Blog

O território do CEM: Balanço dos primeiros 6 meses

CHAMADA para cestantes, no sentido de incluírem em seu sistema de pedidos, as cotas conseguidas junto a amigos e familiares. Trata-se da terceira cota. Não esquecer!

Em razão da rápida disseminação do novo coronavírus e suas graves consequências para a saúde e para a sobrevivência da população, o Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM) começou, no dia 16/03/2020, uma campanha de conscientização e informação sobre o coronavírus por meio de cartazes. Esse trabalho de divulgação da campanha pela favela foi um momento importante de escuta das demandas dos moradoras/es. Assim, na semana seguinte, lançamos uma campanha de doação de alimentos, materiais de higiene e produtos infantis (jogos, materiais escolares, brinquedo) para moradores das favelas do Complexo da Penha, em especial para quem vive na Serra da Misericórdia,  parte da Estradinha, “Sem Terra” e Terra Prometida, favela que começa a crescer. Com um raio de atuação definido, visando ações de integração e não de assistência, realizamos uma ficha de cadastro que nos permitisse acompanhar as famílias a partir de número individual identificado em carteirinhas que foram entregues. Com os dados obtidos, foi possível estabelecer diálogo também pelo WhatsApp. E junto ao Instituto de Nutrição da UERJ, criamos cartazes sobre uso e cuidado das máscaras, dicas ao sair de casa, quantidade de alimentos para cesta, entre outras.

Temos em nosso histórico um trabalho de agricultura urbana, agroecologia na favela e alimentação saudável. Buscamos construir um território de bem viver com solidariedade, autonomia e soberania. Desse modo, embora não nos alinhemos com ações assistencialistas, neste momento, a situação impôs atitudes radicais. Como dizia Betinho, “quem tem fome, tem pressa”! Por isso, a partir do movimento de amigos da Horta do Posto 11, da Feira Orgânica de Olaria, de Vaquinhas online, e depósitos junto a Rede Ecológica, começamos a captar doações para a comunidade.

Sim! Era preciso estar em casa, mas esse privilégio nos cabia? Como as famílias continuariam a se alimentar, se nem com o almoço da escola para as crianças podiam contar? Apesar de a alimentação adequada e saudável ser um direito humano, garanti-la não foi prioridade para o Governo. O auxílio emergencial demorou a chegar e não chegou para todos. As necessárias cestas básicas representavam um distanciamento cada vez maior da população de um alimento agroecológico. A parceria com a Rede Ecológica, a Bemvindo e a As-pta foram essenciais para estabelecermos como prioridade a doação de alimentos sem veneno, provenientes de assentamentos de reforma agrária, de agricultura familiar. São fruto do trabalho de pessoas que conhecemos e com quem compartilhamos nossas lutas, como as pelo direito à terra/moradia, à água e ao alimento.

 

Os desafios e dificuldades foram enormes:

– não tínhamos sede/local de apoio;

– o crescimento da favela se deu muito rápido, o que aumentou o número de famílias a serem atendidas;

– a desinformação proveniente das notícias falsas ou fake news sobre a doença;

– a violência doméstica verbal e não-verbal;

– necessidade das crianças de se exercitarem, brincarem, realizar atividades;

– as atividades paralisadas nos espaços em que atuávamos (escolas, creches, unidades de saúde e cultura, quintais);

– o aumento da participação de jovens no narcotráfico e o domínio do próprio poder paralelo;

– as eleições e a possibilidade de manipulação com a distribuição das cestas;

– a sobrecarga do trabalho doméstico.

 

Por outro lado, tivemos a oportunidade de unir muitos moradores, dialogar e  alcançar muitas famílias as quais não tínhamos acesso, uma vez que a rua se tornou nosso palco de ações. Com o intercâmbio de mudas e de PANCs, descobrimos plantadores na Serra e fortalecemos novos agricultores urbanos. Esse novo palco, a rua, foi cuidada pelas mãos dos moradores com limpeza, pintura, reformas e início de plantio. Também tivemos a oportunidade de ampliar o trabalho de educação alimentar com as entregas (rodas de conversa com Agricultores, distribuição de receitas, degustação, ação do “Cozido Agroecológico”, produção de processados e sabão, fontes de geração de renda para as mulheres).

Um dado importante nesse processo: o formato das entregas foi se modificando por meio das experiências e aprendizados que se deram. A entrega virou feira, tomou a forma da “Feira Solidária e Agroecológica na Serra da Misericórdia”. A transformação para esse formato de feira muda tudo e nos ajuda a construir soberania, reciprocidade e solidariedade.

Um outro legado importante:  a construção de uma cisterna com capacidade de armazenamento de 72mil litros de água para o abastecimento de casas, propiciando o incentivo ao plantio.

Nasce, com o apoio da Rede Ecológica e As-pta, o núcleo de jovens atuando na comunicação. Anteriormente somente Samuel e o Arranjo Local Penha aí atuavam, tendo elaborado materiais de comunicação para as ações.

Vale citar a ação “Cesta do Cuidar-se” voltada para as mulheres (do GT Mulheres) que ficaram e sempre estão na linha de frente. Essa “Cesta” incrementou os encontros que passaram a ser online, mantendo como pontos de pauta as ervas medicinais e o autocuidado.

Hoje, já na nova sede, que foi construída “na marra” durante a pandemia, estamos na mata da Serra da Misericórdia produzindo alimentos e avançando com um trabalho totalmente autônomo, realizado com recursos próprios (venda na Rede Ecológica e no SOS Agricultura urbana – serviço de tele-entrega criado para escoar mudas e insumos de plantio dos quintais produtivos da Serra da Misericórdia ) e sem contar com investidores.

As visitas aos plantios deixaram de ser individuais. Agora começam a acontecer encontros com a presença de nossos produtores do Coletivo Terra, e de uma agrônoma, Renata Souto. Esses encontros passam a ser sistemáticos. ocorrendo quinzenalmente, se configurando em um espaço importante de formação, aberto para outros territórios, como o SIM, que passará a estar presente.

A necessidade de acompanhar o trabalho nos quintais, que já era pauta junto ao Arranjo Local Penha, ganha novo fôlego na pandemia.

Proposta: desenvolver agricultura urbana consistentemente. Para isso há várias necessidades materiais a suprir:

  • enxadas, cavadeira, pás, foice, facão, madeira para escora, arame farpado, aspersor, tela;
  • mudas e produtos diversos;
  • verba para pagamento de diárias para jovens, tanto em termos da produção, quanto para os que trabalham com a comunicação;
  • verba para transporte de pessoas