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O que nossos netos terão que enfrentar: nossa contribuição agora

Texto Miriam Langenbach

São impressionantes as imagens mostradas no vídeo acima, que nos conclamam a participar do movimento Greve Mundial contra o clima que no dia 20 de setembro terá um momento de pico. Iniciou com a jovem ativista Greta Thunberg na Suecia em 2018, mobilizando cada vez mais jovens pelo mundo afora. Isto coincide ainda com COP anualmente promovido pela ONU, que acontecerá em breve em Bruxelas.
O vídeo mostra, em várias partes do mundo, situações aterradoras. As mudanças climáticas precisam ser mais tematizadas, por cada vez mais gente. Para nós, da Rede Ecológica, precisa também acontecer mais. A tendência geral que se observa, é que há uma passividade difícil de romper.
Parece fato que as iniciativas individuais e de pequenos coletivos buscando mudança e reparo, objetivamente resultam em uma parte muito reduzida das responsabilidades pelo atual quadro.  As corporações, um sistema que explora incessantemente todos os recursos sem dó nem piedade, parecem os principais agentes.  O 1% da humanidade.
Podemos tentar questionar, boicotar as grandes corporações – mas é visível que este é um processo bem difícil de acontecer em escala maior.
Acreditamos que nós, enquanto Rede, mesmo sendo um grupo pequeno, temos um papel em relação a este panorama catastrófico.  Introduzir praticas que se contraponham ao padrão, apoiados em outros valores, que representam outra cultura, outra forma de ver o mundo.  Maior simplicidade combinada com mais igualdade, despojamento, durabilidade nos produtos, o prolongamento da vida útil dos objetos buscar do entendimento preciso dos processos que envolvem qualquer aquisição, podendo rastrear de onde vem, quem produziu, quais são os resíduos – que impactos cria para a natureza e como minimiza-los. Introduz outra lógica, outra ênfase.
Isto vai desde casas feitas com material ecológico, não consumindo muita área nem energia; repensar a presença de duas casas, como muitos tem.  O uso do carro, buscando soluções mais coletivas.  E vai até pequenos exemplos cotidianos que envolvem a compra de carnes, legumes, etc. envoltos em isopor, cuja presença é crescente a olho nu.  Embalagens, um item cada vez mais desenvolvido na direção da quantidade e de materiais que não tem nada a ver com preservação da natureza.  Nós atentamos para isto?  Construímos alternativas? Recusamos estes produtos?  Ou continuamos indiferentes, sem dar muita bola ao assunto?
É fato que a Rede tem construído saídas para seus produtos escaparem do isopor, um item que não entra. Conversamos na época com nosso produtor de cogumelos , o Fabricio, que encontraram outras formas de embalar, fugindo à regra das bandejas.  Foi emocionante acompanhar nosso produtor do queijo da serra da Canastra, o Luciano, evoluir até o singelo saco de papel que atravessa muitos quilômetros de uma maneira ecológica.  E o bastão de cacau embrulhado num papel de fibra lindo, e simples, que vem da Amarea, da Bahia.  E o admirável saco de papel de nossa padeira Diana, resistente para muitos outros usos.  Nossa comissão de retornáveis integradas por Sol Libman, Luisa e Thais, do Humaitá, e também por Marinete da Urca, tem batalhado a redução de embalagens de plástico, substituindo com nossos vidros retornados, como é o caso da manteiga.
Mas muitos produtos que buscamos no dia de entrega dos secos ainda continuam vindo em embalagens plásticas.  Sabemos que a granel teremos mais trabalho, principalmente nos núcleos.  Cada um trazendo seus vasilhames para levar.  Exige da memória, da atenção.  São processos quase invisíveis, mas muito significativos, no sentido de adesão a um outro olhar.
Precisamos dar um salto, um passo mais consequente.  Superar nossas resistências, nossa tendência à inércia, caso queiramos realmente fazer justiça a nosso nome de rede ecológica e proteger minimamente nossas netas e todas seus amigas.
A campanha Campo e Favela contra o Corona e a Fome, ao tornar acessível a comida de verdade, fez várias pessoas dos territórios populares começar a repensar sua alimentação.  E é isto que todo o desenvolvimento da campanha está visando, que é tornar permanente esta compreensão.. Isto precisa ser cultivado, é um processo complexo que desemboca no plantio, e no repensar o consumo . Daí importância de se criarem grupos ligados ao consumo responsável, como uma forma de consolidar esta reflexão e prática.  Esta é uma de suas grandes funções.
E neste momento a Rede Ecológica começa a extrapolar seus 200 integrantes, e vai multiplicando os conceitos e propostas!
Dentro deste contexto, pensamos em reaplicar a pegada ecológica este ano novamente, de um modo que fomente mais discussão e mudança de comportamentos.  Um grande desafio!
O que podemos perceber entre nós, da Rede Ecológica, é que a questão do alimento saudável, de qualidade é o predominante na adesão das pessoas às propostas da Rede. um sentimento amplo de aprendizado, troca, entendimento por alguns do vinculo com a Reforma agrária – e aí fica bem claro como um grupo relativamente pequeno vai fazendo a diferença.
Mas mesmo neste assunto, que nos é tão caro, devemos examinar com mais rigor o entendimento se de fato estamos saindo dos supermercados.  Onde fazemos nossas compras no que percebemos como insuficiente na Rede? Podemos dizer que saímos de fato dos supermercados?  Quantos buscam esta ruptura?
E o lixo e os três Rs como é que estarão?  Nosso lixo também não é um assunto que uma maioria leva tão a sério:
Quem faz compostagem na Rede?  Quem faz parte de programas de coleta seletiva de lixo?
Quem evita o isopor?  Não aceita produtos embalados com o isopor?  Até nós temos ainda o isopor em nossas caixas de ovos!
Será que cada um de nós se preocupa quando vai num outro local, de recusar os plásticos, dando soluções que aprendeu na Rede?
Parece tão pequeno e no entanto quem sabe poderá ser grande?
A mudança destes hábitos, levar muito a sério este assunto na prática, pode trazer realmente um outro forma de olhar, outro agir.
Quando pensamos na Rede, que com seus aproximadamente 200 integrantes completa em breve os 20 anos de existência ininterruptos comprando alimentos agroecológicos de qualidade, tem sentido almejarmos estes avanços? Fica a pergunta para vocês…