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Balanço do território SIM 2020 (parte 1)

Seguem algumas considerações relativas a Campanha Campo e Favela dentro do território do SIM Sou do Meio, em Belford Roxo, durante o ano de 2020.

Estas considerações surgiram em jan/2021, a partir de uma troca entre Bibi Cintrão e Miriam Langenbach, para familiarizar Josefina Mastropaolo, nova acompanhante com este território. Será complementada por um levantamento feito junto às famílias atendidas, ver o seu feedback:

O SIM foi o único território que a Rede desconhecia.

A aproximação com o SIM se deu através de um contato  do Coletivo de mulheres Hydras do Terra, com uma pessoa próxima a elas, Marilza Barbosa Floriano, que tem um trabalho com Mães vítimas de violência na Baixada Fluminense (mães que tiveram seus filhos assassinados). Marilza tinha contato com o “SIM, Eu sou do meio”, de Belford Roxo através da rede de mães vítimas de violência e indicou o SIM como um território para o recebimento de doações de cestas.

O Coletivo Hydras do Terra (formado por produtoras do assentamento Terra Prometida que estão ligadas ao MST) se propôs a organizar a entrega das cestas para o SIM. Nas primeiras entregas Juliana Wu(do Coletivo) conseguiu algumas doações (junto a conhecidos, amigos, familiares) para fortalecer as cestas.

Este foi o único território onde a indicação partiu das produtoras. As Mulheres do Hydras, um grupo recém formado, tinha uma relação bastante próxima com integrantes da Rede Ecológica, a partir de oficinas de cozinha que aconteceram com elas e outras produtoras da zona oeste e norte, promovidas pela comissão de cozinha da Rede Ecológica. Elas no inicio da pandemia procuraram o apoio da Rede para escoamento de seus produtos e de outros agricultores vizinhos seus do assentamento Terra Prometida. Eram um grupo recém-formado, fruto de uma organização das mulheres que se reforçou com as visitas da Rede Ecológica ao assentamento Terra Prometida em 2019, pois as mulheres eram responsáveis por preparar as refeições. Quando houve o conflito entre o Coletivo Terra e a direção do MST, as mulheres resolveram se organizar como um Coletivo, que permaneceu vinculado ao MST. Quando iniciou a pandemia, através de Juliana tiveram a iniciativa de fortalecer campanhas para a doação de cestas, preocupadas  também em encontrar formas de comercializar e se sustentar e assim chegaram ao contato com o SIM.

Nossa interação com a principal liderança do SIM , Debora Silva, logo nos fez perceber, uma pessoa muito atuante, que iniciara sua prática institucional junto a crianças há relativamente pouco mais que 2 anos na Rua do Meio. Em realidade o SIM surgiu a partir de um projeto  de edital do Conselho Britânico com um pequeno financiamento relativo a  ações de caráter educativo. Debora viu aprovada sua proposta. Seu trabalho acontecia com crianças, buscando proporcionar um espaço para atividades de educação, arte e educação física, como complemento à escola. O grupo foi rapidamente montado e começou a crescer, contando estruturalmente com voluntários.

A pandemia forçou Debora a buscar novos caminhos, que no caso tinham a ver com a doação de cestas e a alimentação. Nossa proposta, dos alimentos agroecológicos, foi uma descoberta super bem-vinda, por ela, pela equipe e pelas famílias. Ela percebeu imediatamente o diferencial que estes alimentos representam, vistos como algo   que habitualmente só é reservado para os ricos. E nestes últimos meses foi feito um trabalho que mostra junto as famílias que houve uma percepção de mudanças para melhor na saúde das crianças a partir dos alimentos. (ver a pesquisa que fizeram)

Podemos notar que Debora tem muita articulação social, desenvolvendo incessantemente parcerias. Entre as constantes estão a Rede Ecológica e um grupo de trabalhadores autônomos do Ceasa que atuam na Pedrinha para alimentos. O grupo Gerando Falcões) também é parceiro constante. Receberam por alguns meses da ONG Criola, e ganharam o premio do edital do Conselho de Arquitetura para instalação de hidropontos, ganharam bicicletas da Rede Atados que será utilizada para propaganda das atividades e entregas de produtos. Além disto fizeram uma parceria com a Casa Fluminense para fazer reuniões com os prefeitáveis e vereadores de Belford Roxo com uma carta compromisso que assinaram e este ano farão uma audiência pública para tratar da violência no município.

Sua preocupação incluiu também a população de rua, para a qual elas começaram a preparar quentinhas na cozinha, que foi equipada para tal fim, foram entregues 1500 refeições no ano de 2020.

Debora Silva é professora, graduanda de serviço social, agora fazendo uma extensionista e bolsista do QADE UFRJ. Débora tem como uma de suas inspirações o trabalho de Eduardo Lyra, da ONG Gerando Falcões, de São Paulo, com o qual faz formação na Falcons University. A entrega das Cestas da Campanha no SIM funciona, completamente a partir de 15  voluntários , que tem feito um trabalho de separação das cestas, cadastro das famílias, organização das entregas, entregas de cartões alimentação, etc. Chegaram a preparar alimentos para doação a população de rua. Tudo muito organizado.

A presença de Debora Debrochinski, nutricionista voluntária do SIM, tem sido importante, na reflexão (junto com as produtoras) sobre a composição das cestas, na orientação às famílias que recebem as cestas sobre os produtos que não conheciam, como as PANCs, ervas medicinais, etc.  Débora colaborou ativamente com a preparação de uma nova edição do Caderno de Receitas, juntamente com a comissão de cozinha da Rede Ecológica.

Quanto ao acompanhamento de integrantes da Campanha da Rede Ecológica, Claudete Oliveira (Vargem Grande) entrou desde o inicio em abril até outubro. Os contatos foram principalmente telefônicos. O fez com muita dedicação, e sua presença foi vista como dando apoio e  tranquilidade , naqueles primeiros dias muito difíceis vividos. Claudete nestes últimos 3 meses não pode continuar, em função de atividade acadêmica, mas retorna em 26  de janeiro. Entra agora como acompanhante Josefina.

Importante destacar ainda  primeira entrada  de  Debora Silva na campanha: ela, a pedido foi encaminhando vídeos sobre o que acontecia no SIM , utilizados no vídeo de lançamento da campanha realizado por Caroline Leduc, na França, integrante da Amar, parceira da Rede. Foi muito emocionante sua fala, expressando o desespero em atender a uma demanda enorme, a satisfação em ter encontrado a Rede.

Uma característica forte por parte do SIM é o engajamento e a dedicação: assim, as entregas, que no caso eram cestas quinzenais para  41 famílias foi trabalhada de modo forte pelo Coletivo Hydras, mostrando a importância  do que traziam, a realidade da roça (chegavam com as botas com lama), com muita animação e protagonismo, explicando a luta pela terra do Movimento dos Sem Terra e sua importância, que se combinava com receitas para o preparo de alimentos, explicações sobre as pancs, etc. Ao longo de todo o ano as entregas aconteceram sistematicamente. As mulheres do coletivo em algumas vezes estiveram presentes interagindo mais longamente com as famílias.

Em realidade o SIM atende a mais famílias, através de outras fontes, com cestas tradicionais, compradas em supermercados (arroz, feijão, macarrão, etc.). Mas, para os frescos tem sido permanente a colaboração de um grupo de trabalhadores do CEASA que a cada semana manda legumes e frutas

Para além das entregas, houve um interesse imediato pela agricultura urbana, com a qual não tinham  experiência, além da inexistência de um local para algo mais comunitário. Estão neste momento preparando um projeto para 2021 que vai se voltar para experiências desenvolvidas pelas famílias. Como parte deste processo houve uma integração com o  território CEM, que nos meses de outubro começou a organizar Encontros de Quintais, na serra da Misericórdia. Este é um dos pontos mais promissores da campanha, a troca entre territórios.

O CEM está tendo um protagonismo multiplicador muito forte, assim como a FAG. O CEM estabeleceu uma parceria  com o coletivo Terra, e os encontros de quintais, estão sendo orientados por uma das lideranças deste coletivo, Cosme reforçando a agricultura urbana, já existente no local. Debora Debrochinski  e mais uma mãe fizeram uma primeira ida, e ficaram muito entusiasmadas.

Uma outra possibilidade para este ano de 2021 é que as agricultoras do Coletivo do Hydras, assumam o papel de formação do grupo nos espaços que se dedicarão ao plantio.

O SIM atualmente está com uma nova sede (antes usavam o espaço cedido por uma igreja) e se formalizou enquanto uma ONG. Está assim iniciando uma nova fase, com custos fixos a serem cobertos mas com perspectivas de outras parcerias. Isto vai trazer novas preocupações e desdobramentos.

A entrega de cestas passou a ser feita no formato de feirinha, um passo muito interessante para um futuro no qual temos que pensar melhor.

Segue um levantamento feito junto as famílias de avaliação do processo das cestas agroecológicas.

Confira.