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Homenagem a matriarca da Feira da Roça de Vargem Grande: Nossa Maria do Céu fez mais uma volta ao sol

 

Texto de Mariana Bruce

 

Nesse domingo de Feira Solidária, nossa querida  Maria do Céu havia feito mais uma volta ao sol. Feirante e fundadora da Feira da Roça Agroecologia e Cultura/FRAC é também uma das nossas matriarcas mais especiais. Ou, para os mais íntimos, a princesinha das PANCs. A banquinha da vovó portuguesa é parada obrigatória para quem quer conhecer um pouco mais sobre os matos de comer – também chamado de Plantas Alimentícias Não Convencionais/PANCs – e as ervas medicinais. Nascida em Portugal, Do Ceu veio de navio bem jovem para o Brasil ao encontro de seu pai e plantou suas raízes em Vargem Grande há quase 60 anos. Viveu sempre da agricultura, da roça, e, hoje, conta com a ajuda dos filhos e netos – e com o axé dos bisnetos -, seja na labuta na horta, seja no comércio aos domingos na Feira ou na porta de casa. Robertinha Simões, uma de suas netas, é uma das que chegam junto e é quem está por trás do perfil da dona Do Céu nas redes sociais e da banca aos domingos. O @dahortadavovó é uma das coisas mais fofas que vocês vão achar na internet. Lá vocês vão encontrar várias informações e curiosidades sobre tudo o que é produzido em seu quintal, bem como  dos produtos beneficiados que também são produzidos pela vovó (xaropes, geleias, sucos). É um espaço importante de afirmação desse lugar tão especial que Dona do Ceu ocupa em nosso território e de inspiração para tantos e tantas por aí.

Do Céu aprendeu a plantar inicialmente com o pai, mas, depois, assumiu as rédeas do seu quintal e o transformou em um sistema agroecológico com uma agrobiodiversidade incrível. Sem uso de qualquer veneno ou agrotóxico, Do Ceu ao longo de sua vida foi descobrindo a potência que existe na natureza em si e como a composição de uma planta com a outra é o principal ingrediente para preservar sua horta e multiplicar sua produção. Quem vai no quintal de Do Céu é tocado por uma magia que paira por ali. Segundo a mesma, é Deus quem planta tudo para ela. Ele simplesmente dá. Ela apenas cuida. A vinagreira, ela diz que só plantou uma vez e nunca mais plantou. Ela vai se reproduzindo. A chaya é a mesma coisa. Plantou uma vez e hoje ela encosta na terra um galho, dali a dois meses, já tem folha para colher. A maior parte dos matos de comer e das ervas medicinais que ela cuida, simplesmente nasceram ali. São nativas. Ela vai só acompanhando e cuidando. Tem beldroega, bertalha, ora pronobis – que também é parte da paisagem e proteção da horta por conta dos seus espinhos -, entre tantas outras. A barraca da Do Ceu é famosa. Qualquer problema que você tenha, é só assuntar por ali que logo você descobre uma erva que pode ajudar. Se não tiver para vender ali na hora, rapidamente você é convidado para ir ao quintal mágico para receber uma muda, folhas, galhos para fazer um chá ou um remédio qualquer. Da horta da Do Ceu, já nasceram dezenas de outras hortas espalhadas por esse território.

Além das plantas nativas, há também os frutos das mudinhas e presentes que ela foi ganhando pelo caminho: há dois anos, por exemplo, ganhou duas mudas de moringa de um cliente e plantou. Parece que vieram lá da Colônia. Ela plantou sem nem saber muito bem os benefícios da planta até que uma outra cliente, um tempo depois, ao se deparar com essa maravilhosidade na Feira ficou encantada e compartilhou conosco seus conhecimentos sobre o poder e os benefícios dessa planta para a saúde.

Em entrevista, Dani Sofia, moradora das Vargens, frequentadora da Feira e formada no curso de Terrapia da Fiocruz, reforça a importância desse espaço de resistência nas Vargens, da possibilidade de se conectar diretamente com o agricultor, sem atravessador e conta um pouco para nós sobre os benefícios da moringa:

– Moringa é ouro verde! É conhecida no mundo inteiro. É muito utilizada na Índia para purificar a água. Lá, quando precisam usar água potável e não têm filtro, eles usam a semente de moringa para deixar a água pura. A moringa deveria ser muito utilizada por todos. Além de purificar a água, a folhinha conta com vitamina de A a Z. É um verdadeiro “centrum” natural. Ao pessoal que tem diabetes, a moringa faz muito bem e contribui no balanceamento do corpo. No Rio de Janeiro, a moringa não é muito conhecida como o é em outras regiões. As pessoas precisam plantar mais moringa. Se plantar hoje uma mudinha,  em um ano, você já pode contar com umas folhinhas para botar na salada, no suco. Moringa deixa a pele mais bonita também, contribui na saúde dos cabelos e vários outros benefícios.

Eita que não é pura alegria que todo esse alimento e axé esteja alcançando as famílias que mais precisam? Assim como D. Lourdinha conversou conosco outro dia, Do Ceu também está muito feliz e agradecida de estar junto na Feira Solidária, fortalecendo as pontas dessa relação entre campo e cidade. Um molhinho da Do Ceu que chega na mesa de uma família não é só alimento. São doses de amor, de solidariedade, de tanta coisa que nem dá para mensurar aqui. Que possamos seguir fortalecendo essas relações e iniciativas por um bom tempo. Nesse último domingo foram 27 famílias atendidas e contamos, inclusive, com doações feitas na hora. Nosso movimento está crescendo. Deixamos um salve então para todes com um brinde de cachaça de casca de jatobá que a Maraci Soares do Quilombo do Camorim produziu.

 

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