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Feira Solidária de Vargem – Que venha a primavera!

Texto de Mariana Bruce

05/09/21*
Salve, pessoal! Já faz um tempinho que não trago relatos do nosso front da Feira Solidária.   A iniciativa segue a todo vapor.  Por algumas questões pessoais tive que me afastar por um tempo, minha parceira de roteiro e entrevistas, Barbara Massot, também tem alçado outros voos profissionais, de maneira que ainda que as ações sigam muito potentes, perdi o ritmo de postagens. Mas, aos pouquinhos, vamos retomando esse fio de história porque tem muita coisa bacana rolando.
Seguimos assistindo cerca de 30 famílias de Cascatinha, Santa Luzia e outros territórios da região das Vargens a partir da autogestão de mulheres pretas. Com isso, não queremos dizer que não haja famílias brancas na ponta da distribuição ou tampouco que não haja brancas antirracistas, como esta que vos escreve ou nossa potente Giovana, artesã, feirante e educadora popular que também colabora de diversas formas.  Ainda assim, faço questão de trazer sempre esse recorte porque a interseccionalidade das opressões é, ao mesmo tempo, pressuposto e horizonte estratégico de onde partimos, de onde queremos chegar e a quem desejamos (precisamos!!!) mover principalmente.  Deste modo, ficamos muito felizes de ver consolidado no front da distribuição o trabalho incrível de três mulheres admiráveis, D. Sonia, Tereza e Rosi.  Isso para não falar dos lanches fenomenais da Sarah.  E estão chegando mais mulheres.  A manutenção dessa iniciativa a cada quinzena vai consolidando relações e apropriações diversas sobre os sentidos e significados daquilo que estamos fazendo.
Seguimos contando com os recursos da Rede Ecológica que, inclusive, assumiu o compromisso de suprir alguns déficits que surgiram no caminho com o fechamento temporário do delivery da Feira da Roça (e, com isso, perdemos as doações que vinham dessa frente) e da própria Teia de Solidariedade da ZO que se empenhou muito para contribuir enquanto tinha recursos.  A Rede Ecológica também tem apoiado na produção do lanche agroecológico que tem se tornado uma ação pedagógica da maior importância junto com a Feira Solidária não apenas para disseminar o uso das plantas não convencionais – os matos de comer – que ainda causam estranhamento em muitas famílias, mas também como um meio experimental para atrair mulheres para a produção desses alimentos e, assim, avançar em uma capacitação que possa contribuir para a inserção delas em circuitos curtos de comercialização gerando renda.

Inclusive, já que mencionei a Rede Ecológica, nessa linha de ação, nos apoiamos no caderninho de receitas da Rede para fazer girar esses conhecimentos entre as famílias da Feira Solidária. A ideia é que a cada quinzena, uma mulher leve o caderninho para casa, escolha uma receita, nós oferecemos os insumos agroecológicos necessários para elaboração da receita e, no encontro seguinte, essa mulher leva a receita para a partilha do lanche. Na medida em que as receitas forem dando certo, a proposta é comercializá-las.  Na última Feira Solidária, nossa querida Rosi de Cascatinha, levou o caderno e fez uma receita incrível de um bolo de banana que foi literalmente devorado por todos e todas que ali passaram. Foi um sucesso absoluto e Rosi também ficou muito feliz de ter tido essa oportunidade de produzir, de colocar essa energia para circular e com a possibilidade da gente ir incluindo esses itens em um circuito comercial curto (ainda estamos estudando como fazer de fato).  Confiram só o videozinho da Rosi contando para a gente como foi a experiência.
Para a próxima Feira, Edneia também de Cascatinha, levou o livro e ficou de escolher uma receita para fazer para a gente.  Acreditamos muito na potência dessa iniciativa. Em breve, mando mais relatos. Ter esse material e esses insumos agroecológicos circulando nas favelas do nosso território, entre famílias chefiadas por mulheres pretas e ainda, com possível geração de renda, diz muita coisa.

Sei que já comentei aqui de vários projetos que estamos tocando ou querendo tocar: implantação de uma moeda social que confira maior autonomia às famílias na montagem de suas cestas e no estabelecimento de relações diretas com os agricultores; o desenvolvimento de hortas – principalmente hortas verticais – nos territórios de favelas com vistas à soberania alimentar; a realização de oficinas de culinária – de aproveitamento da jaca, de produção de sabão, de produção de absorventes, entre outros – até o projeto de revitalização do Largo de Vargem Grande, praça onde ocorre a Feira da Roça e a Feira Solidária, através de metodologias participativas e que conta com o apoio do Laboratório de Tecnologias Sociais da Escola Parque.  Tudo isso está em curso, acontecendo ao mesmo tempo ou em vias de acontecer, uma iniciativa fortalecendo a outra.  É certo que às vezes falta um fôlego aqui outro ali, mas com o empenho de muitas e outras mais que vão chegando as coisas vão acontecendo e novos horizontes vão se abrindo.  Aliás, tem muito mais por vir ainda, mas isso eu deixo para os próximos capítulos.
Por hoje, para celebrar esses tantos encontros, além do vídeo da Rosi, deixo também essa dica da Tereza de aproveitamento desse tipo de mandioca que veio lá do quintal do Seu Jorge e que não é muito convencional, mas, se bem preparada, ó, fica um arraso.
Seguimos com essa prosa!  Que venha a primavera! Inté!