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Balanço parcial dos resultados da “Campanha Campo e a Favela de Mãos Dadas”

Balanço parcial dos resultados da “Campanha Campo e a Favela de mãos dadas”, em dois territórios. Territórios “Sim! Eu Sou do Meio” e CAC  – Centro de Atividades Comunitárias. 

Balanço também dos resultados junto ao grupo de produtoras Mulheres do Hydra que atendem a esses territórios

 

  • Iniciamos com o Sim! Eu Sou do Meio (de Belfort Roxo)
    Com a palavra Débora Silva, coordenadora – http://simeusoudomeio.com.br/

(com participação de Claudete, da Rede Ecológica):

A chegada das cestas agroecológicas marcou um momento importante para o Sim! A Alimentação das crianças não é mais a mesma depois da doação.  As crianças estão mais saudáveis, adoecem menos do que antes. Mulheres, que nunca tinham pensado em dar alimentos sem agrotóxicos para seus filhos, chegaram a chorar de emoção ao saberem que isso aconteceria na vida real!

O Sim, apesar de saber que os recursos são limitados, desejaria que o projeto pudesse se estender e atender a todas as famílias: a Rede Ecológica hoje apoia 41. Mas somos 60 famílias. Desse modo, ainda temos 19 famílias que não participam, mas “super entendemos as limitações financeiras que existem”.

Temos uma proposta com relação à parte educativa da Campanha:  que ela seja reforçada com a realização de mais encontros com as mães que, cotidianamente, fazem uso dos frescos.  A ideia é apostar na educação das mães e das pessoas que recebem as cestas: que possam, por exemplo, conhecer as pancs (plantas alimentícias não convencionais). Muitas desconhecem essas plantas e não sabem como prepará-las.  Isto também vale para as plantas medicinais: muitas mulheres jovens não têm conhecimento sobre elas, e temos muitas mães jovens.

Desejamos ter a feirinha agroecológica em parceria com os produtores.  Acreditamos que para começar seria bem legal pensar em algo pequeno, mas que, aos poucos, fosse aumentando. Pensamos na elaboração de alimentos que poderiam ser vendidos de modo a gerar renda para as famílias. Temos uma cozinha. Assim que, tendo a matéria prima, poderíamos comercializar.

Um obstáculo certamente seria o preço dos alimentos que, para o público do Sim, composto por trabalhadoras que ganham o salário que é pago a faxineiras e diaristas,seria uma questão.

Claudete: “Foi importante ver o crescimento do Sim com relação à Segurança Alimentar, Agricultura Orgânica, à Educação Alimentar. Foi muito significativa  a aproximação feita, com a ajuda de Juliana Wu,  de outras produtoras, as Mulheres do Hydra.  No evento da Roda de conversa, ela falou de reforma agrária e explicou muita coisa sobre os produtos. A atividade foi bastante dinâmica. Houve uma interação tão importante por conta dos conhecimentos construídos, que precisa ter continuidade.

Outra proposta que precisa ter continuidade é à de estruturação de uma horta comunitária. Débora realiza praticamente sozinha um conjunto de atividades de trabalho. Poderíamos organizar aulas sobre como começar a plantar em casa, começando com o aprendizado sobre plantio de temperos. Para isso, seria de muita ajuda promover ações para estreitar o contato das produtoras com as famílias.

Educação, Cultura e Esporte eram os eixos com os quais o Sim! Eu sou do meio trabalhava. Agora, a segurança alimentar foi incluída como mais um de seus eixos temáticos”.

É importante destacar que, no início da pandemia, Débora Silva esteve muito desassistida e fragilizada por ver a situação das crianças que passavam por necessidade. Segundo ela própria, o apoio de Claudete, da Rede Ecológica, foi muito significativo, possibilitando que compartilhasse seu sofrimento e enfrentasse suas angústias diante da situação de desespero da população.   Nossa homenagem às duas!

 

 

 

 

 

 

 

1.2 Balanço parcial dos efeitos da Campanha no Centro de atividades comunitárias (CAC) – São João de Meriti

O CAC foi o último território a ser incorporado à campanha e pensou uma proposta diferente: estimular pais da escola comunitária a se engajarem em uma horta comunitária, obtendo em troca uma entrega de cestas agroecológicas quinzenal.

  1. Aspectos positivos:

Adriana Camargo (diretora da escola), realizou, junto a 60 familiares, um trabalho muito cuidadoso tanto no sentido de conversar, de encaminhar materiais informativos, como no de lidar com os imprevistos em relação à entrega de cestas Foram feitas 2 entregas. Dos 60 participantes, somente 4 mulheres aderiram, que permanecem.

Assim, a partir do trabalho de Nilce, Lorraine, Marli e Sandra, a horta começou, há 3 meses, a ser preparada. Uma vez por semana, por aproximadamente 4 horas, elas trabalham no maravilhoso quintal da escola. Parabenizamos essas mulheres por isso!

Inestimáveis apoios:

Rafael Moura, coordenador que, além de planejar, organizar e, eventualmente, trabalhar na horta, esteve sempre disponível em atender no que se faz necessário como oferecer orientação técnica, compartilhar o projeto com o GT de Agricultura Urbana, apresentando objetivos, procedimentos e o modo de lidar com eventuais problemas como a infestação de carrapatos etc);.

Adriana Camargo, fornecendo a infraestrutura necessária ao projeto; Sergio Lima, um amigo da Rede Ecológica, associado do núcleo São João; Italo Albuquerque, também tratando a terra, fotografando as atividades para registro, enfim, dando força para o sucesso do projeto; Beth Bessa e Miriam Langenbach, de outros núcleos, vem apoiando a gestão.

O Grupo de Trabalho (GT) de agricultura urbana, que conta com craques da agroecologia tem sido outro apoio fundamental para a implementação dessa horta.  Criado depois do Seminário de Agricultura Urbana, esse GT, desde o início, vem orientando o trabalho em relação à compostagem, ao combate à infestação de carrapatos etc.

O coletivo de mulheres mereceu destaque pelo interesse e perseverança em realizar o trabalho, mesmo diante de vários obstáculos que aconteceram em relação à escola e seu espaço como um episódio de arrombamento, inundação de uma área da casa e surto de carrapato. Sempre com postura colaborativa e carinhosa realizavam as tarefas. Uma delas, por exemplo, tomou a iniciativa de contribuir com o lanche coletivo trazendo bolo e pastéis, efeito da atmosfera amigável ali criada.

Abertura para novas possibilidades

Em todo esse processo, se abriu ainda a possibilidade de as produtoras das cestas, mulheres do Hydras do Terra, se tornarem associadas ao núcleo. Juliana, a líder das Hydras, se ofereceu prontamente a apoiar a horta do CAC, inclusive se propondo a participar e orientar a atividade e isso foi muito bem recebido. A elas foi oferecida a possibilidade de estarem no espaço do CAC no dia da atividade da horta, para que façam suas entregas de cestas da agricultura familiar a pessoas da região.  Está tendo uma demanda significativa dos produtos pela gente dali.

Também está sendo vista a possibilidade de integrar ao núcleo São João as mulheres que trabalham na horta, algo que há muito tempo a Rede almeja, que é ampliar o acesso à comida saudável para grupos populares. Como se trata de um grupo muito pequeno, a ideia é que elas, além de que possam receber duas cestas de frescos, no valor de 60 reais, tenha um acréscimo que lhes dê direito a 30 reais para compra de secos, além da isenção da associação.  Uma experiência pioneira em consonância com os propósitos da Rede.

  1. Aspectos que precisam melhorar:

Primeiramente, destaca-se a baixa adesão das famílias com relação à proposta da horta, por exemplo. Ainda se teria de saber quais as razões para isso, mas possivelmente o contexto de pandemia contribuiu.

Alguns obstáculos têm se colocado dentro do espaço, exigindo soluções rápidas. O primeiro afetou a própria entrega das cestas agroecológicas e se deu por falha na logística, o que acabou acontecendo algumas vezes, frustrando a expectativa das pessoas do local. Isso foi destacado como algo que precisa ser conversado e resolvido para não se repetir, a não ser em caráter excepcional, mas que se tenha combinações de se solucionar rapidamente e a entrega ocorrer.

Outra dificuldade aconteceu na comunicação interna do grupo  que está fazendo a gestão da proposta da horta. Ocorrências importantes que teriam de ser compartilhadas não foram. Isso também trouxe frustração já que alguns não puderam ajudar por não estarem acompanhando a situação. O grupo se comunica por zap, mas o compartilhamento de outros assuntos, por exemplo, ligados à política pelo mesmo zap do grupo, acaba provocando descontinuidade nas informações, retirando a concentração necessária sobre questões vividas que precisam ser resolvidas. Recomenda-se que haja um número do grupo que seja exclusivo para isso.

  1. c. Propostas:

Percebe-se um potencial de desenvolvimento maravilhoso, em vários sentidos, a partir dessa experiência de produção da horta. Alguns dos espaços ociosos no CAC, por exemplo, poderiam ser pensados para alocar uma cozinha. Talvez, partindo-se de uma cozinha já existente que pudesse ser aproveitada ou reformada de modo que ali mulheres locais pudessem planejar, produzir e vender quentinhas. É uma proposta ainda no âmbito dos sonhos, mas é bom que se fale.

Consolidar a horta e os frutos de produção – como a geração de renda para as mulheres – pode ser estratégico para aproximar os muitos familiares de alunos e moradores locais que ainda se mantêm longe. Além disso, a perspectiva de organização de uma feirinha, que já foi aventada por uma das mulheres – é mais um indicador do potencial implicado nesse projeto.

1.3 Avaliação de Mayella Castro sobre o grupo Mulheres do Hydra (núcleo Grajaú), que acompanhou nestes últimos meses

Mulheres do HYdra é um coletivo de produtoras que tem atuado de forma incansável no fortalecimento da campanha “Campo e a favela de mãos dadas”. Atualmente essas mulheres fornecem cestas para o projeto Sim! Eu Sou do Meio, em Belford Roxo, e para o CAC, em São João de Meriti.

Desde o início da campanha, foram entregues (desde abril) 82 cestas mensais para o Sim!, que atenderam 41 famílias em Belford Roxo. E para o CAC, em São João de Meriti, foram entregues, desde junho, 10 cestas que atenderam a cinco famílias.

Com comida agroecológica sendo levada para as mesas das famílias atendidas pelo projeto, com grande diversidade de alimentos como aipim, limão, feijão guandu, diversos tipos de banana e PANCS, fortaleceram-se os laços entre as produtoras do Mulheres do Hydra e, principalmente, o Sim! Eu sou do meio.

As mulheres do Hydra, como produtoras, assim como de outros  produtores locais, têm fortalecido e ampliado sua frente de comercialização direta a partir da participação na campanha. É preciso destacar o incansável trabalho que a Juliana tem feito de articular e organizar as logísticas para as entregas, sempre atenta em levar diversidade e novidades da horta para as famílias. Outro destaque é o trabalho dosjovens comunicadores Thiago Aguiar e Erick Dias do Sim! Eu sou do meio, que vêm articulando e divulgando as informações sobre a campanha.

  1. a) pontos positivos:

Regularidade das entregas e diversidade de alimentos nas cestas das famílias. Além do recurso da Fiocruz, a arrecadação voluntária e de iniciativa do coletivo mulheres do Hydra possibilitou entregas de cesta bastante fartas para as famílias;

Grande potencial de ação em rede na baixada fluminense, com a articulação do coletivo de produtoras com o CAC e com o Sim! em outros projetos de agricultura (urbana)

  1. b) pontos que precisam melhorar:

– A visibilidade das ações não tem sido boa.  Se de um lado o trabalho desempenhado pela parceria rede-mulheres de hidra-Sim! está sendo muito potente, de outro, é preciso melhorar a frequência de  relatos/registros qualitativos das entregas, de modo a produzir materiais de informação que sejam divulgados na carta semanal e em redes sociais, o que tornará nossas ações visíveis com chance de adquirir novos apoios.

– São muitas funções no trabalho de acompanhamento. Isso requer um trabalho coletivo com a participação de várias pessoas, pois com uma só fica muito pesado. Assim, temos algumas demandas de curto e médio prazo.

  1. c) Ações necessárias

– formar um coletivo de acompanhamento para:

  1. Desenvolver o trabalho de articulação das notícias, em conjunto com os jovens comunicadores do SIM! e com a comissão de comunicação da campanha Campo e a Favela de mãos dadas;
  2. Dar suporte e fomentar os projetos de agricultura urbana no SIM! Em articulação com o GT de agricultura urbana;
  3. Produzir um caderno de receitas e usos das PANCS e outros alimentos não convencionais (como mamão verde), que possa ser ofertado às famílias junto com as cestas, de modo a fomentar a diversificação dos pratos e, quem sabe, propiciar momentos de interação em família no preparo das refeições. (obs: está acabando de ser produzido!)