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Vamos falar dos 3 Rs?

Texto de Miriam Langenbach

É tocante ver o depoimento de Anne, catadora, sobre a percepção de seu papel ao realizar esta atividade.  É uma árdua tarefa que ela vê com amor por se ver contribuindo para maior proteção da natureza.  Os catadores não são poucos.  Nos tempos que vivemos, a catação ainda aumentou mais.  Muitos têm esta percepção.
Eu não consigo esquecer os 3 Rs – reduzir o consumo, reaproveitar e reciclar.  No caso, o reaproveitamento não é mencionado, mas vejo como um grande potencial para valorizar mais ainda a atividade da coleta.
Um ponto sobre o qual insisto sempre:  o objetivo da reciclagem é encaminhar o material para um destino industrial. Vidro, alumínio, papel, são quebrados, derretidos para se transformar em matéria prima, e posteriormente retornar a condição de objeto.  Então por natureza ela é também poluidora, com muito gasto de energia, água etc.  E o pior: ela vai viabilizando e legitimando o descartável.  E junto vem uma mentalidade do descartável, que tudo pode rapidamente virar lixo, que está no coração da obsolescência programada.  Esta visão que promove que o novo acaba sendo mais barato do que o velho, que o conserto não vale a pena.  Nunca se inclui nestes cálculos, os custos ambientais que estão subjacentes.
Vale a pena ver o vídeo obsolescência programada pela diretora alemã Cosima Dannoritzer que apresenta magistralmente o assunto.
https://www.youtube.com/watch?v=AKZg0G3wBec&t=49s
Já no caso do reaproveitamento, o foco é outro:  é manter aquele objeto ainda utilizável, de um modo próximo ao que ó objeto é, sua transformação passa a ser algo ligada ao artesanato, a fazer arte.
Mas o reaproveitamento é muito mais amplo, cobre muita coisa de nossas vidas.  O que se pode reaproveitar?  Fica claro que desde o micro, aquele parafusinho que servirá para alguma situação, até nossos alimentos, que de repente em vez de ir para o lixo podem ser juntados e virarem uma refeição gostosa. Tem neste gesto um processo de valorizar o que existe.  Se satisfazer com o que está a mão.
No lixo encontram-se preciosidades, coisas do dia a dia que ainda estão em perfeito estado, podem ser retomadas por outra pessoa, consertadas ou recriadas de outro modo. Por incrível que pareça, jogamos muito rápido nossas coisas fora, de uma maneira muito displicente.  O lixo representa um lugar de desprezo, de preconceito. De nojo.
Um exercício interessante é examinarmos o nosso lixo e de como podemos diminui-lo:  começando por aspectos dos alimentos que não utilizamos – em realidade aprende-se que praticamente tudo dos alimentos pode ser aproveitado!  Aproveitar o lixo orgânico para desenvolver a prática processo de compostagem é um ponto de partida.  Ver restos viraram húmus é um processo magico, creditado ao tempo e ao trabalho de microrganismos. Este por sua vez pode virar base de uma horta, de novos alimentos.  O lixo orgânico compostado é grande parte do lixo urbano.  Esta é uma reciclagem admirável, que a natureza, e não a indústria, faz… Então, quando começamos a compostar estamos fazendo um grande gesto.
Examinando ainda mais nosso lixo, aí ficam as embalagens.  As embalagens podemos evitar tentando comprar as coisas frescas, a granel, por exemplo evitar refrigerantes, e fazer nossos sucos.
É o que a Rede faz, ao aproveitar os vasilhames utilizados para encaminhá-los para os produtores que por sua vez os fazem retornar a nós, em um grande exercício.  Aprendemos que podemos colocar nossos restos também nos vidros, saindo cada vez mais do plástico.  Sim, porque a grande briga para diminuir o lixo reciclável é ir tirando o plástico, o isopor do caminho.  Vocês já observaram como o isopor está ganhando espaço nos alimentos?  Isopor que é um elemento tão problemático, já que não é reciclável, a não ser em grandes quantidades.
Pretendo continuar esta reflexão, no caso abordando uma das únicas experiências que conheço, que une coleta de lixo com reaproveitamento.  Esta é uma saída incrível, uma iniciativa do futuro.  Trata-se da Coopcarmo, que reúne um grupo de catadoras há 25 anos em ação – são todas mulheres!  Há poucos anos reiniciaram um trabalho com o reaproveitamento, que tinham realizado vários anos antes, com a artista plástica Jac Carrara.  Mas falaremos disto na próxima carta.