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Notícias do CEM: a construção da cisterna e a jaca

Já começou a construção da cisterna da campanha ÁGUA É DIREITO, organizada através do Benfeitoria Enfrente. E que contou com o aporte financeiro da Rede Ecológica – projeto Campo e Favela de mãos dadas contra o corona vírus e a fome – financiado pela Fio Cruz.

O projeto inicial era de uma cisterna de 15 mil litros no modelo de cisterna do semi-árido. Mais para frente optou-se por uma cisterna de 72.000 litros.

Por conta das constantes explosões causadas pela pedreira, que fazem o chão de toda s Serra tremer, o projeto que estava sendo orientado por Camelo – Aspta Paraíba, precisou ser alterado pelo pernambucano Michael Katali e conta com a engenheira parceira Amanda Azevedo, do Soltec, para tornar replicável a tecnologia de macropainel de isopor que absorve impactos, evitando rachaduras na estrutura.

Apesar de muitos desafios para a construção como: a dificuldade de entrega dos materiais (é no morro, não tem estrada asfaltada e dentro da favela), o alto preço dos materiais que na pandemia tem alteração de preço toda semana, tivemos ainda a dificuldade de encontrar um técnico que se responsabilizasse.

Superando os obstáculos, os impactos positivos da cisterna começam na sua construção. A partir dessa obra, tivemos o privilégio de ter mulheres na gestão do projeto e que vem movimentando uma pequena economia local. Na construção temos o responsável pela obra, o Michael Katali e 3 auxiliares, sendo dois moradores da Penha, os demais moram no entorno. Além de 2 auxiliares moradores que ensacam todo o material que chega. As refeições dos trabalhadores são garantidas por duas cozinheiras locais, e duas mulheres que entregam as quentinhas e acompanham o projeto. A compra de materiais também é feita em lojas locais, sempre que possível. Os alimentos vêm parte da cesta básica orgânica e parte de mercados da Penha, além de água e gelo diários. A comunicação inicia com o coletivo de jovens que vem sendo fomentado pela Rede Ecológica.

Se temos água podemos  fortalecer o plantio urbano e abastecer as famílias que vivem na Terra Prometida, favela ainda não mapeada que começa a crescer na Serra da Misericórdia, vertente Complexo da Penha.

Observação importantíssima:

As injustiças ambientais na Serra da Misericórdia não cessam desde os anos 70, quando a multinacional francesa Lafarge chegou e se instalou. Todo ano tem uma nova licitação aprovada pra mais uma mineradora. No recorte da Penha, temos a nova mineradora Polimix que continua operando sem retorno algum à comunidade. As nascentes e morros estão sendo exterminados. Suas explosões chegam a demorar 3 minutos o que estremece as casas, causando rachaduras e a poeira que fica por longo tempo gerando doenças respiratórias e contaminação pelo ar. Se a Serra ainda resiste é por conta da agricultura remanescente local, onde, apesar das casas crescerem, o verde também floresce

Outro destaque do CEM: a jaca

A jaca foi uma descoberta a partir de um hare krishna e uma designer, em uma visita que fizeram ao CEM em 2013. Inicialmente a jaca era um produto para nosso consumo, uma forma de manter a alimentação, o almoço, a um custo quase zero. Tinha uma jaqueira na antiga sede do CEM.

Só a partir de 2014, fruto de encontros a partir do Encontro Nacional de Agricultura Urbana, aconteceu a primeira experiência de comercialização não da jaca in natura, mas de uma coxinha de jaca que foi trazida para uma barraca do Arraial de Ramos. Desde então a gente viu a jaca como um produto de sustentabilidade local. Em 2015 houve a oportunidade de venda da jaca verde junto a Rede Ecológica, como uma carne cozida. Foi então que realizamos a primeira comercialização da carne de jaca natural congelada para os cestantes da Rede Ecológica, onde ela se mantém. A jaca faz uma diferença muito grande no nosso orçamento, porque a gente sabe que pode contar mensalmente com esta compra da Rede Ecológica. Também fizemos a experiência com a compota de jaca, e sempre nos eventos da Rede levamos um prato de jaca, estimulando o consumo por parte dos cestantes. Hoje é um alimento vegano da alta culinária, mas para nós foi sempre um alimento de muito potássio, muita fibra, baixo custo e gostoso.

(continua na próxima carta semanal)