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Relato sobre o Mutirão coordenado pela URCA – 9/4/2021

Texto de Adelina Araujo

De acordo com o calendário de coordenação de mutirões da Rede Ecológica, o núcleo da Urca seria o responsável pelo Mutirão de abril/2021.

Como já é do conhecimento geral, este mutirão apresentou muitas falhas que devem ser relatadas para que possamos aprender com elas e evitar que se repitam futuramente.

  1. Formação da equipe 

A Marinete que representa a Urca na comissão do Mutirão não só informou isso ao núcleo que seríamos os responsáveis pelo mutirão, como solicitou insistentemente pelo Whatsapp que alguém se voluntariasse para assumir a coordenação. No entanto, em face do momento atual, da vulnerabilidade das pessoas à exposição ao COVID-19, nenhum componente do grupo se manifestou ou se voluntariou para tal tarefa.

Em vista dessa situação, a reunião mensal do núcleo, realizada como de praxe na semana anterior à entrega de secos, teve como tema central o Mutirão. Discutimos exaustivamente o assunto entre os presentes na reunião e concluímos que se 2 pessoas da mesma família assumissem cada turno, a exposição seria mínima. Eu, Adelina, e meu marido, Sérgio, então assumimos então o primeiro turno e, portanto, a coordenação. Para os turnos seguintes, precisaríamos de mais 1 voluntário já que o Samuel (contratado pela rede para auxiliar nos mutirões) seria o 2º componente de cada grupo. Dario faria a parte dos lançamentos de forma remota.

  1. Inscrições e formação dos turnos 

Nas inscrições para o mutirão, tínhamos uma associada de Santa Teresa (Miriam), mas havia uma vontade de liberá-la por ela não ter condução própria e por participar de muitos mutirões. Tivemos ainda a inscrição do Guilherme (filho da Helga, associada da Urca) para um turno, mas ele teve um contratempo pessoal e participou apenas parcialmente do 2º turno.

Quem acabou completando a equipe e assumindo uma parte muitíssimo pesada do mutirão foi a Sandra do núcleo de Santa Teresa, que na verdade nem tinha se proposto a participar. Ela fez o 3º turno que se estendeu até as 20 h.

  1. O trabalho do mutirão 

No primeiro turno, eu e Sérgio chegamos ao local do mutirão às 9 h e, com a ajuda do Guilherme (apesar do tempo limitado), fizemos a organização e a distribuições de 8 fornecedores. Às 14 horas, estávamos famintos e o Sérgio estava com fortes dores nas costas.

Com a chegada do Samuel (~13 h), trabalhamos um pouco juntos, e entendemos que a distribuição estivesse bem adiantada e que, de posse das tabelas e com a experiência que ele já possui de mutirões, ele teria condições de dar continuidade e que, mesmo com a dispensa da Miriam, a Sandra já encontraria a distribuição na sua fase final. Pedi que ele fosse me enviando as tabelas preenchidas na medida em que a distribuição de cada produtor acabasse e partimos.

Nosso entendimento foi errôneo pois na verdade o Samuel precisava da orientação de um associado. Chegando em casa, comecei a tentar contato com ele para saber do andamento, mas não consegui nem por mensagem nem por voz. Só quando a Sandra chegou é que descobrimos que o mutirão estava praticamente no mesmo ponto em que deixamos. Ela assumiu com o Samuel todo o resto da distribuição e arrumação dos lotes para entrega aos motoristas no dia seguinte.

Dario fez os lançamentos disponíveis no dia 9/4 de forma remota. A arrumação e a contabilização do estoque real pós-mutirão foram assumidas pela Sol do núcleo do Humaitá. Eu fiz o fechamento do mutirão no sistema e ainda vou voltar ao local para conferência final do estoque.

  1. Lições aprendidas 
  • A coordenação do mutirão tem que ser assumida com antecedência de pelo menos uma semana, o que já é prática e regra da Rede Ecológica.
  • As equipes precisam ter 2 voluntários associados presentes integralmente por turno, além do Samuel. A escala de um suplente pode ser interessante.
  • A participação do Samuel é de grande ajuda, mas ele precisa de orientação de um associado para realização do trabalho.
  • O coordenador deve estar presente no início e no fim do mutirão para suprir qualquer falta ou efetuar correções.
  • Enquanto perdurar a situação caótica da disseminação do COVID, cada componente da Rede deve fazer refletir: “Como eu poderia ajudar um pouco mais para que a minha cesta seja entregue no sábado?”

 

Reflexão encaminhada para o núcleo da Urca:

O que aconteceu neste último mutirão faz-nos refletir: a Rede Ecológica se baseia na autogestão, isto é, num coletivo em que cada um tem um papel a cumprir. Nós somos um movimento de compras coletivas engajado, no sentido de que há uma troca: recebemos excelentes alimentos, mas tudo a partir da nossa ação, em todos os níveis da cadeia produção e consumo. Esta gestão participativa envolve a todos, alguns mais, outros menos, mas cada um precisa contribuir. Se isto não acontece, a cadeia de elos se rompe, o que leva a uma certa desestruturação, que acaba sendo compensada pelo trabalho extra de alguém.

No caso do último mutirão, o número insuficiente de voluntários foi um primeiro sinal vermelho. “Será que não poderia ter havido pessoas que se dispusessem a passar 2 horas no mutirão, apesar do difícil momento que atravessamos?” A ausência, o silêncio, leva os mais preocupados a entrar, reforçando um papel que já assumem na Rede, o que significa sobrecarga de uns e a acomodação de outros. A participação em momentos difíceis é um teste especial.

O que aconteceu neste último mutirão também acontece em outras situações, como por exemplo quando um associado sai de uma comissão, sem avisar aos outros, sem se despedir ou preparar a vinda de uma outra pessoa, ou assume uma tarefa e não faz, sem se preocupar com substituição ou as consequências. Às vezes, os efeitos não são visíveis, mas enfraquece a autogestão e o caminho da Rede. Desta vez, os efeitos foram visíveis e a Urca, um núcleo notável pelo engajamento, ficou na berlinda como aquele que falhou.