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O balanço dos 6 meses no território das Vargens

Quando a pandemia se instalou, encontrou a Feira da Roça em Vargem Grande já em crise. Assim, se intensificaram os relatos de fome, desemprego e desespero que também chegavam das comunidades. Nesse contexto, um grupo de mulheres com atuação em vários coletivos, inclusive na Rede Ecológica (Núcleo Vargem Grande), se organizou no que se chamou “Teia de Solidariedade da Zona Oeste” com a finalidade de atuar na doação de cestas e no escoamento de produtos da Feira da Roça. Essa atuação aconteceu por meio do consumo dos produtos da feira, do trabalho voluntário na organização de pedidos, intermediação entre consumidores e produtores, nas entregas de cestas de secos e frescos.   Desde o início da pandemia, a “Teia de Solidariedade da Zona Oeste” distribuiu cerca de quatro mil cestas de secos, com recursos de financiamento da Campanha “Rio Contra o Corona”.

Com os recursos da AS-PTA-Fiocruz e da Rede Ecológica, foi possível complementar a entrega de secos com frescos, fortalecendo assim os feirantes da Feira da Roça.  A Rede Ecológica doou, entre agosto e outubro, de modo quinzenal, seis entregas no valor de 540 reais. Este valor complementou as doações de frescos do Projeto AS-PTA-Fiocruz e dos consumidores da Feira da Roça.

As entregas têm sido feitas em duas comunidades:  Cascatinha (em Vargem Grande) e Santa Luzia (Vargem Pequena).  Em ambos os locais, os alimentos são dispostos sob o formato de feira, permitindo que as mulheres possam escolher seus alimentos e as quantidades de acordo com suas necessidades.

É preciso deixar claro que não existia um trabalho social iniciado dentro dessas comunidades. Portanto, tudo começou do zero! Levamos pelo menos 30 dias para conseguir entrar na comunidade Cascatinha e montar a Feira da Solidariedade ou Feira Solidária.  A liderança local é a dona Sonia, esposa do agricultor Seu Jorge.  No caso da Comunidade Santa Luzia, o início do trabalho deu-se pelo trabalho fantástico da moradora Mara Bonfim.

Disso tudo, vejamos o que mereceu nosso Que bom! Que pena! Que tal?

  1. O que foi bom!

– O trabalho para desenvolvimento de autoestima realizado junto às mulheres! Foram distribuídos kits de autocuidado e de produtos para geração de renda. Tudo isso foi possível a partir da compra de produtos feitos por grupos de mulheres do território;

– Com as cestas da Rede, houve aumento do número de famílias beneficiadas em dois territórios:  Cascatinha e Santa Luzia;

– Aumento da variedade e quantidade de alimentos frescos para as famílias;

– Difusão de novos alimentos e experimento de novos sabores a partir da entrega dos alimentos sob o formato de feirinha;

Criação de vínculos de afeto e produção nesses territórios;

Fortalecimento de lideranças locais (Giovanna, Mara, Sara, Dona Sônia);

Consolidação de uma organização feminista na Zona Oeste;

Apoio à Feira da Roça em Vargem Grande, que vive momentos de muitas dificuldades;

Engajamento de nova geração com filhos e netos na produção ou escoamento dos produtos (em especial, a filha da Cristina e a neta da Maria do Céu);

Aumento e diversificação da produção de Seu Jorge a partir do escoamento proveniente das cestas (aumentou a produção de batata doce);

Diminuição em 70% do prejuízo com as perdas causadas pela chuva forte em agosto/setembro. Isso devido às compras realizadas a partir das doações;

– Engajamento na campanha em saúde meta 2, que está no ar como parte das ações da Teia;

Enfrentamento e atuação na resistência à ameaça de remoção em Santa Luzia;

Construção de uma candidatura coletiva que tem como plataforma política o bem viver. Candidatura que surge das resistências pretas e originárias desse trabalho de base que é desenvolvido na Zona Oeste há décadas de luta pela agroecologia e pelo direito de morar e plantar na cidade (contamos com uma das cocandidatas dessa candidatura);

– Aporte – com essa candidatura – de outra dimensão de lutas para o território, o que traz novos desafios em nossa ação comunitária;

– Início da semeadura de mamão feita pelo Ubirajara;

  1. Que pena!

– A pequena quantidade de cestas de frescos doadas para as Vargens pelos projetos;

–  os problemas de comunicação do núcleo Varge com a Rede, a pouca divulgação das ações da Teia vinculadas ao projeto da Rede; a pouca divulgação das ações coordenadas dos cestantes do Núcleo Vargem na Feira da Roça;

A falta de produtos locais em quantidade para abastecer as cestas, em especial tubérculos e legumes;

– As dificuldades para acessar alimentos frescos provenientes dos movimentos sociais da Baixada ou de agricultores de Campo Grande ou de outras localidades;

As dificuldades de trabalhar nos territórios durante o período eleitoral;

O machismo e as ameaças à governança da feira;

O risco de abandono de plantios, se não houver escoamento da produção;

 – A falta de recursos dos Agricultores para investir na produção. O aumento da compra de cestas para doação seria uma solução possível para as dificuldades que isso gera.

– Aplicação de preços mais elevados aos produtos, mas que tem a ver com condições de escoamento dos produtos, de acesso à terra e investimento. Por exemplo:

  1. a) Cristina está diversificando e ampliando a roça, inserindo outros produtos além da banana. No entanto, tem dificuldade de transporte;
  2. b) Seu Jorge, que planta em terreno arrendado, além de pagar pela mensalidade, precisar investir em sementes e mudas;
  3. c) Maria do Céu tem dificuldades de cuidar da horta sozinha. (Citamos esses 3 produtores por consideramos serem os mais vulneráveis no momento);
  4. d) Ainda temos o quintal produtivo da Maria Rosa que precisa de incentivo financeiro;
  5. e) Dona Lurdinha. Embora não esteja nas Vargens, faz parte da feira da Roça. Ela também passa por dificuldades e é figura de resistência afirmativa em seu território.

 

  1. Que tal? Propostas

 

– Demanda por um maior número de cestas de frescos na região de Vargens;

Recursos para uma oficina de sabão ou de ervas medicinais ou para roda de mulheres;

Recursos para pagamento de jovens auxiliares na horta da Maria do Céu;

Recursos para serem aplicados no plantio com aumento de compra de produtos do Seu Jorge;

– Mais autonomia para dispor de recursos em ações emergenciais ( para suprir perda de produção por chuvas ou problemas de logística, adoecimentos etc);

Importante concluir agradecendo a todas e todos que estão e continuarão na luta para que tudo isso aconteça. Afinal, há uma lista de espera de famílias que ainda não puderam ser atendidas.