Ana Santos: O sábado começou cedinho, às 6h30, com a montagem da Feira Agroecológica e Solidária na favela, na escada da Aimoré que fica entre a Vila Cruzeiro e o Grotão – Complexo de favelas da Penha.
As ações de solidariedade despertam o olhar do/a morador/a que passa a enxergar seu território com mais cuidado e observação. Assim, o lixo passa a ser uma preocupação, as paredes marcadas por balas perdidas e símbolos do narcotráfico também, assim como a falta de plantas. A escada – que é um símbolo e lugar comum da favela –, vai se transformando em muitos mutirões, onde foi feita pintura nos muros, retirada de lixo e a transformação de um terreno baldio em espaço produtivo para encontro e produção.
…parafraseando Drummond, “tinha uma escada no meio do caminho.”
Durante esses 6 meses as doações de alimentos sem veneno têm se apresentado de diversas maneiras. O papel da agroecologia foi fundamental para o resgate de uma cultura alimentar na favela, e a ação solidária passa a ser um processo educativo, de envolvimento local e fortalecimento da agricultura na Serra da Misericórdia.
Foto: a famosa escada da Aimorés
Nesse sábado, a 3° Entrega da Rede Ecológica/projeto Fiocruz junto com a doação da instituição parceira As-pta, iniciou com um delicioso café da manhã: bolo de aipim, uma receita da Mercês, da nossa comunidade, com o leite, aipim e ovo do Coletivo Terra, café da Afojo (Associação de Agricultores Familiares Agroecológicos da Região de Guapimirim), aipim e batata roxa cozida, maionese de inhame e suco de abacaxi. Esse café foi seguido de uma roda de conversa com o Coletivo que trouxe um pouco da luta pela terra, a importância da agricultura familiar e a força que é essa relação campo e favela.
As doações foram expostas em formato de feira e pela primeira vez fizemos algo mais livre, a moradora teve autonomia em escolher seu alimento.
Muito desafiante quando o morador escolhe seu alimento. Mas ai, percebemos muitos valores:
Vou pegar tudo e quem vem depois? O que o morador escolhe? Todos pegam mais de uma verdura? Quem escolhe as PANCS? Qual o valor do alimento que eu estou levando pra casa? As doações vão acabar? Como avançamos?
Foto: Imagem da feira agroecológica
Acreditamos que podemos avançar para a construção de uma feira sem veneno na favela.
Essa troca com Bia, Cosme, Daniel e toda a companheirada do Coletivo Terra, tem nos ensinado a valorizar a terra enquanto direito, o que na prática faz o morador refletir sobre o quanto há uma apresentação de assentados como criminosos. O direito à terra coloca a questão de porque sempre é associado como algo dos ricos, como uma propriedade privada. Não se considera o direito á terra. E foi mostrado como na época da escravidão as pessoas não tinham direito de plantar,
Video: Bia Carvalho, do Coletivo Terra, canta sobre a união campo e cidade
Obs: No dia foram oferecidos 100 bolos produzidos pela comunidade e sabões feitos por produtoras locais (projeto da As-pta).
Receita para 100 bolos de aipim:
• 10kg de aipim ralado
• 2 colheres de manteiga
• 4l de leite
• 2kg de açúcar
• 1kg de coco fresco ralado
• 10 ovos