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Para Entender o surgimento do Projeto BEM VINDO da Associação Suíça de Amigos da Rede Ecológica

Tudo começou no ano passado, em agosto de 2019, não faz muito tempo, Leonor Hernandez da Suíça e Miriam Langenbach do Brasil se conheceram no casamento de amigos comuns, para o qual Leonor veio especialmente. Houve muita afinidade entre ambas, apesar da diferença entre gerações, na maneira de perceber as situações e na sinceridade da fala, de modo que parecia que já éramos velhas amigas. Tanto que, depois que Leonor voltou à Suíça, a troca continuou e a amizade foi se consolidando.

E aí veio a pandemia. Miriam saiu de sua casa para acompanhar a filha e neta para o litoral norte fluminense, um espaço novo para todas. Sua vida habitual pareceu de repente se desmontar, e aos setenta e seis anos, isto não é fácil. Primeiramente pois há 29 anos está entrelaçada à Rede Ecológica, com sua parte presencial. Perdeu seu encontro no núcleo Urca (a Rede tem 10 núcleos onde os produtos são buscados pelos associad@). Não só Miriam perdeu os produtos, de qualidade maravilhosa, mas perdeu o encontro semanal com outr@s associad@ de seu núcleo.

Foi muito bonito ver que a Rede Ecológica, com todos os cuidados necessários, conseguiu manter as entregas de produtos frescos semanalmente e uma vez por mês os secos (arroz, feijão, fubá, açúcar, café, queijos, farinha, castanhas, mel, produtos de limpeza, etc.) em tempos de pandemia, quando a hegemonia dos supermercados só aumentou.

Além de sentir este afastamento da Rede Ecológica, Miriam perdeu sua casa, em que vive há 40 anos, fazendo compostagem, com banheiro seco, telhado verde com uma hortinha, tudo isto ficou para trás. Além das pessoas queridas a quem são alugados quartos, e que foram embora. A casa foi fechada.

O que acabou acontecendo foi que Miriam acabou retomando intensamente a Rede Ecológica, momento no qual uma outra amiga, alemã, Julia Stadler, associada da Rede Ecológica há 11 anos, compartilhou que tinha pedido apoio financeiro a sua família e amigos na Alemanha, e com isto estava levando alimentos frescos da Rede para 3 grupos de população de rua. Ela apontou que nossa linha da ação deveria ser, neste primeiro momento emergencial, de doação de nossos produtos frescos, uma forma de apoiar nossos produtores agroecológicos, também muito ameaçados, fazendo comida de verdade chegar à população em maior risco. Este encaminhamento trabalha sobre nossa cultura alimentar, em que a comida processada, hiper processada, cheia de agrotóxicos, é a única opção que se oferece à população mais pobre. Este momento poderia ser uma abertura, uma oportunidade de mudança, com isto fortalecendo nossa soberania alimentar.

A busca de apoio que Julia tentara no exterior despertou em Miriam o desejo de fazer o mesmo. A primeira pessoa que lhe ocorreu foi Leonor, que imediatamente percebeu a urgência, a preocupação, e correspondeu, através de uma doação pessoal, e sugerindo a criação de uma associação de Amigos da Rede Ecológica na Suíça. Vocês não podem imaginar a surpresa, a gratidão que isto despertou em Miriam! Jamais sonhara com uma reação destas! Desde então, isto faz 2 semanas, Leonor trabalha incansavelmente, mobilizando várias outras pessoas para tornar viva esta associação, lançando a campanha BEM VINDO. A Maya, Blanca, Fátima, …. gratidão imensa! São suíços que estão se dedicando voluntariamente dias e dias para tornar esta campanha exitosa. E entra nesta história Caroline Leduc, jornalista que morou na casa de Miriam, tornando-se também uma amiga, e que está fazendo um vídeo para o site da campanha.

É emocionante esta solidariedade que vem do coração, vem do afeto, e faz as pessoas terem garra, determinação e confiança, possibilitando ações antes consideradas impossíveis. A solidariedade internacional vai ser fundamental para dar consistência a este movimento de fortalecimento das raízes brasileiras.

Mas gostaria de encerrar, destacando que este momento lembra o momento inicial da Rede Ecológica, que sem Sebastiana, assentada produtora rural, Beth e Miriam consumidoras do Rio, nada teria acontecido. Mas sem sombra de dúvida tudo o que se seguiu foi construção de um coletivo maior.

Se cada um perceber a força que tem poucas pessoas para desencadear movimentos, isto pode mudar muita coisa!