Blog

Qual o tamanho da nossa Pegada Ecológica?

 

Em 2019, sob a coordenação da Professora e Geógrafa Yana Moyses do Centro Universitario Celso Lisboa, que já foi uma cestante, foram aplicados questionários que buscavam avaliar a Pegada Ecológica da Rede e de seus participantes.

Ao longo de 2020, a equipe formada por Yana Moysés, Flávia Tostes, Paula Maria Moura, Larissa Drummond, Jean Sambonha e Nicole Almeida, trabalhou arduamente sobre os questionários, desenvolvendo metodologias capazes de medir coerentemente e nos dar um retorno sobre o significado das nossas escolhas de consumidores dentro e fora da rede, de modo que nos revelasse os potenciais impactos que temos gerado ao meio ambiente.

Como resultado desse trabalho temos 6 mapas e vários gráficos que nos ajudam a entender o tamanho da nossa pegada ecológica a partir dos nossos hábitos de consumo.

Começamos, aqui, na Carta Semanal, a divulgar  os resultados gerais e por núcleo da Rede, enquanto os resultados individuais você já pode visualizar nessa planilha, procurando a “aba” do seu Núcleo.

 

Sobre os Resultados Encontrados e seu Tratamento

É importante que tenhamos claro que no questionário aplicado na Rede Ecológica foram incorporadas questões que não são recorrentes nos cálculos usuais de Pegada Ecológica, o que dificultou a tradução em números dos nossos resultados. Assim não teremos uma medida idealizada a princípio por nós da Rede como o percentual de devastação amazônica consumido em nossos hábitos alimentares e de consumo em geral.

A equipe voltada à análise dos dados, sinalizou a pouca utilidade dessa exagerada abstração, tendo em vista, inclusive, que boa parte do que consumimos no sudeste brasileiro tem outras origens e está mais diretamente ligada aos impactos no ambiente e na economia local do que em uma relação direta com a Amazônia.

Daí a opção pelos resultados qualitativos e comparativos entre os núcleos, capazes de revelar o quanto estamos mais próximos da cadeia produtiva do Agronegócio (alternativas A do questionário aplicado) ou, como queremos todos, da cadeia produtiva e dos conceitos da Agroecologia (alternativas D do questionário). Veja o questionário respondido pelos cestantes  aqui.

Como pode-se ver no Relatório que nos foi enviado por Yana Moysés (ver relatório na íntegra):

A partir disso, quanto mais próximo de D, a pegada ecológica possui características mais próximas dos significados epistemológico-políticos da agroecologia. E quanto mais próximo de A, dos significados epistemológico-políticos do agronegócio.

Como forma de síntese, a tabela abaixo apresenta algumas características gerais, a partir de algumas palavras-chaves, desses extremos.

 

Nesse sentido, se a sua pegada ecológica e/ou do seu Núcleo foi AB, as características se aproximam do agronegócio. Se for CD, da agroecologia. E se for BC, as características se mesclam.  

Para a representação nos Mapas:

– Quanto mais próximo da Agroecologia, mais colorido – representando a pluralidade de saberes, fazeres e sabores, a sociobiodiversidade, uma produção/consumo sustentável, saudável e justo(a);

– Quanto mais próximo do Agronegócio, mais monocromático – representando as monoculturas, a homogeneidade de espécies, saberes, fazeres e sabores. Em outras palavras, a ausência e/ou a morte de saberes (o epistemicídio) , fazeres, da sociobiodiversidade, o que significa um(a) produção/consumo insustentável, tóxico(a) e injusto(a).

Espera-se com esses resultados, provocá-los para um aprofundamento na compreensão de todo o ciclo de produção/consumo. Para que com isso, a compreensão da nossa pegada ecológica possa servir, de fato, como um instrumento de subsídio para que sejamos capazes não só de compreender todo o processo de produção/consumo e seus múltiplos impactos socioambientais, como para que possamos também (re)pensar práticas e políticas que atuem, por exemplo, em alternativas de produções locais mais sustentáveis, saudáveis, solidárias e criativas.

Participantes dessa análise: Flávia Tostes, Jean Sambonha, Larissa Drummond, Nicole Almeida, Paula Maria Moura e Yana Moysés.

 

A Pegada Ecológica da Rede Ecológica em 2019

A partir das premissas explicadas acima, segue a primeira representação da Pegada Ecológica de cada Núcleo da Rede, onde:

AB (mais cinza) – representaria a maior proximidade com a cadeia produtiva do Agronegócio;

BC (mais colorido e opaco) – um primeiro estágio de transição  para práticas mais próximas à sustentabilidade e à preservação e fomento da diversidade, mas, ainda há hábitos cujo impacto ao meio e à qualidade de vida no campo precisam ser revisto;

CD (mais colorido e brilhante) – estágio mais próximo aos objetivos da Rede Ecológica, de menos danos e voltado ao fomento da diversidade e de relações de trabalho mais justas.

Assim, em uma primeira olhada ao Mapa abaixo, percebe-se que o Núcleo de Nova Iguaçu, mais colorido e brilhante (CD) é o que se destaca em práticas de consumo mais sustentáveis, estando todos os demais, no primeiro estágio de transição rumo a diminuição de sua pegada ecológica.

Do alto à esquerda para a direita (ou de noroeste para nordeste) o que temos é a seguinte classificação dos Núcleos:

Núcleo Nova Iguaçu – categoria CD

Núcleo São João do Miriti- categoria BC

Núcleo Duque de Caxias – categoria BC

Núcleo Campo Grande – categoria BC

Núcleo Vargem Grande – categoria BC

Núcleo Grajaú – categoria BC

Núcleo Humaitá – categoria BC

Núcleo Santa Teresa – categoria BC

Núcleo Urca – categoria BC

Núcleo Niterói – categoria BC

Abaixo segue planilha que detalha em números os dados representados no mapa:

   

Assim que, a exceção do Núcleo Nova Iguaçu que se destacou por seus hábitos de consumos mais sustentáveis, todos os demais Núcleos da Rede Ecológica, apresentam hábitos em processo de mudança, mas que ainda representam uma pegada ecológica importante, o que sugere que sigamos atentos aos nossos hábitos de consumo dentro e fora da Rede, a fim de nos aproximarmos mais do caminho da sustentabilidade e do fomento a relações de trabalho mais justas.

Nas próximas Cartas focaremos em 4 questões selecionadas pelo grupo de pesquisa coordenado pela profa. Yana que revelam hábitos de consumo determinantes da nossa Pegada Ecológica:

  • Qual local você mais compra frutas, legumes e verduras?
  • Quais meios de transporte você mais utiliza para se locomover?
  • Você pesquisa as práticas e procedência das matérias primas das lojas de onde compra roupas, sapatos e objetos?
  • Você procura saber se a empresa que você realiza uma compra utiliza trabalho escravo?

Esperamos que todo esse exercício e reflexão sirva para estarmos atentos aos hábitos que ainda podemos aprimorar em nossas casas e, quem sabe, um mote de conversas e relatos para entendermos como é possível participar efetivamente desse movimento em busca de uma sociedade mais justa e sustentável.