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Balanço e perspectivas do território Pedra de Guaratiba – Fundação Angélica Goulart (FAG) e núcleo Campo Grande

Bases para reflexão e deliberação de propostas: Partimos de 3 encontros para escrever estas linhas e ideias que apresentamos aqui:

1- Conversa na FAG – equipe envolvida na campanha.

2- Conversa e escuta com famílias participantes da campanha de ação emergencial realizada pela Fundação.

3- Conversa com comissão interna núcleo Campo Grande, criada em novembro 2020, com 7 participantes, a saber: Ariela Couto, Ana Elisa Chaves, Elaine Pereira, Letícia Ribeiro, Ana Paula Rodrigues, Amita Domiciano, Juliana Guimarães.

Importante destacar que a Fundação está fazendo 31 anos de existência no território de Guaratiba – Zona Oeste RJ,(até 2018 era Fundação Xuxa Meneghel), trabalha com infância-adolescência, juventude e fase adulta, pensando os ciclos de vida. Muitas ações já aconteciam antes e se somaram ao Campo-Favela.

Nunca tínhamos distribuído cestas de alimentos, já que não correspondia à nossa forma de ação, ao formato do nosso trabalho de longo tempo. Mas reconhecemos a necessidade e a urgência bem como nossa responsabilidade comunitária. Passamos a atender muito mais famílias,desde o inicio da pandemia, com parceiros diferentes, apoiamos cerca de 4000 familias. Desde o inicio da ação emergencial, pensamos a distribuição de cestas articulada com ações que gerassem maior autonomia para as famílias.

Do balanço 2020, destacamos que a campanha foi fundamental para:

*Apoiar o acesso à *comida de verdade, com reforço do propósito institucional que é a promoção dos direitos de forma universalizada. O atendimento da campanha Campo e Favela de mãos dadas contra o Corona vírus e contra a Fome cobriu 50 famílias – cerca de 250 pessoas.

* Reunir, engajar e fortalecer o *trabalho com as mulheres, associado aos projetos institucionais do ciclo da fase adulta; oficinas de auto cuidado, plantio nos quintais e manejo nas hortas FAG, troca de saberes ancestrais com ervas medicinais – oficina de produção pomada de ervas e repelente natural, dia de partilha de receitas e mudas. Houve trocas de mudas e de receitas entre as famílias.

Desde o começo da pandemia e das ações emergenciais, das 2 mil famílias cadastradas, mil não conheciam o trabalho da Fundação.  Parte dessas famílias estão sendo incluídas em novos projetos institucionais, para um trabalho mais sistemático. A FAG pensa em incluir as famílias e crianças, com as 50 famílias envolvidas na campanha campo-favela, em seu projeto de práticas e atitudes sustentáveis, que desenvolvem há anos. Também estão fazendo um resgate dos saberes das famílias, provenientes das vivências e experiências da infância e juventude, que muitas delas, trazem do nordeste.

* Iniciar a metodologia da *feirinha agroecológica e solidária, reforçando sentimentos como empatia, solidariedade, fortalecimento da rede de apoio mútuo. Em cada feirinha, a proposta de apresentar as PANCS e ervas medicinais surtiram efeitos muito interessantes, como a intenção de criar a horta de ervas medicinais na FAG e o estímulo ao plantio das PANCS nos ,quintais;

* Fortalecer concretamente o apoio ao trabalho da agroecologia e escoamento dos alimentos produzidos por agricultores/as da Zona Oeste. Tivemos engajamento de 14 agricultores/as ao longo de 2020, e estes estão se mantendo fixos até o momento: Russo (Pau da Fome – SPG – Sistema Participativo de Garantia Rede Carioca de Agricultura Urbana)/ Alonso (Mendanha- SPG Rede CAU)/ D.Dalila (Rio da Prata), Horta Comunitária Boa Terra (com voluntários da igreja católica N. Sra. da Conceição em Campo Grande, que atuam também com famílias da Pastoral da Criança), Horta cuidada pelas irmãs e também por alunos da  escola São Vicente de Paulo, em Campo Grande (estão expandindo o trabalho socioambiental na comunidade).

* 6  repasses compartilhados pela Rede Ecológica com a FAG– Campanha engajando membros da Rede Ecológica, potencializando os propósitos fundamentais da Rede que vão muito além das compras coletivas.

1.000,00 – Entrega de 06 de maio;

3.482,00 – Entregas de maio 1.210,00 (feirinha em 27 maio), junho- 1077,20 (feirinha em 25 junho) e julho- 1198,75 (feirinha em 30 julho); (Campanha Bemvindo). Complementamos com recursos FAG o valor que ultrapassou estas entregas.

1482,00 (depósito em 14 set)–

1485,00 (repasse em 28 set) –

R$1.457,50 (repasse feito em  28/10) –

R$2902,50 (repasse em 15/12, feirinha de nov e dez)

* Desenvolver ação de *educação alimentar / SAN – com materiais educativos que contenham receitas possíveis e saudáveis feitas com os alimentos agroecológicos das feirinhas.

Frente e verso do folder distribuído nas Feirinhas de Agroecológicas da Campanha.

* Engajar concretamente integrantes do núcleo Campo Grande na campanha de arrecadação ade modo a mobilizar também uma rede de amigos e familiares.

Perspectivas para 2021 (ainda faltam escutar algumas famílias, o que seguiremos fazendo)

** Avaliar com as famílias a proposta de redução das cestas a partir de março (observamos nas escutas que algumas famílias precisam continuar tendo a complementação com alimentos agroecológicos). Assim, nossa previsão é manter 25 cestas na feirinha e, com o restante do recurso, apoiar ações de autonomia e geração de renda para as famílias; no horizonte, temos a proposta de cessar as cestas a partir do segundo semestre de 2021.

** Trabalho com as famílias sobre ervas medicinais, a partir da horta da Esperança da FAG: incentivo do cultivo e uso de ervas medicinais em apoio ao tratamento e/ou controle de algumas enfermidades, para promoção de saúde. A ação poderá ser  coordenada pela Ana Elisa- núcleo Campo Grande.

 

**Intercâmbio em quintais de famílias na Pedra – plantios, maior autonomia para enriquecer a alimentação familiar; voluntários do núcleo Campo Grande interessados em apoiar. Uma família das famílias se interessou em produzir mudas para vender. Eles e elas já plantam e se se sentiram estimulados com a campanha e com as mudas que receberam. Essa família quer se associar ao intercâmbio de quintais para saber mais sobre como ampliar a produção de mudas. O primeiro intercâmbio poderá acontecer na Pedra.

Implantar seu sistema de compostagem, já desenvolvido em alguns espaços comunitários da região e também no CAC, mais especificamente em 2 hortas comunitárias: Brisa e Boa Terra. As cestas incorporaram produtos das hortas comunitárias. Pensam em ampliar a compostagem recebendo resíduos da comunidade.

** Geração de renda – produção de pomadas de ervas e repelente natural (nas escutas das família , tivemos 4 mulheres interessadas em produzir em conjunto).

** Intercâmbio com voluntários do núcleo Campo Grande no CAC- mutirão de manejo na horta comunitária.

** Ação de educação alimentar/ SAN- utilizando os 14 cadernos de receitas que já recebemos da campanha.

** Apoio a Jovens comunicadores: Tem a Vitória e Rudson que participaram nos registros, ajudaram a editar os vídeos feitos.  A primeira foi acompanhada pela Fundação desde criança e Rudson participou em projetos de juventude. Apolítica da FAG é envolver os jovens nos próprios trabalhos da instituição, compondo as equipes.

Uma proposta aprovada é fortalecer a formação destes jovens em comunicação popular. Para isso, precisamos de pessoas na Rede que possam colaborar de forma voluntária, mais ou menos pontual. Será que você não tem o perfil?

 Apoios financeiros sugeridos para a RE no território Pedra Guaratiba – FAG:

1)        Geração de renda e incentivo para plantio nos quintais: compra de terra, material para construção de sombrites e demais necessidades para a realização de uma oficina no quintal de 1 família interessada em produzir mudas para venda. Nesta oficina e intercâmbio, outras famílias interessadas serão convidadas.

2)        Geração de renda – compra de insumos para uma primeira produção de pomadas de ervas e repelente natural.

3)        Oficina de compostagem e instalação na horta comunitária da Brisa e na horta Boa Terra; compra de materiais para instalar a compostagem. Pode ser um espaço comunitário para destinação de resíduo orgânico e produção composto orgânico.

4)        Manutenção da distribuição de 50 cestas até março e depois seguir com 25;

5)        Indicação de apoio a Dona Dalila, agricultora: mutirão para construir com tecnologia social de baixo custo. A possibilidade pensada é trabalhar o sistema de irrigação, mas vamos conversar melhor com ela. Pensamos em contar com um  jovem da comunidade ou filho de alguma família apoiada pela campanha que pudesse dedicar um par de horas a apoiar o trabalho cotidiano dessa senhora.

6) Apoio para jovens comunicadores

A seguir, traços do debate na coordenação da campanha em relação ao que foi  apresentado:

Annelise Fernandes, representante do território das Vargens, zona oeste, levantou a problemática que envolve a safra do maravilhoso caqui do maciço da Pedra Branca, que está iniciando. Todos os anos há um grande desperdício, já que estão em local de difícil acesso. Seria possível pensarmos em algo em termos do processamento do caqui?

Ana Paula Rodrigues, coordenadora da FAG, defende que esse trabalho devesse ser feito idealmente mais próximo à produção do caqui, ali mesmo no Rio da Prata ou nas Vargens, para evitar o transporte até Guaratiba. É certo que já houve tentativas e não houve continuidade.

Foi sinalizada a importância de se ter freezer para as polpas. Pensaram em descentralizar a produção. Uma primeira ideia era congelar a fruta, mas concluiu-se que dá muito trabalho para cortar.

A ideia de oferecer apoio à dona Dalila com a irrigação foi bastante incentivada também como forma de difusão do conhecimento para outros quintais, em outros territórios. A proposta de conseguir a adesão de um jovem envolvido na Rede de algum modo é bem interessante. Seria possível pensar em um valor minimamente correto para se ter, talvez, mais jovens envolvidos, trabalhando em rodízio.

Márcio Rangel, atuante nas finanças da campanha, assinala que o CEM produz mudas e oferece para a Rede Ecológica e que a mesma dinâmica poderia ser pensada em relação à compostagem. Isso ficou de ser melhor analisado pela fundação.

Miriam Langenbach destaca que seria importante verificar interesse pela cozinha e modos de geração de renda por esse viés. O intercâmbio com o CEM, que está desenvolvendo a todo vapor a cozinha comunitária, pode ser inspirador. Se houver uma ou duas pessoas que se animem a produzir quentinhas para venda, será um passo importante.

Foi visto também que a redução de gastos com as cestas pode viabilizar o investimento em outras iniciativas, permanentes e empoderadoras.

Também foi sugerida a retomada dos 3 seminários/encontros/roda de conversa realizados em 2020. Serviriam para mostrar como evoluiu o processo iniciado em termos de agricultura urbana, educação alimentar e consumo sustentável.

Sandra Kokudai, responsável também pelas finanças da campanha, assinala a importância de se estimular a circulação de produtos ofertados pelos coletivos na própria região, na zona oeste, o que poderia , levando as questões da compostagem, da separação do lixo, fortalecendo a circulação local da economia.

Comentou-se que a formação dos jovens comunicadores foi iniciada de modo muito produtivo por Ana Galizia, associada da Rede, mas precisa contar com o apoio de mais pessoas – e certamente na Rede tem gente trabalhando com fotografia, com texto, com edição etc.

Outro assunto tratado foi a compostagem. Ficamos sabendo como isso funciona na FAG. Sempre trabalharam com os cilindros, estimulando as escolas a terem compostagem. Mas gastavam muito dinheiro para colocar o lixo fora e era lixo verde. Então fizeram compostagem em leiras para aproveitar.  Eles recebem os resíduos de uma escola cujo terreno a FAG doou. Trabalham para que a escola faça a compostagem.

Foi lembrado que uma das ações na pandemia foi a distribuição de cestas e também de kits para compostagem com baldes. Houve interesse da parte de um dos adolescentes em vender os kits de compostagem, tendo já vendido alguns.

Bibi Cintrão colocou duas questões: (1) sobre como foi a relação da coordenação com os agricultores; (2) se a tecnologia de irrigação e o estágio dos jovens não poderia se autopagar com os recursos da própria horta, item que foi considerado muito pouco provável pela atual conjuntura.

Quanto aos agricultores, os depoimentos demonstram que sentiram que sua atividade laboral foi valorizada: plantar, cuidar, colher.  A horta das irmãs Vicentinas, por exemplo, era algo pouco valorizado até por elas mesmas, mas depois que as compras das cestas se iniciaram, elas perceberam que efetivamente tinham um produto que poderiam vender. E assim,  instalaram uma banquinha na frente da escola.

Outro agricultor, o Russo, segundo seu relato, também teve um estímulo importante com a venda para as cestas.