Texto: Annelise Fernandez
As doações da Rede Ecológica no território das Vargens fizeram parte de uma articulação de pessoas e movimentos voltados à doação de cestas de alimentos secos para famílias em situação de risco em várias comunidades da Zona Oeste durante a pandemia. Essa articulação foi denominada Teia de Solidariedade da Zona Oeste. Foram distribuídas cerca de 4 mil cestas de secos.
O núcleo Vargem Grande apoiou essa frente de trabalho através da associada Mariana Bruce, que desempenhou papel na comunicação nas redes sociais, organizando lives, além de participar da distribuição de cestas.
Uma outra frente de ação durante a pandemia surgiu a partir de doações feitas pelos consumidores da Feira da Roça, com o objetivo de combater a insegurança alimentar local e garantir o escoamento da produção dos agricultores locais, sobretudo aqueles da Feira da Roça. Nessa frente, pelo núcleo Vargem Grande, esteve envolvida Thayana que, desde a fundação desta feira, tem tido um papel central, apoiando, especialmente durante a pandemia, a organização do delivery para os produtores. o que se tornou um serviço permanente da feira. Uma série de inovações ainda precisam ser implantadas no delivery a fim de diminuir o trabalho de sistematização de pedidos e pagamentos, melhorar a comunicação e desenvolver mecanismo eficaz de rastreabilidade.
Finalmente, a terceira ação do núcleo Vargem Grande se deu através da entrega quinzenal de cestas agroecológicas obtidas através das doações da Rede Ecológica, que tiveram como origem os agricultores da feira e foram dirigidas a duas comunidades em bairros diferentes: Cascatinha (Vargem Grande) e Santa Luzia (Vargem Pequena). À frente deste trabalho esteve Annelise Fernandez, que representou o núcleo junto a nossa campanha e assumiu as entregas, junto com Giovanna (Teia de Mulheres, artesã e culinarista da Feira da Roça) e Samira (jovem que atua na organização dos pedidos da feira e atuou no projeto com ações de comunicação). Também integrou esse grupo Sara Baptista (Teia de Mulheres, culinarista da Feira da Roça). Elas participaram ativamente dos pedidos, distribuição e entrega dos alimentos bem como as moradoras Mara Bonfim e Dona Sônia, respectivamente das localidades de Santa Luzia e Cascatinha.
Externamente à Rede Ecológica, a AS-PTA atuou junto à feira da Roça e também nas entregas feitas às duas comunidades, através de um projeto encaminhado para a Fiocruz. Esse projeto tinha similitudes ao nosso, prevendo ações para mitigar o efeitos da insegurança alimentar trazidos aos territórios pela covid-19, além de realizar ações de comunicação.
O fato de a Rede saber da presença do apoio da AS-PTA também definiu seu formato neste período, já que há uma parceria entre os dois grupos, com compartilhamento da cobertura das cestas.
De agosto de 2020 até janeiro de 2021, os recursos da Rede garantiram 12 entregas quinzenais. Foram 600 reais da Rede Ecológica que se juntaram com 500 reais (semanais) do Projeto Fiocruz.
A entrega dos produtos era feito na casa da Sara Baptista (alguns produtos eram buscados nos sítios dos agricultores), depois eram divididos igualmente para o atendimento das duas comunidades: Cascatinha em Vargem Grande e Santa Luzia em Vargem Pequena. Na Cascatinha, Dona Sônia fazia uma roda com as mulheres e uma reza antes das entregas. Nesse momento, Sara e Giovanna comunicavam algumas ações de prevenção ao corona vírus e na entrega de produtos, conversavam sobre os alimentos e seu preparo.
Em Santa Luzia, Mara e Annelise organizavam uma bancada com os frescos e outras organizavam na varanda da Igreja evangélica local. Conforme as mulheres iam chegando, aconteciam algumas trocas sobre os alimentos e seus preparos; sobre plantio de algumas mudas ou galhos. Observou-se o crescente gosto das crianças pelos sucos de acerola com inhame e cúrcuma preparados pela Maria do Céu.
Seria importante fazer uma avaliação a respeito desta ação com as famílias beneficiadas: o que acharam e o que visualizam para o futuro.
Dificuldades:
- Os pedidos de doação aos produtores foram inicialmente feitos pelo sistema de delivery da feira, sistema que não se mostrou muito eficiente, devido à padronização de preços e produtos do formulário. A comunicação direta com os produtores foi se mostrando como método mais eficaz e permitiu certa margem de flexibilidade na escolha dos produtos.
- Alagamentos e questões de segurança acarretaram dificuldades de acesso às comunidades, levando ao adiamento de entregas.
- Pouca produção e variedade de produtos locais para a doação (considerando o equilíbrio de produtos ofertados para a doação).
Produtores envolvidos:
Jorge e Cristina: bananas e, em algumas ocasiões, chuchu e aipim;
Maria do Céu: sucos e pancs;
Maria Rosa: algumas pancs e cúrcuma.
Seu Jorge: Verduras e, em algumas ocasiões, alho-poró, cenoura, chuchu e batata doce;
Russo: aipim, cará, chuchu em uma entrega;
Francisco: legumes variados (intermediário). OBS: Trata-se de uma questão problemática para a Rede Ecológica, que enfatiza a compra direta
Miguel: Verduras (couve, mostarda, manjericão), tomatinho e limão.
Wanderley e Lourdes: duas entregas: 1ª. legumes e 2ª. Mangas;
Horta do Anil: batata doce cenoura.
Em realidade, buscou-se comprar de vários agricultores. Com isso, além de se ter em vista a formação de cestas equilibradas com tubérculos, verduras, pancs e frutas, o objetivo foi distribuir o recurso a todos os agricultores.
- Houve conflitos sobre critérios de distribuição dos pedidos e preços que se somaram a outros conflitos da Feira da Roça.
- Considerando a pequena escala de produtos locais, a oferta continuada e com recursos semanais não muito altos pode ser um apoio importante para a Feira da Roça e para agricultores de Vargem.
Propostas:
- Para este segundo momento, pensou-se em substituir a doação, nos territórios que vem enfrentando problemas de logística e disponibilidade de tempo dos voluntários, por um investimento nos produtores e processadores. As cestas se manteriam até meados de abril, e subsequentemente, os investimentos seriam voltados à produção e processamento.
- As seguintes questões seriam trabalhadas junto aos produtores:
1. Acompanhamento mais próximo do agricultor Francisco Caldeira, que fornece nossas bananas.. O fato de ele estar intermediando também o nosso produto, a banana, precisa ser trabalhado para ser resolvido (a médio prazo), do ponto de vista da Rede e da Campanha. Esse processo seria trabalhado através do acompanhante da Rede Ecológica em parceria com a Aspta.
2. Fortalecimento do acompanhamento dos cestantes do Núcleo na Feira da Roça. Além de problemas como pouca variedade, escala de produção e problemas graves de rastreabilidade, a Feira teve diminuição de seus consumidores presenciais. O ideal seria que a entrega no núcleo fosse feita no mesmo dia da feira da Roça.
3. Oferta de possibilidade de realizar uma formação sobre o preparo e comercialização do suco verde para uma liderança da comunidade Santa Luzia,Mara Bonfim,. com sua inserção na feira da Freguesia.Irma Ferreira, do núcleo Campo Grande, já topou oferecer um estágio para Mara.
4. Oferta de formação para construir uma metodologia de feitura do vinagre de caqui, que recolha as experiências já existentes neste sentido, e devolva resultados aos agricultores, já que pelo menos dois projetos voltados para a produção de vinagre (UFRRJ e CEFET) mobilizaram os agricultores para o tema, mas não produziram conhecimento acessível e que resultasse em um formato para uma comercialização mais permanente. Se contactará oficineiros que viabilizem isto, além de buscar o apoio de Bibi Cintrão e Rita Scheel (Santa), muito familiarizadas no assunto.
5. Organização de um grupo que viabilize a fabricação de polpa de caqui, baseada na compra semanal de caixas do produto para doações. Isso deveria ser feito de modo descentralizado, pensando não só em Vargem Grande, mas também no Rio da Prata (Campo Grande). E o CEM, na serra da Misericórida organizará uma unidade.
6. Em parceria com a AS-PTA, trabalhar a comunicação para divulgação dos caquis e sua comercialização.