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Balanço do território Fundação Angélica Goulart - FAG

Relato feito a várias mãos: Ana Paula, Paulo Monteiro, Vitória Luiza e Rudson, além de anotações da reunião que apresentou o balanço dos territórios

Hoje, enquanto está acontecendo nossa reunião de balanço. está acontecendo uma oficina de “plantios em pequenos espaços” oferecida para as 50 famílias beneficiadas pela nossa campanha “Campo e favela de mãos dadas…”. Houve 24 adesões para esta oficina que está acontecendo na horta da própria Fundação, visando o plantio nos quintais das casas das pessoas.

A FAG atua na zona oeste do Rio de Janeiro há 31 anos e nunca atuara com doações de cestas. Na FAG, em meio a tamanhas incertezas no contexto da pandemia, mantínhamos uma: a certeza de que não somos um espaço que visa distribuir cestas de alimentos. No entanto, neste momento, estamos assumindo nossa responsabilidade diante de uma emergência comunitária, sem perder de vista que nosso propósito é promover direitos. Havia um certo incômodo com essa nova situação que só nos deixou em paz quando começamos a segunda fase do projeto: atualizar os cadastros de demandas espontâneas de famílias que nos chegaram a partir das campanhas e começar a inseri-las nos projetos institucionais. E com isso, realizar um acompanhamento sistemático de modo a agregar à campanha as atividades já desenvolvidas localmente, como projeto de práticas e atitudes sustentáveis.

O que foi bom

Acesso a comida de verdade por 50 famílias (no mínimo 200 pessoas) de Pedra de Guaratiba em situação de insegurança alimentar e outras vulnerabilidades – foram 7 entregas de cestas de alimentos agroecológicos até o dia 19/10/2020.

Mais de uma tonelada de frutas foram entregues: caqui, laranja, limão, tangerina, manga, banana; mais de uma tonelada de legumes, dentre aipim, batata doce, abobrinha, chuchu, abóbora, inhame.

Foram entregues 350 molhos de pancs (João Gomes, caruru, chaya, almeirão, taioba, ora pro nobis) e 140 molhos de  hortaliças (alface, couve, espinafre, chicória); 350 molhos de ervas medicinais (colônia, pata de vaca, erva de São João, Cidreira, alfavaca).

Estão envolvidos nesta ação 14 Agricultores, em especial da Zona Oeste e do SPG (Sistema Participativo de Garantia, uma forma de certificação), fortalecendo os arranjos locais de Campo Grande e Guaratiba: Alonso, Dalila, Viviane, Flavio, Pedro Paulo, Russo, Carlos, Leonardo, Tiago, Leodicéia, Sergio,  Francisco, Joselita e Luciano.

Participaram ainda 2 jovens comunicadores engajados nas atividades desenvolvidas em conexão com o planejamento e realização das ações, para além dos registros.

Os recursos financeiros são importantes para a juventude e ajudam a valorizar o trabalho que fazem como comunicadores. Assim, a bolsa que receberam foi importante. Do nosso lado, porém, contar com a visão do comunicador foi também muito importante para chegar às famílias sem provocar constrangimentos. Eles atuaram preparando roteiro e fazendo os registros gravados. As mulheres, por exemplo, ao serem perguntadas sobre suas experiências, diziam que não sabiam nada. No entanto, quando começavam a falar, iam trazendo receitas e tantos outros conhecimentos! A comunicação foi importante para as trocas entre essas mulheres, valorizando seu saber. Vale ainda registrar que, às vezes, se crê que os jovens têm muito acesso à tecnologia, mas isso nem sempre é uma realidade e a formação presencial se faz mais eficiente do que seria a educação à distância ou o ensino remoto.

Participaram integrantes do núcleo Campo Grande na ação local de Pedra de Guaratiba: Elton Abel, Amita Domiciano, Bernardete Montesano, Monica Poncione, Pedro Paulo, apoiando a articulação com agricultores (as), com a logística e ações educativas desenvolvidas.

A FAG, por meio da Rede Ecológica, participou do edital da Fiocruz – e pôde ampliar ações com materiais de comunicação, em prol da agricultura urbana e do acesso à água de qualidade.

Além das provenientes da Rede Ecológica, tivemos doações da Brazil Foundation e de uma instituição alemã, assim como recebemos apoios de nossa localidade. Desde abril, quando começaram os mutirões de entrega, a FAG atendeu a 4 mil famílias. Estamos cadastrando novas famílias para um acompanhamento sistemático, incluindo não somente as crianças, adolescentes e jovens.

Continuando com o que foi bom: os desdobramentos da campanha

A adoção do uso da sacola retornável. Houve conversa com as famílias para falar da importância de se diminuir a multiplicação de material plástico no meio ambiente. Assim, foi incentivada à reutilização das sacolas em suas novas compras;

Teve início a feirinha agroecológica, inspirada no CEM. Isso foi importante por mudar a forma de entrega das cestas. As famílias conseguiram montar sua própria cesta de comida de verdade de forma equilibrada, tendo em mente a necessidade das demais famílias mais numerosas. Desse modo, essas famílias, com maior número de pessoas, levaram mais alimentos e, ainda assim, houve sobra. Isso desmistificou a ideia de que pobre não pensa nos outros. Houve solidariedade.

Partilha de mudas e trocas de receitas durante as feirinhas, fato que estimulou mais famílias a compartilhar itens de seu quintal, além de mais receitas. Tudo isso teve como efeito, o que se segue:

doação de castanha de jaca;

realização de colheitas nos dias mesmos das feirinhas a fim de aumentar o número de gêneros alimentícios em oferta;

integração de adolescentes do projeto a práticas sustentáveis nas feirinhas;

– incorporação de visitas regulares às hortas;

– recriação de uma horta de plantas medicinais por conta da demanda feita pelas mulheres. (Muitas situações de tristeza e depressão relatadas pelas mulheres as têm assustado).

Outras ações positivas

– Realização de Rodas de conversa com mulheres sobre autocuidado e ervas medicinais. Houve distribuição de kits de autocuidado além de doação de mudas de medicinais, compradas com pessoas da região, como a Maria da Brisa, que compartilhou, além das mudas, seus vastos conhecimentos sobre o assunto.

 Realização de oficina de plantios nos quintais. Famílias que já plantam atuaram como facilitadoras do aprendizado de famílias novatas;

Intercâmbio de conhecimentos entre as famílias sobre as hortas. Mudas foram doadas para que pudessem levar e plantar. Houve incentivo para que cada um trouxesse um cartaz indicando “O eu trago e O que eu levo”. Afinal, todo mundosempre tem alguma coisa que pode compartilhar, ninguém vem somente para receber. E algumas famílias trouxeram mudas para nossa horta;

Realização de circuito para visita e manejos nas hortas da FAG;

Compra de mudas do CEM, de modo a potencializar as ações entre os dois territórios;

Propostas para 2021

  1. Fortalecer a participação dos jovens comunicadores por meio da formação: organização de oficina, minicurso para edição/ podcast/ uso de ferramentas tecnológicas… de modo a potencializar as ações dos jovens pela educomunicação nos territórios;
  2. Realizar atividades em conjunto com os jovens;
  3. Reduzir as cestas com levantamento das famílias que já possuem produtos plantados em seus quintais;
  4. Investir recursos em ações de fomento à agricultura urbana, a fim de fornecer aquilo que as famílias precisam para os plantios, ou seja, sementes, mudas, terra, composto, ferramentas básicas etc;
  5. Apoiar os agricultores (as) com incentivo à produção e plantios: compra de sementes, ferramentas, tecnologias sociais;
  6. Investir em oficinas de tecnologias sociais;
  7. Apoiar territórios que estão fazendo hortas;
  8. Incrementar as vivências culinárias. A FAG tem  uma cozinha , que pode possibilitar aprendizados práticos importantes e possa ser utilizada para a realização de alguma atividade integrada;
  9. Investir em atividades que articulem ações em rede nos territórios, com busca de mais parcerias locais;
  10. Estimular atividades de geração de renda. Por exemplo, a produção derivada de ervas medicinais como pomadas, tinturas, repelentes etc.