateleiras, estantes, mosquiteiros (tela para janelas), baldes, galões, entre outros.

Produtos que podemos fornecer a Rede Ecológica

Além do Pão artesanal (450g e 900g) temos:

Processados para venda:
Requeijão cremoso / 200g – R$ 6,00
Suco de folha de cajá s/açúcar / 300ml – R$ 3,00
Suco de folha de cajá com limão s/açúcar / 300ml – R$ 3,25

Produtos do Sítio do Tio Chico e vizinhos:
Orapronobis / 100g – R$ 5,00
Limão Taiti / dz – R$ 6,00
Banana figo / dz – R$ 7,00
Banana d’água / dz – R$ 4,50
Banana prata / dz – R$ 4,50
Acerola / 200 g – preço a conferir
Jamelão / 200 g – preço a conferir
Mamão formosa / unid – preço a conferir
Manga / unidade – preço a conferir

Processados em fase de teste:
Bolo de linhaça com banana
Bolo de linhaça com limão

A paz
Hoje (20/01/2020) completam 15 dias da nossa vinda para Tanguá. Temos muito o que fazer e ao chegarmos enfrentamos o desgaste emocional e financeiro do furto do material elétrico. Mas, de coração, o contato com a natureza, o som dos bichos, a benevolência da terra nos permite sentir a paz no coração e alimentar a esperança de viver em harmonia com a natureza.