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Nossas mulheres plantando: uma no campo, outra na cidade

Primeiramente segue o depoimento de nossa querida Tânia Franco (Humaitá), neste momento afastada do Rio passando a quarentena em seu sítio em Areal:

“Amigxs da Rede Ecológica,

Estou refugiada em uma casinha que fiz em Areal, (próximo à Itaipava) há 3 meses. Sentindo saudades da Rede, mas tendo-a presente todo o tempo a minha volta. Primeiro porque é aqui, na Rede, que encontro as pessoas mais especiais que conheço, que investem sua imensa energia em melhoria nas condições de vida de pessoas pouco assistidas, vítimas da desigualdade que caracteriza nosso país. Jamais me afasto de vocês espiritualmente. Depois, porque também trouxe comigo, para Areal, sementes e mudas que já florescem e dão os frutos que alimentam minha saúde e minha alma. Seguem fotos de parte dessa “colheita”, provando que o que se planta com amor segue se reproduzindo com abundância. Gratidão a todos e, em especial, ao Antunes, que me presenteou com a maior parte do que me rodeia.”

Adelina Araújo (Urca), também nos presenteia com um relato de uma horta urbana que começou a preparar em seu condomínio:

“Sou associada da Rede Ecológica há cerca de 5 anos. Moro no Corte do Cantagalo em Copacabana, de fundos para o parque da Catacumba. Assim, temos o privilégio de ter uma floresta no fundo do prédio, uma área verde maravilhosa.

Na construção do condomínio, os prédios foram assentados num platô sobre a pedra do corte, onde temos espaço para caminhar, uma quadra e um parquinho para as crianças e jardins. Entre as áreas de jardim, havia uma área com 30 X 6 metros junto à parede de contenção, onde tínhamos apenas “mato” e algumas plantas com folhagens que nasceram ao acaso e que eram podadas ou cortadas também de tempos em tempos pelo jardineiro corta. Antigos moradores me disseram que ali nunca nasceu nada porque a terra era muito ruim.

Desde que moro aqui, há 11 anos, pensava que essa área poderia dar uma bela horta. Quando me aposentei há 5 anos, o espaço estava em obra por causa de uma infiltração ocorrida na garagem do prédio. Falei com a administração sobre a possibilidade de fazermos uma horta, mas a ideia não foi aceita. Preferiam gramar a área para não gerar reclamações, mas eu poderia plantar ervas na faixa junto à parede.

Deixei minha ideia engavetada por um tempo, até que, no início do ano passado, comecei a revirar a terra, enterrar folhas oriundas de podas, enterrar meu resíduo de compostagem doméstica e fui semeando hortaliças, plantando mudas que produzi na minha varanda, comecei a entender o ciclo de insolação no local e a descobrir que hortaliças se dão bem no local.

O resultado é que produzimos muita coisa, considerando minha disponibilidade de tempo e capacidade de trabalhar a terra, realmente muito pobre, contendo pedras, entulhos de obra e extremamente compactada. Produzimos salsinha, couve, quiabo, jiló, batata doce, beringelas, chuchu, maxixe, ora pro nobis, bertalha, etc, em quantidades pequenas, mas que me trouxeram muita satisfação, principalmente porque temos muitas crianças no prédio, que passaram a admirar a horta e a pedir para ajudar no plantio e a levar produtos colhidos para suas famílias para prepararem. Descobriram por exemplo que a batata doce nasce embaixo da terra, passaram a admirar o trabalho das minhocas e das joaninhas. Também conheci muitas pessoas de todas as idades, que moram no condomínio. A horta se tornou para mim um espaço de convivência e não apenas um conjunto de apartamentos onde cada família se fecha.

Como nem tudo é perfeito, ainda temos vizinhos que se colocaram contra a iniciativa. Acham que o local deveria abrigar um belo jardim, aquele que nunca existiu. A situação atual é de espera que a pandemia passe e que possamos aprovar numa reunião a continuidade da horta.

O lado bom é que tenho conseguido fazer crescer a cada dia a lista de apoiadores e estou confiante de que, após a pandemia, possamos fazer da horta um espaço democrático, colaborativo e educativo para a produção de alimentos para o nosso condomínio.

As fotos ilustram alguns dos nossos produtos e a participação das crianças.”