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Visita da Rede Ecológica ao CEM - Centro de Integração na Serra da Misericórdia

No dia 20/abril/2023, um grupo de cestantes da Rede Ecológica visitou o CEM, no Complexo da Penha,  com o objetivo de vivenciar e conhecer melhor este território, que é um dos atendidos pela da Campanha Campo, Favela e Cidade de mãos dadas contra a Fome (Campanha Campo e Favela). E conversar sobre a continuidade da Campanha e possíveis outros apoios da Rede Ecológica.

Vista da Cidade a partir da Serra da Misericórdia, próxima à sede do CEM

A sede do CEM tem uma varanda bem gostosa, cercada de verde, que faz parecer que estamos “na roça”, apesar de dentro de uma super urbanizada. Nesta varanda funciona a Escolinha de Agroecologia. Ana Santos, mulher preta, ativista, fundadora e coordenadora do CEM, relembrou o primeiro contato com a Rede Ecológica, em 2015, e a parceria desenvolvida desde então.

Na visita, conversamos sobre os 3 eixos atuais do trabalho do CEM: a Produção Agroecológica, a  Escolinha de Agroecologia e as Mulheres em Ação. Conhecemos o espaço da Escolinha, visitamos a área de agrofloresta, o viveiro. Não deu tempo de conhecer os quintais produtivos, outra ação do CEM.

Conversa Rede Ecológica e CEM – na varanda onde funciona a Escolinha de Agroecologia. Muito verde.

A partir da conversa, alguns possíveis apoios futuros da Rede Ecológica foram sinalizados, tanto no que se refere às doações de recursos da Campanha Campo e Favela quanto outras possibilidades de ações. Vejam abaixo o relato mais completo.

 

Relato da Visita da Rede Ecológica ao CEM- Centro de Integração na Serra da Misericórdia  20/abr/2023

Participantes do CEM: Ana Santos, Marcelo, Ane, Wallace, Leildes, Vanessa

Participantes da Rede Ecológica: Bibi Cintrão, John, Josefina, Miriam Silva (Núcleo Santa Teresa), Márcio Rangel (ex-cestante, comissão de finanças da Campanha), Milca (Núcleo Grajaú)

CEM e Rede Ecológica Participantes da visita

O CEM é um dos territórios que recebe as doações da Campanha Campo, Cidade e Favela de mãos dadas contra a Fome. O CEM fica localizado numa das favelas do Complexo da Penha, na Serra da Misericórdia, mesma serra onde fica o Complexo do Alemão. A Serra da Misericórdia é uma das últimas áreas verdes daquela região da cidade.

A visita no tempo chuvoso permitiu perceber as múltiplas nascentes de água da Serra da Misericórdia, que também era chamada de “Serra Chorona”. O traçado das ruas na Terra Prometida segue os pequenos cursos de água. Uma das preocupações do CEM é com a preservação das nascentes e com o aproveitamento desta água. Além das cestas, a Campanha Campo e Favela contribuiu com a construção de uma grande cisterna que ajuda a armazenar esta água.

Vista do alto, próximo ao CEM – área verde na Serra da Misericórdia

Ana Santos, mulher preta, ativista, fundadora e coordenadora do CEM, relembrou seu primeiro contato com a Rede Ecológica, em 2015, quando conheceu Miriam Langenbach, no Congresso Brasileiro de Agroecologia, na UERJ. Desde então iniciou-se uma parceria, com a venda de produtos do CEM para a Rede Ecológica (chaya, carne de jaca, mudas, caqui congelado, etc). Ana Santos foi também cestante no Núcleo do Grajaú. Entre 2016 e 2020, contribuiu com o Programa Campo e Cidade se dando as mãos, da Rede Ecológica (anterior à Campanha Campo e Favela) e ajudou a criar o Núcleo de Caxias, do qual fez parte como consumidora. Ana Santos fez um estudo de comparação dos preços dos produtos da Rede e dos Supermercados, constatando que às vezes o da Rede era mais barato. Fez também um estudo sobre o transporte.

Com a pandemia, o CEM realizou entregas de cestas, tendo recebido ao longo de 2021 cestas para 50 famílias com o apoio da Campanha Campo e Favela da Rede. Parte destas cestas foi doada com recursos de um projeto da Fiocruz e outra parte com doações dos cestantes e amigos da Rede. O CEM recebeu também quatro entregas maiores de cestas, através de um projeto da AS-PTA. As cestas eram entregues na forma de uma feira, com as famílias podendo escolher os produtos que preferiam. A partir de 2022, a entrega de cestas pela Campanha Campo e Favela foi interrompida e o apoio passou a ser a outras ações do CEM: a construção da caixa d ́água, alimentação para as crianças na escolinha de agroecologia, as visitas aos quintais e o “café com política”, com a participação do Coletivo Terra, entre outras. As bananas da Rede Ecológicas, fornecidas por agricultores urbanos de Vargem Grande, são até hoje lembradas pelas crianças. Além da Rede,o CEM tem outras parcerias e apoios, em especial com a Fiocruz, a AS-PTA, o PACS.

Cisterna para armazenamento de água (embaixo), mata remanescente (à esquerda) e área da agrofloresta (à direita)

Realizaram oficina de sabão com as mulheres, com reaproveitamento de óleo de cozinha e praticamente não compram mais sabão. Entre as mulheres que participam do CEM há uma troca grande de ensinamentos, receitas e mudas de plantas medicinais.

As crianças que participam da escolinha consomem mais frutas e produtos mais saudáveis.  

O trabalho atual do CEM tem 3 eixos:

1- Produção Agroecológica

2- Escolinha de Agroecologia

3- Mulheres em Ação

1- Produção Agroecológica:

Tem apoio do programa de agricultura urbana da AS-PTA (ONG que trabalha com agroecologia e agricultura urbana). O CEM tem 6 hectares de área cercada, implantando um sistema agroflorestal, em área bem próxima da Sede. Marcelo e Wellington guiaram a visita na área. Está sendo implementado um sistema de irrigação, como estão sendo plantadas cerca viva no entorno da sua área, para evitar que vacas e cavalos pulem a cerca e venham a comer o que tem sido cultivado no sistema de produção agroecológico. Querem comprar um tratorito, para facilitar o trabalho na área de produção, que é muito morrada e íngreme.

Subida para a área da agrofloresta

Atualmente estão com várias frutíferas plantadas e acabaram de colher 70 kg de batata-doce. Também possui um galinheiro, com cerca de 25 galinhas, que produzem ovos para a Escolinha de Agroecologia. O CEM construiu também um tanque que está com tilápias.

Tanque com tilápias

Além dos trabalhos na área do CEM, organizam encontros dos quintais urbanos, pois várias mulheres que participam do CEM têm quintais produtivos, onde produzem uma boa variedade de plantas para usos medicinais e para a própria alimentação familiar. A AS-PTA tem dado apoio técnico a estas atividades.

Transferiram o viveiro de lugar e voltaram a semear agora com o final do verão: quiabo, pimenta, physalis, ora pro nobis, couve. Crianças da escolinha estão gostando de ajudar no viveiro escolhendo o que querem semear. Haveria a possibilidade e o interesse de fornecimento de mudas para o Coletivo Terra, mas o custo do transporte inviabiliza esta ação.

O CEM participa da Feira Agroecológica de Olaria, que tem 11 anos, mas que atualmente está em atividade com apenas 3 barracas.

2- Escolinha de Agroecologia

O CEM atende cerca de 50 crianças no contra turno escolar, com idades de 7 a 14 anos. O trabalho desenvolvido na escolinha ocorre em grande parte de forma voluntária, a estrutura existente está em permanente construção, pois vão melhorando e ampliando aos poucos, em função da necessidade e da existência de recursos.

A Escolinha de Agroecologia do CEM tem recebido doações de cadeiras, materiais (livros, brinquedos e a Rede Ecológica foi uma das instituições que contribuiu)

A Escolinha de Agroecologia começou com atendimento somente aos sábados, mas como por razão da demanda advinda das próprias crianças, que quiseram e solicitaram por mais dias de atividades e aulas a escolinha atualmente funciona de segunda a sexta e em um sábado por mês, quando fazem algum passeio, em geral na Arena Dicró (dança, teatro, parquinho).

Às segundas, terças e sextas as crianças têm aula de música. Na terça e sexta trabalham a alfabetização, que não é por idade, pois há crianças com 11 anos que ainda não sabem ler. Na quinta tem aula de culinária e preparam juntos o jantar com a ajuda das crianças. A aula de culinária ensina também um pouco de matemática, com medidas, pesos e proporções, de uma forma bem interessante e que auxilia com o aprendizado e assimilação do conhecimento de uma forma muito mais prazerosa.

Na semana passada, durante a aula de culinária, foi preparado pão de batata-doce com a colheita do CEM. As atividades na escolinha se integram com as atividades da área de produção agroecológica do CEM.

Estão planejando uma formação de educadores populares, anti racistas e feministas, para que todes do CEM se vejam também como educadores. Celso da Unirio propôs a realização de um seminário de escuta.

Um dos grandes desafios atuais é a construção da sede do CEM, que ocorre ao mesmo tempo em que as atividades da escolinha são realizadas.

Na busca por apoio para a escolinha, recebem ou receberam doações da Unacoop (alimentos), Soltec, Fiocruz, Sindicatos.

Crianças gostam muito de vir, mães que participam do CEM também. O ambiente é muito verde.

Querem implantar uma moeda social – MUDA, inspirados na Rocinha. A própria Escolinha pode ser paga com moeda social.

Entrada do CEM e da Escolinha de Agroecologia

3 – Mulheres em Ação

Envolve mulheres e mães que participam do CEM. A cozinha é fundamental. Formação de Educadoras. Formação das mulheres para a construção civil. Trocas sobre culinária, plantas e cuidados com a saúde.

Além deste trabalho no dia-a-dia da comunidade, o CEM tem uma participação importante em diferentes lutas sociais mais amplas, na defesa da Agricultura Urbana e da Agroecologia, levando também a pauta das favelas. Leva a pauta da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da “Comida de Verdade no Campo e na Cidade. Faz parte da Rede carioca de Agricultura Urbana e da Articulação Estadual de Agroecologia, participa no Conselho Municipal SAN (CONSEA-Rio), participa no diálogo com parlamentares e governos municipal e estadual pelo direito a “morar e plantar” e à moradia digna. Participa de mobilizações e pautas nacionais, como as eleições presidenciais e agora o fortalecimento de políticas federais do novo governo, com a volta do Ministério de Desenvolvimento Agrário, da PNAPO -Política Nacional de Produção Orgânica, entre outras.

Possibilidades de apoio da Rede Ecológica

A partir da conversa, alguns possíveis apoios foram sinalizados:

– Participação dos cestantes em mutirões de plantio na agrofloresta. Possibilidade de crianças da Rede também participarem e ter intercâmbio entre crianças.

– Campanha Campo e Favela apoiar transporte para a vinda do Cosme/ Coletivo Terra para os intercâmbios de quintais e Café com Política. Este mesmo transporte pode viabilizar a compra de alimentos do Coletivo Terra para a alimentação escolar e a venda de mudas para o Coletivo.

– A cozinha é fundamental. Apoio na produção de material / caderno de cozinha pedagógico, com receitas para serem usadas no trabalho com as crianças.

– Apoio para pensar a gestão de resíduos. A destinação do lixo é um grande desafio nas favelas e a Rede Ecológica tem esta expertise.

– Discussão dentro da Rede Ecológica a possibilidade de alguns cestantes se comprometerem com doações diretas para dar suporte/ajuda na alimentação das crianças da Escolinha de Agroecologia do CEM, que atualmente é de R$ 800 reais/mês e não está garantido.

– Apoiar a organização de um Grupo de Estudos envolvendo as mulheres que participam do CEM, como forma de capacitação das educadoras e incentivo para a volta aos estudos.